que queres que faça
se jazes aí cadáver
com essa caneta defunta à mão
essa folha de caixão
à porta desse cemitério
a esperar em vão?
vil não ousei
sem audácia
só balbuciei
não tenho ousadia suficiente
para entrar em briga contigo
quero só
inspiração sem conflito
poema em negrito
poesia sem agonia
soneto que
leve esperança
ao povo do gueto
ou uma elegia
que relembre os mortos
que as polícias
já mataram nas periferias
o anjo endireitou-se
quase me deformou
sequelas por dentro deixou
incomodado com tanta aleivosia
és um aleijado por dentro
querer aparentar que
és um ser que
não és coxo
manco capenga perneta
maneta arrasta a bunda
nesse asfalto quente
esfola o cu
frita a pele
magoa a carne
sangra na matança do matadouro
arranca o couro da carranca
tuas palavras não são d'ouro
BH, 02201002021; Publicado: BH, 020902022.
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