terça-feira, 6 de novembro de 2018

Não vou mais sair de casa vou virar um bibelô; NL, 0260302010; Publicado: BH, 0190502010.

Não vou mais sair de casa vou virar um bibelô
Ou um criado-mudo ou um abajur um quadro 
Na parede um sapato velho num canto um
Livro cheio de traças na estante mas de 
Casa não saio mais nem perto da porta
Quero chegar quero ficar bem escondido lá 
No fundo do corredor uma sacola com
Retalhos uma trouxa de roupas usadas
Em qualquer coisa vou me virar
Tudo para não ir mais à rua é
O pânico é o medo a depressão
Pois nesta idade ninguém tem razão
Para que atrapalhar a sociedade
Com meus passos trôpegos de bêbado
Pela cidade o melhor é ficar encostado
Uma vassoura no muro do quintal
Um rodo no banheiro ou um pegador
No varal quero viver em cárcere
Privado pode ser na privada se
Não tiver lugar para mim sem
Rádio sem televisão sem telefone
Ou qualquer tipo de comunicação
Engoli minha língua para deixar
De falar furei os ouvidos para
Deixar de escutar enxergar
Já não enxergo basta agora
Deixar de pensar do que restar
De vida virar esse pé de taioba
Se as formigas deixarem pois o
Pé de almeirão roxo já o
Devoraram para não deixar nada
Que lembrasse um pé de almeirão
O lixo do chão que não foi varrido
O pó que não foi espanado não
Sairei mais de casa estarei aqui
Dentro em todo lado

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