Andei cego em plena luz do dia no qual nasci assombrado
Isso segundo o meu pai com o consentimento da minha mãe
E é a primeira vez que ouvi falar que assombração nasce assombrada
E nasci assombrado ao estranhar os seres estranhos
Que me receberam quando cheguei do limbo
Um fantasma lindo com cara de sobrenatural a
Expelir ectoplasma por todos os furos da alma
E o suor misturado me deixa um gosto salgado na língua áspera
A falar palavras incandescentes que chegam a queimar as cordas vocais
E não chego a nenhuma encruzilhada vivo a deixar
Restos de vida pelos caminhos tortuosos que tenho que
Atravessar através do universo com o lodaçal pela cintura
A misturar com o lamaçal do espírito que perdeu a genealogia
E a genialidade
E a luminosidade do ser
E nunca mais abri os olhos devido o peso das pálpebras
E o chumbo dos cílios
E o embaraço das pestanas
E segui corcovado apoiado no cajado pelo vale da sombra
E da morte envolto na penumbra o meu vulto arquejava com a vara
E um chiado de velho chegou a tua hora
Fez-me arrepiar até os pelos das solas dos pés.
BH, 090802020; Publicado: BH, 0170602022.
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