domingo, 2 de junho de 2013

O que queira tragar o conjunto; BH, 070102000; Publicado: BH, 020602013.

O que queira tragar o conjunto
Do comportamento somático natural
Do ectoplasma materializado em forma
De símbolo sólido mental
Não nos deixar perder a memória
Não nos deixar cair no esquecimento
Asilo de corpos velhos de anciãos
Asilo de restos de pessoas inúteis
Que mais nos faz lembrar
Campos de extermínios de concentração de
Flagelados refugiados sem pátrias
Para acabar meus dias assim
Quero ser enterrado vivo
Melhor do que padecer morto
Em cima de cama de repouso
A rezar para santos invisíveis
Espíritos terríveis deuses ausentes
Que nunca nos ouvem
Nem nunca nos atendem
Só aumentam nossas dores
Nossas doenças desesperos
A cegar-nos aos nossos erros
A levar-nos às situações extremas
Desequilíbrios fisiológicos
Delirium tremens ainda fora do caixão
Expostos sem a extrema unção
O Te Deum da salvação
A matemática que não aprendemos
Que odiamos abominamos
Nem sabemos onde usamos
A física a química
A história que esquecemos
A geografia que não visitamos
Tudo mais que tentam
Nos entupir goela adentro
Como se fossemos gansos
Ao final não renascemos das cinzas
Mesmo que a promessa seja feita
Não nos reabilitaremos perante o tempo
Enquanto estiver do nosso lado
Tudo é festa para nós
Alegria contentamento
Orgulho ambição
Soberba altivez
Depois que o tempo passar
A gente ficar na escada
É só soltar a voz a chorar a
Prantear a lamentar
A pedir a Deus para nos levar
Que de teimoso não nos leva
Nos deixa a apodrecer em carne viva
Se faz indiferente às lamentações
Aos prantos das reclamações
Nos alimentamos com a mesma
Angústia da rejeição que outrora
Legamos aos nossos contemporâneos
Nos alimentamos com as mesmas mágoas
As eternas claras mentiras
As infinitas obscuras falsidades
As palavras já nos são desconhecidas
As letras já nos são trêmulas
As frases ilegíveis de sombrias
Não há mais a orgulhosa inteligência
Não há mais a invejada sabedoria
A criatividade da inspiração
O conjunto de resposta da solução
Ruiu o castelo de cartas de baralho
Ruiu o ídolo de areia
O iconoclasta que arrastava
A própria imagem na poeira
Partiu-se o telhado de vidro
Desabou-se o teto de madeira
Roído por cupins outros bichos
Só nós não percebemos o que queremos (2)

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