Antes de morrer preciso chamar a atenção para alguma coisa
Pois não sou um vulcão em erupção e não sou um furacão e
Nem tempestade e nem nenhuma manifestação espetacular
Da natureza e aí preciso chamar a atenção dalgum modo e só
Encontro letras rústicas que não se usam mais e palavras
Deformadas e sem teores plenipotenciários e que não são
Retumbantes e não ressoam nos assoalhos e nem ecoam nas
Cumeeiras nem nas soleiras dos alteiros e dão a impressão
Que foram emitidas dalgum mudo ou sopradas em ouvidos
Moucos e olvidados dos surdos e volta e meia e meia volta
A ideia me volta à cabeça que antes de morrer preciso
Chamar a atenção dalguma coisa que não sei o que é e até a
Escrever isto me emperro e me empaco como um burro velho
Teimoso ou um boi tinhoso que não quer ir ao abatedouro
E é fustigado e é agulhado e mete raiva e não sai do lugar e é
Esfolado e chega a atrapalhar o fornecimento de carne
E abastecimento ao mercado faminto e sou esse boi que
Se recusa a morrer para matar a fome de esfomeados fominhas
E que só vivem para comer e a pedir sempre mais comida
E de comer e bebida e de beber e sem agradecer pela
Comida e com essa rebeldia mesmo a morrer naquele mesmo dia
Por alguns momentos esse boi chamou a atenção sobre si
E essa juventude rebelde desse boi em recusar a morrer
Para chamar a atenção é que quero antes de morrer para
Também chamar a atenção para alguma coisa do meu coração.
BH, 0170402020; Publicado:BH, 060602022.
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