terça-feira, 12 de abril de 2011

Antônio Nobre, Saudade; BH, 0120402011.

Saudade, saudade! palavra tão triste,
E ouvi-la faz bem:
Meu caro Garrett, tu bem na sentiste,
Melhor que ninguém!

Saudades da virgem de ao pé do Mondego,
Saudades de tudo:
Ouvi-las caindo da bôca dum Cego,
Dos olhos dum Mudo!

Saudades d'Aquela que, cheia de linhas,
De agulha e dedal,
Eu vejo bordando Galeões e andorinhas
No seu enxoval.

Saudades! e canta, na Tôrre deu a hora
Da sua novena:
Olha-i dá ares de Nossa Senhora,
Quando era pequena.

Saudades, saudades! E ouvide que canta
(E sempre a bordar)
Que linda! "Quem canta seus males espanta
E eu vou-me a cantar...

Virgílio é estudante, levou-o o seu fado
A terras de frança!
Mais leve que espuma, não tenho pecado,
Que o diga a balança.

Separam-me dêle cem rios, cem pontes,
Mais isso que faz?
Atrás desses montes, ainda há outros montes,
E ainda outros, atrás!

Não tarda que volte por montes e praias,
formado que esteja;
E iremos juntinhos, ah tem-te-não-caias!
Casar-nos À Igreja.

Virgílio é um anjo, não tem um defeito,
É altinho como eu;
Os lábios com lábios, o peito com peito...
Ah, Virgílio do Céu!

O Amor, ai que enigma! consôlo no Tédio,
Estrêla do Norte!
O Amor é doença, que tem por remédio
Um beijo, ou a Morte.

Às vêzes, eu quero dizer-lhe que o amo,
Mas, vou-lhe a dizer,
Irene não fala (Irene me chamo)
E fica a tremer...

Quando ia ao postigo falar-lhe, tão cedo,
(Tu, Lua, bem viste)
Ai que olhos aquêles! metiam-me mêdo...
E sempre tão triste!

Perfil de Teresa, velado na capa,
Lá passa por mim:
Ó noite da Estrada, tardinhas da Lapa,
Choupal e Jardim!

Cabelos caídos, a cara de cêra,
Os olhos ao fundo!
E a voz de Virgílio, docinha que ela era,
Não é dêste mundo!

Saudades, saudades! Que valem as rezas,
Que serve pedir!
No altar continuam as velas acesas,
Mas êle sem vir!

Já choupos nasceram, já choupos cresceram,
Estou tão crescida!
Já choupos morreram, já outros nasceram...
Como é curta a vida!

Ó rio de amòres, que vens da Portela
Pró mar do Senhor,
Ah vê se na costa se avista uma vela,
Se vem o Vapor...

Meu Sto. Mondego, que voas e corres,
Não tenhas vagares!
Mondego dos Choupos, Mondego das Tôrres,
Mondego dos Mares!

Mas ai! o Mondego (Senhora da Graça,
Sou tão infeliz!)
Já foi e já volta, lá passa que passa,
E nada me diz..."

                                                              (Paris, 1894.)

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