Sigo caturro com a minha pedra caturra
Tosca rotunda obtusa
Mãe da minha completa opacidade
Mãe da minha falta de conexão
Estrutura articulação
Mãe da minha perdição
Que me machuca os pés
A me lança ao chão
Com um violento tropeção
Donde mesmo guindaste de cais de porto
Não consegue me levantar mais
É o peso da consciência do remorso
O peso do arrependimento da emoção
Da falta da paz definitiva que estrutura o coração
Quero um dia quando puder
Livrar-me da agonia desta pedra casmurra
Da angústia que me causa
A deixar como resultado uma saída
Uma porta de emergência ou válvula de escape
Para as pessoas ou seres que por ventura
Tenham nas próprias almas ou espíritos
A mesma pedra que fecha eternamente
A entrada ou a saída do sepulcro
No peito casmurro cravados os espinhos
Tirados da coroa de Jesus Cristo
Quero deixar como sentido razão noção
O dia da minha soltura
O dia da minha libertação
De atingir o orgasmo da liberdade de verdade
Atingir o gozo do prazer da realidade
A driblar realmente com sucesso
O medo a covardia como um craque
Dribla com a bola os adversários
Num campo de futebol
Tenho uma pedra dentro de mim
Não é no fígado não é nos rins
É uma pedra assim de tão ruim
De pior qualidade de brilho fosco
Que aperta dói sufoca
A tirar o fôlego até dos vermes
Que se alimentam dos meus restos
A tirar até o brilho do amarelo
Dos pus dos bichos dos meus despojos
É só por isto que quero morrer
É só por isto que chamo pela clemência da morte
Porque já estou morto incinerado
Já estou morto desconectado
A morte não quer quem está morto
A morte não gosta de morto desplugado
A morte não gosta de quem não existe
Não tem valor nem para as moscas
Que evitam as minhas chagas as minhas feridas
A morte não quer quem não sabe
Valorizá-la na hora fatal
Só poderia de verdade vencer
Se obtivesse o contexto de saber
Usar usufruir da inteligência
Se por ventura fosse registrada
Alguma em mim enquanto é tempo
Porém, inteligência não herdei
Inteligência não tenho
Para deixar de legado de herança
Aos meus descendentes semelhantes
Primatas contemporâneos
Tenho que me contentar
Só com o que tenho o que sou
Nada só esta pedra atravessada
Na garganta na goela no gogó
No pomo-de-adão do pescoço enlaçado
Por corda de nó cego górdio onde se encontra
Ainda retidos na ânsia de engolir
Restos de comidas dos festins demoníacos
Das sobras das almas expulsas do paraíso
Vômitos dos vermes que deram congestão
Dos banquetes negros terminais
De inúmeros seres de hospitais
Pavilhões de esperas infernais
Acorrentados em lápides escuras frias
Ao ter um prato de comida fora
Do alcance da boca da fome
Não não precisas acender a luz
Minhas retinas já foram arrancadas
Meus olhos já foram furados a luz
Já não faz nenhum efeito para mim
A luz já não me é mais necessária
Removas só um pouco esta pedra
Deixas entrar um pouco mais de ar
Depois puxas pedra definitivamente
Só esse segundo de ar me é suficiente
Para me lembrar um pouco da vida
Para deixar escrito aqui
Confesso que vivi um segundo
Na negridão que carrego
Confesso que existi um segundo
O restante foi todo calcinante
Foi todo carregado no peso dos ombros com a
Pedra o lamaçal nos quais me sepultei (2)
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