Eu te dou esta flor que apanhei na colina.
No fragoso alcantil que sobre o mar se inclina
E que as águias somente acometem sem medo,
Ela crescia em paz, nas fendas do rochedo.
Ganhava a escuridão a triste penedia;
Como se eleva, onde houve uma grande porfia,
Vermelho e reluzente, um arco triunfal,
Vi, ao longe, onde o sol apagou seu fanal,
Um nevoeiro portal surgiu na noite escura.
Velejam batéis na longíqua planura.
Luzindo, um casario, oculto num desvão,
Parece que temia espalhar seu clarão.
Esta flor que apanhei, eu te dou, ó meu bem.
Sem brilho sua cor, nenhum perfume tem.
Bebeu sua raiz, no altíssimo terraço,
Apenas o amargor e o cheiro do sargaço;
E eu disse: "Pobre flor, nascida junto ao céu,
"Teu fim era cair neste enorme escarcéu,
"Onde as algas, a bruma e as barcas lá se vão.
"Morrerás noutro abismo, o amado coração.
"Fenece neste seio em que palpita um mundo.
"O céu te destinou ao pélago profundo.
"Para as ondas te fez, ao meu amor te dou."
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