quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

morri não vi pai ganhar o tal prêmio nobel de literatura

morri não vi pai ganhar o tal prêmio nobel de literatura
que tanto o velho ruminava nos seus devaneios
como o coronel que esperava cartas que ninguém
escrevia agora mesmo se quisesse não posso nem tenho
como ajudá-lo numas mensagens para que possa então
psicografá-las gostava muito de falar em comunismo
que era comunista falava em socialismo que era socialista
que era contra colonialismo imperialismo neoliberalismo
pensava que com isso ganharia algum prêmio nobel
que seja lá do que for cá comigo não levo fé porém a ideia
fixa da cabeça do bode velho ninguém removia nem
com as minhas porradas minhas bordoadas pois pai de vez
em quando merecia ainda mais quando bebia enchia a
moringa a se auto intitular de velho comunista fã
fiel de fidel chegava à casa de cara amassada nariz achatado
com todo mundo a rir do molambo falava que era queda
da bike que não apanhava na rua porém embriagado
o que percebo daqui é que me parece que não desistiu
olha que já vai para mais de setenta era tempo de
pensar numas ladainhas algo mais moderno umas preces
mais progressistas umas orações mais libertadoras
umas rezas mais rebeldes se falar de boa ideia com
pai vai logo pensar na pinga no limão no gelo açúcar
caipirinha nem perto de morrer olha que morri antes
todo mundo pensava que pai morreria primeiro
mas vim na frente ficou por lá ainda a teimar em
suas aleivosias que ninguém atura como na ditadura
a pensar todo dia no tal prêmio nobel de literatura

BH, 01001202025; Publicado: BH, 01801202025

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

já fui lá ontem não preciso ir hoje

já fui lá ontem não preciso ir hoje
visitei os amigos os garçons os cozinheiros
falei com as faxineiras os seguranças as
lavadeiras passadeiras passei um bom
bocado no meio de todos a passear pelas
repartições reparti meu coração com os
corações todo mundo ali me conhecia o velho
mundo o novo mundo sabiam que
estava ali a visitar o passado no presente
com o futuro à frente não precisas fazer
alarde a pimenta arde o sal salga o açúcar
adoça o álcool embriaga a adaga corta o
punhal fura cantei com quem sabia cantar
falei com quem sabia falar ouvi com quem
sabia ouvir pensei com quem sabia pensar
amei com quem sabia amar amanhã levanto
acampamento vou embora igual a um poeta
que foi para passárgada ser amigo do rei não
sei porém vou embora com alguém não levo
nada mas posso levar tudo igual a outro
poeta levar uma mulher comigo quem mais
precisa dalguma coisa com uma mulher
consigo? estou do lado dos poetas onde há
poetas há imortalidade eternidade posteridade
poeta é ifinitude tem uma alcunha universal um
nome sideral um sobrenome espacial um
apelido dimensional tem todos os nomes como
os astros têm pode nem ser uma boa
companhia ao simples ao simplório ao singular
ímpar por ás vezes ser instável intratável porém
é um poeta nem precisa ser mais nada quando
todos querem ser tudo ter tudo até pagar para
ser para ter alguma coisa uma fotografia uma
imagem uma estátua de barro de terra de sal
vem a água dissolvente universal dissolve tudo
dissolve até o nada num letal ponto final

BH, 01201202025; Publicado: BH, 01701202025

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

NELSON GONÇALVES:


 



lua lua lua lua que saudades de ti estou aqui

lua lua lua lua que saudades de ti estou aqui
sempre só a chorar a única coisa que aprendi
quantas vezes quis te ver não apareces para
mim grito no escuro no quarto que era teu na
cama na qual dormias quando eras meu
tomaram-te dos meus braços deixaram meus
abraços vazios nada mais tenho para abraçar
volta para enxugar minhas lágrimas me buscar
me faças parar de chorar eras quem me
compreendias nunca reclamavas de mim
fazíamos tudo juntos ouvíamos músicas
assistíamos tvs sempre estavas aqui até que
um dia acordei sem ti antes não tivesse
acordado num telefonema anônimo no meio
duma madrugada já me avisava que tinhas
partido mais partido fiquei lacerado abatido
coração ao avesso nunca mais tive o choro
contido contigo não chorava nem na dor nunca
mais tive o pranto estancado as lágrimas
enxugadas as dores enxotadas não sei onde
estás agora nem sei que horas parto à procura
de ti porém todo dia te procuro no firmamento
no horizonte no embalo do vento quero
distinguir teu rosto nas nuvens te desenhar no
azul anil celeste do céu azul para compreender
o que a tua ida na minha alma partiu pois desde
então nunca mais foi alma

BH, 01401102025; Publicado: BH, 01501202025

domingo, 14 de dezembro de 2025

OBRA-PRIMA DE ALDIR BLANC E JOÃO BOSCO, INCOMPATIBILIDADE DE GÊNIOS:

 Dotô,

jogava o Flamengo, eu queria escutar.
Chegou,
Mudou de estação, começou a cantar.
Tem mais,
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar,
Sem dó falou,
sem dó falou ,que por ela eu podia cegar.

Se eu dou,
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
Bastou,
Durante dez noites me faz jejuar
Levou,
As minhas cuecas pro bruxo rezar.
Coou,
Meu café na calça prá me segurar

Se eu tô
Devendo dinheiro e vem um me cobrar
Dotô,
A peste abre a porta e ainda manda sentar
Depois,
Se eu mudo de emprego que é prá melhorar
Vê só,
Convida a mãe dela prá ir morar lá

Dotô,
Se eu peço feijão ela deixa salgar
Calor,

Mas veste o casaco veste casaco prá me atazanar
E ontem,
Sonhando comigo mandou eu jogar
No burro,
E deu na cabeça a centena e o milhar

Ai, quero me separar

Sextina passo a passo, de Silvane Siveira Fernandes.

Como vento entre folhas da estação,

Sentimento vívido, plácido amor,

Marejados, lágrimas entre os olhos,

Sem regras, roteiro deixou no passado

Impressões que carrega por toda vida,

Vai-se-me a esperança e fica o passo.

 

Nas areias e mares sigo meu passo,

Tempo, contemplação em cada estação,

Momento, o destino unindo vidas,

No encontro, na calma daquele amor

Gestos nobres que ficaram no passado,

Lembrança do encanto de seus olhos.

 

Na manhã doce e fresca em teus olhos

Continuo sem medir, sigo e passo,

Na escuridão lembranças do passado,

Recomeços rumo à nova estação

Carregados de nostalgia e amor,

Será sentimento para toda vida?

 

Margens do rio, calmaria da vida

Cheias de encantos refletem seus olhos,

Depois da paixão que queima, vem o amor

Livre, confiante, elegante passo,

Conforta, acolhe em toda estação,

Saudade que segue seus passos, passado

 

Perguntas sem respostas se fez passado,

Flores brotam, rebrotam — jardins da vida,

No caminho que escolho, mudo o passo,

Tempo, dúvida como nova estação,

Em teus braços certeza reluz nos olhos,

Nossa união, memórias do amor!

 

Sem carinho, relação ficou sem amor,

Caminho seguiu,  tudo virou passado;

Ser triste ou feliz? … escolho o passo

Na água corrente levando a vida,

Sem sol, girassol diante de seus olhos,

Rio secou antes da nova estação.

 

No céu estrelado, passado de amor,

Na nova estação brilho em meus olhos,

Entre o céu e a terra, passo — vida.