quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Medíocre; RJ, 0290401996; Publicado: BH, 0220202012.

Medíocre
Não sei porque
Precisamos provar
Aquilo que somos
Não sei porque
Precisamos de afirmação
Medíocre
Criador de coisas médias
Não cria genialidade
Não cria obra-prima
Não cria sucesso
Nem alcança a fama
Não sei porque
Ficamos sempre preocupados
Com a opinião alheia
A nosso respeito
Somos o que somos
Criamos o que geramos
Criamos o que criamos
Não temos dons
Nem nascemos dotados
De super mentalidades
Memórias iluminadas
Cérebros privilegiados
Pensamos o que pensamos
Pensamos que pensamos
Com o raciocínio que temos
Graças s Deus
No mais é a lei
É o limite
É a nossa tentativa de provar
Que não somos medíocres
Somos mais
Medíocres iludidos

Vou parar por aqui; RJ, 270601996; Publicado: BH, 0220202012.

Vou parar por aqui
Talvez hoje seja a última vez
Talvez este seja o último poema
A última poesia
A última ode
A última elegia
Não tentarei mais
Assassinar a natureza,
Com tanta mediocridade
Vou deixar para lá
Para outra geração além
Não tentarei mais
Não implorarei mais
Por inspiração
É muita loucura
Muita falta de sentido
Ninguém aguenta mais
Tanta repetição
Nada é novo debaixo da terra
Aqui tudo se cria
Tudo se perde
Não há transformação
É a mesma continuidade
A mesma falta de evolução
Já estou desesperado
Nem tenho mais coragem
De sair por aí
A pedir alguém para fazer
Alguma coisa por mim
A ajudar-me na poesia
Mesmo que seja ruim

Hoje estou sozinho; RJ, 090701990; Publicado: BH, 0220202012.

Hoje estou sozinho
Sempre estarei sozinho
Não quero ninguém comigo
Não quero companhia
Quero estar sempre só
Só comigo mesmo
Em minha companhia
Para poder me livrar
De tudo que me prende
Nesta vida artificial
De face superficial
Tão vazia quanto minha mão
Tão seca quanto meu coração
Hoje estou sozinho
Hoje amanhã depois
De dia de noite
Estarei só
Não te esperarei
Como esperei eternamente
Não perderei esta oportunidade
De deixar de sofrer
Vou ficar de costas
Para o mundo todo
Do que quer que seja
Até à última hora
A derradeira hora de vida
Não estarei presente
Em lugar algum
Não estarei nem em mim mesmo
Nem mesmo saberei
Onde estarei
Pois hoje estou sozinho
Sozinho abandonado
Um morto largado
À mercê dos urubus
Um morto cru
Indiferente à própria sorte
Sem destino
Sem sepultura

José Saramago, Passo num gesto que eu sei; BH, 0220202012.

Passo num gesto que eu sei 
Deste mundo agoniado para o espaço 
Onde sou quanto serei 
No tempo que sobra escasso
No outro mundo sou rei 
E o meu rosto de cristal e puro aço 
É o espelho que forjei 
Com suor pena e cansaço
E se o mundo que deixei 
Tem as marcas desenhadas do meu passo 
São baralhas que enredei 
São teias e vidro baço
Tantas provas cá terei 
Tantas vezes do pescoço solto o laço 
Se me sagraram em rei 
Aceitem a lei que eu faço
Vem a ser que o homem novo 
Está na verdade que movo

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Roberto Ribeiro, de Monarco e Paulo da Portela, Quitandeiro; BH, 0210202012



Quitandeiro, leva cheiro e tomate
Na casa do Chocolate
Que hoje vai ter macarrão
Prepara a barriga macacada
Que a bóia ta infezada
E o pagode fica bom
Chega só trinta litros de 'uca'
Pra fechar a butuca
Desses nego beberrão
Chocolate, tu avisa pra crioula
Que carregue na cebola
E no queijo parmesão
Quitandeiro, leva cheiro e tomate
Na casa do Chocolate
Que hoje vai ter macarrão
Prepara a barriga macacada
Que a bóia ta infezada
E o pagode fica bom
Chega só trinta litros de 'uca'
Pra fechar a butuca
Desses nego beberrão
Chocolate, tu avisa pra criola
Que carregue na cebola
E no queijo parmesão
E não se esqueça de avisar
Pra nega Estela
Que o pessoal da favela
Vai dançar partido alto
Vai ter pagode até o dia amanhecer
E os versos de improviso
Serão em homenagem a você

Roberto Ribeiro, Triste desventura; BH, 0210202012.




Saibam todos vocês o amor que eu tinha por ela acabou
Acabou friamente pois cinicamente ela me enganou
E enganou por maldade sem ter piedade
A quem lhe nutria grande adoração
Isso não passa de ingratidão
Se amanhã reclamar da sorte
Pedir a Deus a morte, ou coisa assim
Não sei o que vocês irão falar de mim
Irão chamar-me de covarde e até de cruel
Mas tenho a consciência que desempenhei o meu papel
Desde o carinho até o afeto nada lhe faltou
Não sei porque razão ela me enganou
Deixando-me tristonho nessa amargura
À beira da loucura implorando ao Criador
Para livrar-me dessa triste desventura
Que me causou a traição desse amor

Quero a pasta encefálica; RJ, 0110801993; Publicado: BH, 0210202012.

Quero a pasta encefálica
Para passar no pão de paralelepípedo
Como se fosse patê
Quero esmigalhar a mente
Debulhar o cérebro como se fosse milho
Fazer pipoca na esquina da rua
Quero esmiuçar a cabeça
Para desvendar o abismo
Que é esta imensidão
Em cima do pescoço
É necessário saber
Qual hemisfério usar
Usar os dois hemisférios
Ou usar um só
Cobrar de porta em porta
De cada célula composta
Uma ação de movimento
Sem deixar entrar vento
Para não causar colapso
Vibrar até atingir o diapasão
Raptar os ecos mentais
Na linha da transformação
Na linguagem telepática
A neurolinguística genética
Cansar cada neurônio
Na maratona infinita
Do pensamento paralelo
Se vivesse todos os anos-luz
Não atingiria nem uma parte
Mesmo se usar a velocidade da luz
Não chegaria nem à metade
O percurso é a eternidade
Longo imaginário
O outro lado de saída
Dum buraco negro