quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

morri não vi pai ganhar o tal prêmio nobel de literatura

morri não vi pai ganhar o tal prêmio nobel de literatura
que tanto o velho ruminava nos seus devaneios
como o coronel que esperava cartas que ninguém
escrevia agora mesmo se quisesse não posso nem tenho
como ajudá-lo numas mensagens para que possa então
psicografá-las gostava muito de falar em comunismo
que era comunista falava em socialismo que era socialista
que era contra colonialismo imperialismo neoliberalismo
pensava que com isso ganharia algum prêmio nobel
que seja lá do que for cá comigo não levo fé porém a ideia
fixa da cabeça do bode velho ninguém removia nem
com as minhas porradas minhas bordoadas pois pai de vez
em quando merecia ainda mais quando bebia enchia a
moringa a se auto intitular de velho comunista fã
fiel de fidel chegava à casa de cara amassada nariz achatado
com todo mundo a rir do molambo falava que era queda
da bike que não apanhava na rua porém embriagado
o que percebo daqui é que me parece que não desistiu
olha que já vai para mais de setenta era tempo de
pensar numas ladainhas algo mais moderno umas preces
mais progressistas umas orações mais libertadoras
umas rezas mais rebeldes se falar de boa ideia com
pai vai logo pensar na pinga no limão no gelo açúcar
caipirinha nem perto de morrer olha que morri antes
todo mundo pensava que pai morreria primeiro
mas vim na frente ficou por lá ainda a teimar em
suas aleivosias que ninguém atura como na ditadura
a pensar todo dia no tal prêmio nobel de literatura

BH, 01001202025; Publicado: BH, 01801202025

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

já fui lá ontem não preciso ir hoje

já fui lá ontem não preciso ir hoje
visitei os amigos os garçons os cozinheiros
falei com as faxineiras os seguranças as
lavadeiras passadeiras passei um bom
bocado no meio de todos a passear pelas
repartições reparti meu coração com os
corações todo mundo ali me conhecia o velho
mundo o novo mundo sabiam que
estava ali a visitar o passado no presente
com o futuro à frente não precisas fazer
alarde a pimenta arde o sal salga o açúcar
adoça o álcool embriaga a adaga corta o
punhal fura cantei com quem sabia cantar
falei com quem sabia falar ouvi com quem
sabia ouvir pensei com quem sabia pensar
amei com quem sabia amar amanhã levanto
acampamento vou embora igual a um poeta
que foi para passárgada ser amigo do rei não
sei porém vou embora com alguém não levo
nada mas posso levar tudo igual a outro
poeta levar uma mulher comigo quem mais
precisa dalguma coisa com uma mulher
consigo? estou do lado dos poetas onde há
poetas há imortalidade eternidade posteridade
poeta é ifinitude tem uma alcunha universal um
nome sideral um sobrenome espacial um
apelido dimensional tem todos os nomes como
os astros têm pode nem ser uma boa
companhia ao simples ao simplório ao singular
ímpar por ás vezes ser instável intratável porém
é um poeta nem precisa ser mais nada quando
todos querem ser tudo ter tudo até pagar para
ser para ter alguma coisa uma fotografia uma
imagem uma estátua de barro de terra de sal
vem a água dissolvente universal dissolve tudo
dissolve até o nada num letal ponto final

BH, 01201202025; Publicado: BH, 01701202025

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

NELSON GONÇALVES:


 



lua lua lua lua que saudades de ti estou aqui

lua lua lua lua que saudades de ti estou aqui
sempre só a chorar a única coisa que aprendi
quantas vezes quis te ver não apareces para
mim grito no escuro no quarto que era teu na
cama na qual dormias quando eras meu
tomaram-te dos meus braços deixaram meus
abraços vazios nada mais tenho para abraçar
volta para enxugar minhas lágrimas me buscar
me faças parar de chorar eras quem me
compreendias nunca reclamavas de mim
fazíamos tudo juntos ouvíamos músicas
assistíamos tvs sempre estavas aqui até que
um dia acordei sem ti antes não tivesse
acordado num telefonema anônimo no meio
duma madrugada já me avisava que tinhas
partido mais partido fiquei lacerado abatido
coração ao avesso nunca mais tive o choro
contido contigo não chorava nem na dor nunca
mais tive o pranto estancado as lágrimas
enxugadas as dores enxotadas não sei onde
estás agora nem sei que horas parto à procura
de ti porém todo dia te procuro no firmamento
no horizonte no embalo do vento quero
distinguir teu rosto nas nuvens te desenhar no
azul anil celeste do céu azul para compreender
o que a tua ida na minha alma partiu pois desde
então nunca mais foi alma

BH, 01401102025; Publicado: BH, 01501202025

domingo, 14 de dezembro de 2025

OBRA-PRIMA DE ALDIR BLANC E JOÃO BOSCO, INCOMPATIBILIDADE DE GÊNIOS:

 Dotô,

jogava o Flamengo, eu queria escutar.
Chegou,
Mudou de estação, começou a cantar.
Tem mais,
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar,
Sem dó falou,
sem dó falou ,que por ela eu podia cegar.

Se eu dou,
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
Bastou,
Durante dez noites me faz jejuar
Levou,
As minhas cuecas pro bruxo rezar.
Coou,
Meu café na calça prá me segurar

Se eu tô
Devendo dinheiro e vem um me cobrar
Dotô,
A peste abre a porta e ainda manda sentar
Depois,
Se eu mudo de emprego que é prá melhorar
Vê só,
Convida a mãe dela prá ir morar lá

Dotô,
Se eu peço feijão ela deixa salgar
Calor,

Mas veste o casaco veste casaco prá me atazanar
E ontem,
Sonhando comigo mandou eu jogar
No burro,
E deu na cabeça a centena e o milhar

Ai, quero me separar

Sextina passo a passo, de Silvane Siveira Fernandes.

Como vento entre folhas da estação,

Sentimento vívido, plácido amor,

Marejados, lágrimas entre os olhos,

Sem regras, roteiro deixou no passado

Impressões que carrega por toda vida,

Vai-se-me a esperança e fica o passo.

 

Nas areias e mares sigo meu passo,

Tempo, contemplação em cada estação,

Momento, o destino unindo vidas,

No encontro, na calma daquele amor

Gestos nobres que ficaram no passado,

Lembrança do encanto de seus olhos.

 

Na manhã doce e fresca em teus olhos

Continuo sem medir, sigo e passo,

Na escuridão lembranças do passado,

Recomeços rumo à nova estação

Carregados de nostalgia e amor,

Será sentimento para toda vida?

 

Margens do rio, calmaria da vida

Cheias de encantos refletem seus olhos,

Depois da paixão que queima, vem o amor

Livre, confiante, elegante passo,

Conforta, acolhe em toda estação,

Saudade que segue seus passos, passado

 

Perguntas sem respostas se fez passado,

Flores brotam, rebrotam — jardins da vida,

No caminho que escolho, mudo o passo,

Tempo, dúvida como nova estação,

Em teus braços certeza reluz nos olhos,

Nossa união, memórias do amor!

 

Sem carinho, relação ficou sem amor,

Caminho seguiu,  tudo virou passado;

Ser triste ou feliz? … escolho o passo

Na água corrente levando a vida,

Sem sol, girassol diante de seus olhos,

Rio secou antes da nova estação.

 

No céu estrelado, passado de amor,

Na nova estação brilho em meus olhos,

Entre o céu e a terra, passo — vida.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

DIVAGAÇÕES, LLEWELLYN MEDINA:

 Divagações 


A vida é curta

e a certeza de nossa finitude 

mas há tanta vida nela

a manhã de sol entrada 

tenuemente pela fresta da janela

o espreguiçar da alvorada 

a bocejar  em dó menor


lá fora tanta coisa (não)acontece 

tanta coisa bela

o besouro contra a vidraça 

o besouro contra a janela 


a noite na Austrália 

lembra Ismalia 

Ismalia não é boa lembrança

melhor lembrar Amélia 


e ainda não cumprimentei o sol

mas a cabeça já está tão cheia 

("o que você tem nessa cabeça irmão")

amenidades platitudes 

disciplinada sucessão 

escovar os dentes 

fazer a barba 

bateria de remédios pra antecipar a vida

(ou a certeza de nossa finitude)


cumprimento o sol

numa sucessão inexorável 

banho frio pra'cordar os sentidos 

banho quente pra'dormecer os sentimentos

lembrança pra expulsar o esquecimento 

o dia vai no rabo da manhã 


na América expulsaram os imigrantes 

(crise em Governador Valadares)

"Paris é uma festa"

minha terrinha também

todos correm pra Paris 

"A torre Eifel alastrada de antenas como um caranguejo" 

fogem de minha terra

(também fugi)

perdida nas dobras dessa misteriosa Minas


a manhã escorre mansamente 

(espero que seja possível a manhã escorrer)

a lembrança foge ariscamente 

o dia segue "impávido colosso"

vou a contragosto 


é custoso lembrar 

(relembrar sangra)

contar as estrelas 

fugiam de meus turvos olhos 


luta titânica entre lembrança e esquecimento 


pensou nos amores vencidos 

esqueceu-se deles todos 

entranhados nas dobras de sua lembrança 

depois tem a primeira declinação 

o começo rosa rosae 

o final a tabuada de nove 


o dia vai a galope 

a rapidez de Hermes

tanta contradição no dia

pagar contas um tormento

senha pra guardar 

abracadabra esquecimento 


o sol a cento e oitenta graus 

 a notícia de que Israel quer transformar 

Gaza num belo e bem verde campo de golfe

não me conformo

Josué cercou e tomou Jericó 

mas Jericó fica na Arábia 

"o lugar que não existe"

deve ser o fundamento pra tomar Gaza  

Gaza existe em meu solidário coração 


o dia escorre celeremente 

talvez possa dizer

o dia "vai fondo"

como se diz em meu estranho país Minas Gerais 

lá nos arredores de Patos de Minas 

e seja o que Deus quiser 


a tarde vem morna e desafiadora 

seu espírito precisa flanar 

lembrar das coisas esquecidas 

a cor dos olhos de seu amor de juventude 

(e que Machado apelidou a todas de Capitu

e aquele russo que a Revolução expulsou 

chama de LO-LI-TA)


a vida pode ser complicada 

e você nem percebe 

a tarde chega fininha 

 o cantar dos passarinhos 

na gaiola da vizinha

varanda silencia


na Austrália "brother"

é manhãzinha 

pensamentos vem de lá pra cá 

perdem-se seus pensamentos

pensamentos vão amanhã 

a vida continua nela mesma

(aliás a vida simplesmente continua)


assim as coisas são 

difícil é reconhecer a natureza delas.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

meu coração é um jardim suspenso da babilônia

meu coração é um jardim suspenso da babilônia
um colosso de rodhes um gigante de maratona
um crânio fossilizado de luzia com todas as
informações civilizatórias um teseu tesudo que
matou o minotauro um perseu espelhado que
matou a medusa que deixava tudo empedrado
meu coração é o conjunto de todas as obras as
maravilhas das eras dos mundos da ilíada da
odisseia dos lusíadas da mitologia grego
romana de andrômeda dos deuses do olimpo
dos clássicos do erudito do gregoriano é um
atlas é um talos um guerreiro espartano com
meu coração não me engano diáfano donde o
mal foi obliterado o sol inalterado a luz não
turva nas curvas as flores são colhidas frescas
envoltas em papéis de buquês de noivas nos
altares das plataformas elevadas dos patamares

BH, 0901202025; Publicado: BH, 0901202025

LUIZ GONZAGA, TBO:


 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

abduzido em coma induzido alcoólico anônimo

abduzido em coma induzido alcoólico anônimo
em coma alcoólico esquecido com amnésia de
memória simplória lembrança sem bonança
criança sem esperança órfão sem adoção
beberrão sem vinho vou morrer nas praias
depois de atravessar os oceanos pacífico
atlântico índico ártico antártico vou morrer nas
areias dos desertos de atacama neguev saara
lobo solitário da estepe a uivar para a lua coiot
sedento sem sangue para beber abutre
peregrino faminto sem carne para comer não
passo em teste de sobrevivência urubu-rei sem
reinado sem súditos sem cetro sem coroa sem
castelo perdi a majestade saci-pererê acabei de
perder a única perna mula sem cabeça deixei a
cabeça fincada na estaca na beira da estrada o
corpo no tronco do pelourinho vou morrer
menino ainda sem destino pisarei em brasas
vivas lavas de vulcões cinzas das gargantas dos
infernos dos terços dos quartos dos quintos
encontrei dante encontrei beatriz o poeta virgílio
o cego tirésias édipo homero borges todos os
cegos sinceros bati às portas que queres?
quero ver enxergar como vós perdi a visão
gritas filho dos cãos no caos tendes piedade de
mim só o ciclope me atendeu polífemo me
perguntou quem és? volvi ninguém cego ǰá sou
quero enxergar igual à montanha desabou um
bloco de pedra me esmagou fui lançado de
volta ao mar a voz do vigia ecoou morto ao mar
morto à vista não foi nenhum peixe vivo que o vomitou

BH, 02801102025; Publicado: BH, 0801102025

A HISTÓRIA DUM FILHO DA PUTA DURÃO, CHARLES BUKOWSKI:

os mortos vêm correndo de lado segurando anúncios de pasta de dente, 

os mortos ficam bêbados na véspera

de Ano Novo

satisfeitos no Natal 

gratos no Dia de Ação de Graças

entediados no 4 de Julho 

vadiando no Dia do Trabalho

confusos na Páscoa 

sombrios em enterros 

fazendo palhaçadas em hospitais 

nervosos no nascimento; 

os mortos compram meias e calções

e cintos e tapetes e vasos e mesinhas de centro, os mortos dançam com os mortos 

os mortos dormem com os mortos 

os mortos comem com os mortos.

os mortos ficam famintos contemplando cabeças de porcos. 

os mortos ficam ricos. 

os mortos ficam mais mortos. 

esses filhos da puta. 

este cemitério acima do solo. 

Uma lápide para a bagunça, eu digo: humanidade, você entendeu tudo

errado desde o começo.


Charles Bukowski.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

se chegar à tua casa na sala cair morto

se chegar à tua casa na sala cair morto
fazes da mnha pele um tapete oriental persa
turco da minha cabeça troféu coloca na parede
das tripas do sangue chouriço morcela do
coração conserva em vidro com formol dos
ossos patuás o osso sacro no santo graal com
vinho de boa qualidade os olhos mortos
enterres aos pés duma gameleira os miúdos
sarapatel sururu buchada de bode preto
sarrabulho caruru xinxim ai de mim dobradinha
à moda do porto não me sirvas fria é sacrilégio
profanação heresia não se come dobrada fria
nem pessoa nem de noite nem de dia se sobrar
alguma coisa útil do fútil inútil alma ser espírito
recomendas às vivendas das ciganas os bruxos
quilombos dos pretos aos cais dos negros às
tribos tabas ocas aldeias dos índios pajés às
fumaças dos xamãs não digas a ninguém que
amaste-me o universo já sabe que amei-te

BH, 0501202025; Publicado: BH, 0501202025

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

penso que quem é extrema-direita ou direta

penso que quem é extrema-direita ou direta
que para mim é a mesma coisa só é assim por
pura inconsciência ou por não querer ser
consciente nem aceitar a consciência pois optar
por livre arbítrio ser armamentista lutar contra a
educação a ciência a cultura as artes os artistas
os estudantes até contra as universidadesas
faculdades só pode ser por totais faltas de
faculdades mentais espirituais racionais
intelectuais nada mais explica a opção do ser
humano pela extrema-direita imperialista
capitalista neoliberal colonialista antidemocracia
não há nada que demova o extremista do
assédio dos pastores fundamentalistas
conservadores das igrejas neooentecostais tudo
isso causa um mal sem precedente à civilização
a política fascista do deus pátria família incluem
nazismo racismo militarismo sectarismo
xenofobismo ódio perseguições aos imigrantes
aos campos de refugiados flagelados guetos
extermínios genocídio a manada em disparada
destrói tudo por onde passa vida acordos do
meio ambiente povos originários tradicionais
quilombolas nações indígenas floras faunas
o que puder pensar que tem relações com o
comunismo socialismo a extrema-direita joga
na fornalha da inquisicção

BH, 0180902025; Publicado: BH, 0401202025

METALLICA, GHC:


 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

RORY GALLAGHER:


 


BAD COMPANY:


 

clima de velório no mundo sem ode à alegria

clima de velório no mundo sem ode à alegria
yankees atrasados atrás duma boa guerra a
saciar instintos sádicos desejos mórbidos
gaza palestina vegeta paliativamente sem lar
pão água áfrica resiste triste democracias
desertos naturezas mortas humanidade
desertou de si extermina a raça humana
preda o ser humano implode cidadania
desaba soberania princípios dignidade quem
vota elege carrascos algozes verdugos
seifadores de direitos impositores de deveres
criadores de esquadrões da morte que
eliminam o estado criam ausências cancelam
presenças com o reinado da letal
extrema-direita que não  tem vínculo com
nenhum compromisso humano político
educacional social finge de religiosa banca
teocracias igrejas bancos outras ilusões que
mantêm o povo sedado inerte em letargia
sem responder a nenhum estímulo de
rebeldia liberdade independência revolução
quem tenta algum tipo de voo livre é
sumariamente ignorado isolado deixado de
lado os meios de comunicação mídias fazem
o trabalho sujo no papel de entreter o povo
em casa forjam opiniões espalham notícias
falsas reportagens tendenciosas
sensacionalistas manipulam assassinam
reputações todo um serviço bem feito para
a eternização da extrema-direita nas falsas
democracias mundo fora

BH, 0301202025; Publicado: BH, 0301202025

RAIZA FIGUEIREDO:

contemplativa

pelo direito à pausa

e não fazer nada, no correr das horas
são tantos estímulos
mensagens, demandas e notificações
na sociedade da pressa

a filosofia escreve sobre o cansaço contemporâneo
e freud, se estivesse vivo
falaria da aceleração, como mal estar da civilização
que aumenta a frequência cardíaca
e o fluxo dos pensamentos
tensiona os músculos
e adoece as vísceras

[mas a pausa está em tudo
nos ensina a professora natureza
na noite, no inverno
nas sementes e nos animais que hibernam]
descansar é revolucionário.

um corpo feminino

experimenta muitas formas, linhas, curvas
e marcas no correr dos anos
o ganho dos kg na balança
e a oscilação
ora para mais, ora menos
os hormônios e o tempo passando nas células
em cada parte
os músculos da face, tronco e membros
desenham infinitas possibilidades de expressão
sorriso mostrando os dentes ou de boca fechada
ambos de orelha a orelha
o olhar que muda no jeito de rir
e os olhos ficam mais apertados ou maiores
em cada parte do corpo
há muitos caminhos a serem conhecidos
no correr dos anos
um mergulho dentro de ti

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

sozinho na melhor companhia dum homem a solidão

sozinho na melhor companhia dum homem a solidão
principalmente ao homem que não cresceu não voou
que tem ainda no chão fincados os pés os paus as
varas os cajados as raízes pois em qualquer adejo
mais ou menos raso já sente falta da terra frio na
barriga vestígios tonturas falta de vontade para voar
retorna do topo toupeira não traz uma ideia dos altos
do absoluto do firmamento supremo do universo
indissolúvel do infinito indizível não traz um ideal de
luz continua atrás detrás atrasado então opta pela
solidão se é um bem ou um mal não saberemos
se é mau ou bom também não saberemos só teremos
o contraste a antítese o contraponto o antagonismo
o deixaremos sozinho em suas reflexões vazias
reminiscências póstumas confabulações contraditórias
tem as suas depauperações nuas suas imprecauções
cruas amanhã levantará da tumba o mesmo como se
viesse duma catacumba frango de macumba não saudará
o sol nem a lua não saldará as dívidas nem abalará as
dúvidas nas suas incertezas de indiferente fenecerá
de pedra inconsciência inabalável pensamento
de reto discernimento de pensador de intestino
tomara que no primeiro ventinho do ventilador
não tome uma inesperada constipação terminal

BH, 01401102025; Publicado: BH, 0201202025

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

notivago madrugada adentro

notivago madrugada adentro
à procura dum poema vagabundo
ou duma poesia puta para
fazer menina pura santa nem
olhei direito a sede era tanta
a fome mais ainda que nem
percebi o trejeito da travesti
com defeito dei um jeito
não consertei o aleijão me
disse que se chamava joão
de noite joana d'arc deu no
que deu conde d'eu marcelo
d 2 leonardo da vinci segui
em madrugada empurrado
pela aragem embriagado pela
brisa que me alisa a cara
queimada de cachaça de etanol
de metanol ou meta no beco
sem saída atrás vem a polícia
joga fora o flagrante porém levou
um forjado não tinha nenhum
safanão pescoção cara no chão
não consigo respirar patrão amanheceu
no rabecão depois na mesa
do iml a esperar a inspeção
indivíduo indigente meliante
mendigo andarilho notivago
das madrugadas infinitas resgatador
de raparigas jogadas fora pelo uso
do tempo atestado de óbito
assinado em branco causa mortis vil
enterrado num lixão duma zona
de baixo meretrício da região

BH, 01101102025; Publicado: BH, 01⁰01202025 

ROD STEWART:


 

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

pela primeira vez na vida acordei olhei para os céus

pela primeira vez na vida acordei olhei para os céus
vi as nuvens vi os pássaros a voar senti a brisa
senti o vento senti o ar tudo isso pela primeira
vez na vida sinto vejo as árvores enquanto não são
destruídas para dar lugar às coisas modernas da vida
pego a terra com a mão é minha mãe vim do seu bojo
do seu útero do seu íntimo pego o chão com a mão é
meu pai vim do seu peito pela primeira vez na vida
tenho conhecimentos dessas coisas sinto que revivi
que amo que sou cresci pela primeira vez na vida
nasci vejo o universo naquela gota d'água na pétala
da flor enxergo respiro meus sentidos estão aguçados
ouço o que não ouvia antes escuto pela primeira
vez na vida a voz das coisa o canto dos passarinhos
a cachoeira o rio a rir riacho arroio fluir regato
córrego correr entre as florezinhas pela primeira
vez na vida sinto que não estou a sonhar não estou a
ter pesadelos estou acordado sinto meu coração
bater acelerado descompassado não estou mais doente
estou curado sarado sanado tenho uma alavanca
tenho um ponto de apoio posso mover o universo
mesmo disperso com essa equação dispersa posso parar
o sistema intergalático pela primeira vez na vida

BH, 01001102025; Publicado: BH, 02801102025

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

DR, JOHN, GUMBO:


 

minas gerais com a doença eczema não é para surpreender

minas gerais com a doença eczema não é para surpreender
em nada pois o que sai da cabeça do mineiro hoje nem o
queijo minas serve mais imagina o que  sai do voto desde
o tempo do aético neves com o anastazia o ronaldo não
tenho culpa votei no aético escrito na camiseta à nikole
chupetinha com sua peruca cor de rosa na
câmara
dos deputados foi-se o tempo que minas rendia
bons frutos
agora que virou definitivamente curral da
extrema-direita
com seus componentes omissos analfabetos políticos
apolíticos o resultado são esses abomináveis
vis excrementos
citados mais engler eros biondini entre outros párias
que povoam a câmara de vereadores com os parasitas
da assembleia legislativa de minas gerais então não vejo
saída progressista não vejo campo à esquerda com as
ajudas do pior pig do país o pig mineiro partido da imprensa
golpista de minas das igrejas neopentecostais seus
pastores picaretas espertos minas gerais não é terreno
fértil ao melhor progressismo ao modernismo só o
conservadorismo impera pois a juventude mineira
não é rebelde genial independente
revolucionária
muito pelo contrário tem muito medo de revolução
de comunismo de socialismo de trabalhismo
confunde
o pensamento as ideias os ideais o raciocínio
com
comportamentos atrasados provincianos
que
demorarão libertar minas dessas correntes sombrias
que entravam a saúde a educação a cultura a política
modernas corajosas sem medo de ser feliz de verdade mesmo
com a libertas quae sera tamem porém com esperança

BH, 0200802025; Publicado: BH, 02701102025

terça-feira, 25 de novembro de 2025

que pensamentos bonitos pensam os passarinhos

que pensamentos bonitos pensam os passarinhos
pensam tão bonitos que muitos quando tentam falar cantam
trinam regorjeiam assobiam solfejam canções
melodias
hinos de louvores salmos de amores orações de meditações
sensoriais que músicas maviosas melodiosas
os passarinhos
trazem aos ninhos aos meus ouvidos moucos olvidos
parecem risos de crianças imitam vozes de meninas
moças falas de raparigas queixas de gueixas cantos de
mucamas fru-frus de saias de aias parecem poesias
pueris poemas infantis os passarinhos a sorrir a
agradecer
ao sol à chuva às flores à toda natureza viva os notívagos
à lua com sentimentos com sentidos com discernimentos
os passarinhos têm argumentos dão graças ao criador pela
manhã cantam ações de graças de graça não cobram nada
espantam as nossas desgraças fazem as estações
outono verão inverno primara de vivaldi artificiais
desenham nos céus voos de acrobacias enfeitam o
firmamento de fantasias colorem o azul com outras
tonalidades de cores os passarinhos ficam nas memórias
nas lembranças nas recordações nas nostalgias sábios
sabiás operários joões de barro bem-te-vis que bem que
os vi meninos marias-pretas coleiros canários colibris
rouxinois olhai aqui por nós a invejar-vos aves-do-paraíso
galos de campinas pavões gaviões urubus-reis águias
harpias quem dirieis que um dia salvaríeis os poemas
os sonetos as poesias os poetas sobreviventes do caos

BH, 01201102025; Publicado: BH, 02501102025

ITAMAR ASSUMPÇÃO, PRESENTE:


 



segunda-feira, 24 de novembro de 2025

alguma coisa precisa acontecer no meu coração

alguma coisa precisa acontecer no meu coração
ou comigo bandido banido da ação o chato é que não
acontece nada no meu coração ou comigo bandido
fugido sem nenhum fato nenhum boato nada só
fardo
cansaço só coisas velhas antiquadas de quem não
é sóbrio coisas ultrapassadas malas velhas nada de
novo um samba um amor um beijo ou um
desejo
frio preciso contar uma novidade uma mentira ou uma
verdade pois ainda não nasceu um que fale a verdade
então não serei o primeiro nem serei o último quem
diz que fala a verdade já começa a mentir antes de abrir
a boca entra mosca mosquito então me calarei para
sempre morrerei de boca fechada ou me cabe inventar
uma história de brio de herói? pois alguma coisa nunca
acontecerá no meu coração a não ser minhas doenças
de praxe prediletas as ascultas selvagens que faço das
vidas alheias dos moradores acorrentados das minhas
cavernas os urros das diástoles os uivos das sístoles
os movimentos dos organismos os choques dos elementos
das matérias porém se um dia sonhar quero sonhar que
alguma coisa precisa acontecer no meu coração ou
comigo um estalo de vida um reflexo de luz um lapso de
razão uma descarga elétrica que me traga de novo da morte
ou me reanime não me deixe estendido eternamente no infinito

BH, 01301102025; Publicado: BH, 02401102025

JIMMY CLIFF:


 

domingo, 23 de novembro de 2025

a democracia chega ao fim quando a humanidade

a democracia chega ao fim quando a humanidade
perde a humildade permite por tanto tempo o bloqueio
econômico a cuba o genocídio em gaza palestina
as matanças na áfrica o retorno da extrema-direita ao
poder ou quando aceita as guerras impostas
pelo
imperialismo a escravidão do capitalismo o
racismo
os campos de flagelados a ascensão do fascismo
os campos de refugiados a volta do nazismo os campos
de concentração são realmente os porquês que a democracia
chegou ao fim não teremos mais saída da globalização
do neoliberalismo quem tem dinheiro tem tudo
justiça
saúde educação quem não tem dinheiro não tem nada
nem vida nem onde cair morto a infelicidade da constatação
é que o povo vota justamente nos que são contra
a democracia são contra a inclusão social quando
elege os que são os enganadores da nação os falsos
messias das igrejas os maus militares as
instituições
ruralistas agropecuárias o crime organizado
tudo que
priva o povo da verdade da história da informação
porém às vezes o próprio povo faz questão do cabresto
do freio na boca das rédeas das esporas da sela antolhos
palas tapa olhos ferraduras rabichos no cu aí abomina
cultura as artes as belas-artes quando vêm os
desastres
é um deus nos acuda só cadê as árvores cadê os indígenas
os quilombolas os povos originários os povos tradicionais
aí vem a lama dos dejetos vêm os furacões os vendavais
os temporais dos desequilííbrios climáticos
então
adeus à democracia até nunca mais pia a ave de agouro

BH. 01701102025; Publicado: BH, 02301102025

sábado, 22 de novembro de 2025

és o anticristo? não sou o anti religião o anti igreja

és o anticristo? não sou o anti religião o anti igreja
o anti estado teocrático o anticristianismo sou o
estado
laico louco quando morreres não vais para o céu sou
nefelibata já estou no céu no firmamento no azul gentil
no azul celeste no azul anil teus presságios ao meu respeito
não me interessam sou mensageiro do universo faço parte
das estrelas galáxias constelações vi andrômeda
face a face vi sol de primeira grandeza cara a cara fui
ao bojo de nascedouros de sistemas interestelares
penso que a humanidade pensadora que pensava que
pensava não pensa mais se só vivesse na religião
o homem nunca tiraria o pé do chão ou sairia
das cavernas
ou desceria das árvores muita gente pagou com a fogueira da
inquisição por ter ousado pensar fora da religião a audácia
levou ao esquartejamento em vida de quem contestava
por liberdade atualmente a civilização corre grande risco
de voltar à barbárie com a imposição da religião o fim da
democracia a longevidade do capitalismo a abominação
da justiça a esperança será que quando acordarmos
não seja tarde demais ou pagaremos por nosso descaso
por nosso descuido por nossa falta de importância
com as coisas realmente necessárias à nossa preservação
a religião não nos preserva só preserva o estado o capital
o sistema bruto o status quo o stablisment o domínio
das elites os controles da burguesia na ação até de
quem deve viver vive quem deve morrer morre

BH, 01701102025; Publicado: BH, 02201102025

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

BILLIE HOLIDAY, GH:


 

é uma pena a religião necessária mais do que a educação

é uma pena a religião necessária mais do que a educação
é uma pena a constatação de que quem ler a bíblia não
precisa de universidade faculdade diplomação
na mão é
uma pena a informação de que as vacinas não
salvam
vidas não têm eficácias nem imunizações são coisas são
aberrações ditas por governadores senadores deputados
vereadores eleitos pelo povo que querem exterminar
são bizarrices ditas por médicos que o povo procura
para se consultar qual a razão para tantas bisonhices?
qual a razão para tanta falta de noção? contra o aquecimento
global contra os desequilíbrios climáticos extermínios
das florestas das faunas das floras do meio ambiente
contaminação com mercúrio nas bacias hidrográficas
matanças dos povos das florestas é uma pena todas essas
coisas defendidas por pessoas cristãs de famíias de
bem em nome de deus que defendem armas justiça com
as próprias mãos fim de todos os tipos de direitos
humanos sociais trabalhistas pois são coisas de esquerdistas
comunistas socialistas ateus até pedem a volta
da ditadura
militar assassina sanguinária seus sequestradores 
torturadores sádicos é uma pena o que o povo escolhe
para seu futuro ou o povo não quer o futuro ou o povo só
quer o futuro das elites da burguesia com os fins da
democracia da cidadania da soberania da dignidade
humana pois a humanidade é só uma pena de quem 
parece que não pode não quer ser chamado de humano

BH, 01701102025; Publicado: BH, 02101102025

terça-feira, 18 de novembro de 2025

JARDS MACALÉ:


 



não suporto nem compartilho nem curto estilos

não suporto nem compartilho nem curto estilos
performances de pensamentos rotos de rostos
milionários faces remasterizadas caras largas
plastificadas beiços botoxicados semblantes
sombrios mumificados cérebros lobotomizados
organismos ostomizados aspectos espectros
com reflexos de falsas luzes cruzes fantasmas
modernos robôs de última geração bombados
com asteroides superproteínas vitaminas
sintéticas outras químicas que modificam os
físicos de mulheres frutas homens javalis
hipopótamus lagartos répteis mamíferos
bovinos suínos primatas mastodontes mamutes
elefantes camelos dromedários gorilas ogros
esboços de academias fitness não  congrego
mais esses rais boçais seres superficiais não é
inveja não é vaidade não é despeito é que não
levo jeito de conviver com quem não sabe viver
ou onde não tenho nada a ensinar ou aprender
com quem não sabe amar com quem não sabe
ter paz dar perdão chamar de irmão de amigo a
estender a mão só apologia à violência só
pregar a injustiça tecer loas aos campos de
prisioneiros de israhell que amam aos campos
de refugiados odeiam a palestina seus campos
de flagelados querem o fim de gaza querem
campos de concentração extermínios querem
genocídios tecem loas aos usa que bloqueiam
economias emergentes invadem países
destróem nações perseguem imigrantes
deportam pretos pobres hispânicos africanos
não defendem um mundo livre compartilhado
só constróem muros abrem guetos favelas
prisões presídios casas de detenções igrejas
bancos hospícios fecham escolas faculdades
universidades bibliotecas queimam livros
censuram pensamentos argumentos lucidez de
dicernimentos adeus fauna flora natureza meio
ambiente adeus águas oceanos mares rios
adeus lagos lagoas aves seus ninhos seus pios

BH, 01⁰0702025; Publicado: BH, 01801102025

domingo, 16 de novembro de 2025

O MELHOR DE GILBERTO GIL:


 

ROBERT DESNOS, (O DORME ACORDADO), CONTO DE FADA:

Era não se quanta vez
Um homem que amava uma mulher
Era não sei quanta vez
Uma mulher que amava um homem
Era não sei quanta vez
Uma mulher e um homem
Que não amavam aquele e aquela que os amavam

Era uma vez somente
Somente uma vez quem sabe
Um homem e uma mulher que se amavam

(CLÁUDIO VEIGA, ANTOLOGIA DA POESIA FRANCESA, DO SÉCULO IX AO SÉCULOXX)

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

GUILLAUME APOLINAIRE, A PONTE MIRABEAU:

A Ponte Mirabeau
Na ponte Mirabeau desliza o Sena
E os nossos amores
Hão de voltar
Recordo
Após a pena a alegria vem
Vem a noite soa a hora
Os dias vão-se eu fico
Mãos dadas fiquemos face a face
Enquanto por baixo
Da ponte dos nossos braços passa
Um olhar eterno de ondas lassas
Vem a noite soa a hora
Os dias vão-se eu fico
O amor vai-se tal qual a água corrente
O amor vai-se
Tal qual a vida é lenta
E a Esperança é violenta
Vem a noite soa a hora
Os dias vão-se eu fico
Passam os dias e passam as semanas
Nem o tempo passado
Nem os amores de outrora
Voltam mais
Na ponte Mirabeau fica o silêncio
Vem a noite soa a hora
Os dias vão-se eu fico.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

será feliz a república com a separação dos maus

será feliz a república com a separação dos maus
os maus estão na extrema-direita o povo republicano
trabalhador brasileiro não percebe ou finge não perceber
que os maus só querem a conspiração contra a nação para
isso aproveitam a falta de consciência com a inconsciência
burlam as leis aliam-se ao crime organizado aos nefários
a república corre perigo com tentativas mais tentativas
de golpes ações terroristas fascistas nazistas racistas
o país não merece o que a extrema-direita faz com o
país a ponto de mandar políticos nefastos a outro país
pedir intervenção militarista ação ataque imperialistas
é uma vergonha um crime de lesa-pátria uma traição
todo poder ao povo republicano trabalhador brasileiro
todo respeito ao povo republicano proletário brasileiro
todo respeito ao povo da nação republicana brasileira 
não podemos permitir que inconstitucionalissimamente nem
constitucionalissimamente destruam nossa república
catilinas tireis vossas mãos sujas da nossa sagrada nação

BH, 01101102025; Publicado: BH, 01101102025