hoje a janela está fechada
o portão está fechado
a porta
o portal
nada passa
para o outro lado da luz
a taramela emperrou
o ferrolho de ferro enferrujou
não se abre a cancela
não se come mais
capitão feito na mão
pela avó
com a mão dentro da gamela
menino passarinho caiu do ninho
dentro da arapuca do alçapão
não voou mais
ficou preso no visgo dos galhos
dos ramos
das folhagens
das árvores a levar
pelotadas de estilingues
não nadou no rio barrento
perdeu o carro de boi
de noite quando
voltava da mata
não era mais iluminado
pelos pirilampos
não ouvia mais histórias
de assombrações
de gameleiras assombradas
não olhava mais
o céu estrelado
se fazia de cego para a lua
de surdo para a sinfonia dos sapos
as orquestrações das corujas
as filarmonias das agonias dos seres
das madrugadas
não cantava as antigas cantigas
de rodas
de cirandas
das serenatas
para as namoradas apaixonadas
acordava todo dia antes da hora
não sonhava mais com a aurora
só ouvia a voz do vento
chora com essa palmada
chora
menino luxento.
BH, 0220702020; Publicado: BH, 0150602022.
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