Desempregado perdido a matutar à mesa de trabalho
Carregado de nuvens de luto luto para desempenar
A taramela que me fecha aqui do lado de dentro
Sem poder sair e vejo o leão velho cercado por
Todas as hienas famintas do cerrado a rilhar e a ranger
Os dentes e a rir escarnecedoramente do velho banquete
Às suas frentes me entrego às primeiras investidas
Que me rasgam a carne com fraturas expostas de ossos
Quais ossos enferrujados de ferro velho e quais carnes
Tão sucateadas de carcaças piores do que as dos depósitos
De carniças e velharias e para essas hienas são festins
E partem ossos e nervos como se fossem de manteiga
E esfolam carnes duras como se fossem de papéis
E morto aos retalhos aos pedaços levado arrastado
Para cá para lá passo impressão de vivo e de estar
Em moto-perpétuo a defender do suplício ou a fazer
Uma juntada dos nacos para me recompor dos cacos
E nervos e peles encruadas e ressequidas que as feras
Não mastigam mais e devolvem aos despojos
Por regurgitação e aos gases e aos teores liquidificados
Que escorrem pelas calçadas até ao meio-fio da rua deserta.
BH, 0170180402020; Publicado: BH, 070602022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário