Sonhar um sonho é perder outro. Tristonho
Fito a ponte pesada e calma...
Cada sonho é um existir de
Outro sonho,
Ó eterna desterrada em ti própria,
Ó minha alma!
Sinto em meu corpo mais conscientemente
O rodar estremecido dos ombros. Pára?...
Com um como que intento intermitente
De o mal roda, estaca. Numa estação, clara
De realidade e gente e movimento.
Olho p'ra fora... Cesso... Estagno em mim.
Resfolgar da máquina... Carícia de vento
Pela janela que se abre... Estou desatento...
Parar... Seguir... isto é sem fim
Ó o horror da chegada! Ó horror. Ó nunca
Chegares, ó ferro em trémulo seguir!
À margem da viagem prossegue... Trunca
A realidade, passa ao lado do ir
E pelo lado interior da hora
Foge, usa a eternidade, vive...
Sobrevive ao momento e vai!
Suavemente... suavemente, mais suavemente
E demora entra na gare... Range-se... estaca... É agora!
Tudo o que fui de sonho, o eu-outro que tive
Resvala-me pela alma... Negro declive
Resvala, some-se, para sempre esvai!
E da minha consciência um Eu que não obtive
Dentro em mim de mim cai.
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