quarta-feira, 23 de outubro de 2024

ninguém gosta do que escreves

ninguém gosta do que escreves
lógico que não não escrevo
para agradar pai joão não sou
feitor nem capitão do mato 
sou preto agricultor sou negro
trabalhador só com outros olhos
quem me vê é o senhor que quer
ser feudal medieval imperial
a prolongar para sempre o meu mal
estás sempre com as mesmas arengas
do passado a rebater os mesmos assuntos
a desenterrar ossadas esqueletos caveiras
o mundo mudou o mundo é outro modernizou
porém o homem é o mesmo senhor
se deixar quer ser inquisidor torturador se
deixar quer ser explorador a escravizar de
novo sem se envergonhar a deixar morrer
de fome a deixar morrer de sede a destruir
a natureza a exterminar a fauna a pulverizar
a flora então bastião da direita então
baluarte da burguesia então altar
das elites símbolo da hipocrisia
continuarei a escrever para ver se
um dia tenha a mesma alegria que
terei a mesma felicidade igualdade
liberdade fraternidade irmandade
continuarei a te ferir com a minha poesia
continuarei a te machucar com o meu poema
continuarei a ser o teu dilema
serei a pedra na tua chuteira
o cisco no teu olho a coceira no teu cu
que não podes coçar a pensar que
sejas um público em local público

BH, 030902024; Publicado: BH, 023001002024.

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