sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Limpinho e Cheiroso, Foda-se a pseudopoética pequeno burguesa!

Soldadinho_Trensalao01
André Lux, via Tudo em Cima
Sinceramente, eu fico pasmo de ver gente inteligente e com acesso a tudo que há de bom e melhor no mundo ainda acreditando nessa farsa chamada “mensalão”.
Qualquer pessoa minimamente bem informada sabe que isso aí não passou de um caso de caixa 2 e de compra de apoio dos partidos de aluguel, sem qualquer desvio de dinheiro público.
Sim, todos fazem isso no Brasil. Todos. Sabem por quê? Porque se não fizer isso não ganha eleição. Simples assim.
Aí vão dizer: “Ah, mas o PT sempre pregou a ética na política, então não poderia ter feito isso”. Pois eu digo: “Foda-se a pseudoética pequeno-burguesa! Imoral pra mim é ver crianças morrendo de fome ou pedindo dinheiro em semáforos. É ver gente morando em favelas bebendo água de esgoto.
O PT, graças ao Zé Dirceu (por isso ódio mortal que a direita tem dele), entrou no jogo para ganhar e fez o que deveria ser feitopara eleger Lula. O resto é história: os governos Lula e Dilma tiraram 35 milhões de brasileiros da miséria! Nem vou citar todas as outras coisas boas que vieram com o PT no poder, senão vou ter de encher essa página até o fim.
Enquanto o PT se deixava prender pela pseudoética pequeno burguesa, estilo que a gente vê nos patéticos do PSOL e PSTU, não ganhava a presidência e a direita deitava e rolava enquanto ria da “ingenuidade” dos petistas.
Por isso repito em alto e bom som para quem quiser ouvir: foda-se a pseudoética pequeno burguesa, dessa gente que faz bravatas contra a corrupção, mas vive sonegando impostos, subornando policiais, comprando DVDs piratas, explorando trabalho semiescravo, baixando música de forma ilegal pela internet, tratando a esposa como a “santa do lar” enquanto realiza suas fantasias com amantes em puteiros e saunas gay…
Essa gente que acha que “pobre é tudo vagabundo”, que“preto é tudo ladrão”, que “bandido bom é bandido morto”,que é “contra o aborto” mas acha que governo não tem de dar “bolsa esmola pra vagabundo” (mesmo sabendo que o Bolsa Família reduziu a mortalidade infantil no Brasil em 17%), que dizem “para os amigos tudo, para os inimigos a lei”e outras coisas impublicáveis, mas que todos nós já os ouvimos dizer em alto e bom som.
E digo mais: fodam-se todos hipócritas e falsos moralistas de plantão que vivem praticando atos corruptos no dia a dia enquanto posam de vestais da ética! E tenho dito.
E mando mais um recado aos hipócritas de plantão: quem realmente quer acabar (ou pelo menos diminuir consideravelmente) com a corrupção na política tem que necessariamente apoiar uma reforma política que acabe com o financiamento privado de campanhas, que é a porta de entrada da corrupção em um sistema feito pela e para a corrupção.
Caso contrário, é apenas bravata sem consequência, como foram os protestos dos coxinhas.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Charles Bukowsk, Os 10 melhores poemas, Revista Bula.

Charles Bukowski

Pedimos aos leitores, colaboradores, seguidores do Twitter e Facebook — escritores, jornalistas, publicitários, professores — que apontassem os poemas mais significativos de Charles Bukowski. Cada participante poderia indicar até cinco poemas. Poeta, contista e romancista Henry Charles Bukowski Jr. é considerado o último escritor maldito da literatura norte-americana. Nasceu na Alemanha, mas se mudou para os Estados Unidos aos 3 anos. Bukowski começou a escrever poesias aos 15 anos mas seu primeiro livro foi publicado somente 20 anos depois, em 1955.
Dotado de um humor ferino e comparado a Henry Miller e Ernest Hemingway, sua obra é marcadamente autobiográfica. O estilo obsceno e coloquial e uma aparente forma descuidada com a escrita com temas recorrentes como: prostitutas, alcoolismo, corridas de cavalos, experiências escatológicas, sempre dividiu a crítica. Para alguns apenas um resquício da geração beat de Jack Kerouac e Allen Ginsberg, para outros — como o filósofo francês Jean-Paul Sartre —, o maior poeta da América.
Eis a lista baseada no número de citações obtidas. Os poemas selecionados foram publicados nos livros “Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski, editora Bertrand Brasil; “O Amor é um Cão dos Diabos” e “Textos Autobiográficos”, L&Pm Editores; e “Sifting Through the Madness for the Word, the Line, the Way: New Poems”. Por motivo de direitos autorais, foram publicados apenas trechos dos poemas.


o pássaro azul

(Tradução: Pedro Gonzaga)
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
(…) há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você ?


então queres ser um escritor?

(Tradução: Manuel A. Domingos)
se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.


quatro e meia da manhã

(Tradução: Jorge Wanderley)
os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre
quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro
e dirão:
“ele tá bêbado de novo”,
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo
e
como algo esfaqueado e
cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.


poema nos meus 43 anos

(Tradução: Jorge Wanderley)
terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida—
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter um quarto.
…de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores , médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi…
e você se vira
para o lado pra pegar o sol
nas costas e não
direto nos olhos.


uma palavrinha sobre os fazedores de poemas rápidos e modernos

(Tradução: Jorge Wanderley)
é muito fácil parecer moderno
enquanto se é o maior idiota jamais nascido;
eu sei; eu joguei fora um material horrível
mas não tão horrível como o que leio nas revistas;
eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais
que não me deixará fingir que sou
uma coisa que não sou —
o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa
na poesia
e o fracasso de uma pessoa
na vida.
e quando você falha na poesia
você erra a vida,
e quando você falha na vida
você nunca nasceu
não importa o nome que sua mãe lhe deu.
as arquibancadas estão cheias de mortos
aclamando um vencedor
esperando um número que os carregue de volta
para a vida,
mas não é tão fácil assim—
tal como no poema
se você está morto
você podia também ser enterrado
e jogar fora a máquina de escrever
e parar de se enganar com
poemas cavalos mulheres a vida:
você está entulhando a saída — portanto saia logo
e desista das
poucas preciosas
páginas.


outra cama

(Tradução: Pedro Gonzaga)
outra cama
outra mulher
mais cortinas
outro banheiro
outra cozinha
outros olhos
outro cabelo
outros
pés e dedos.
todos à procura.
a busca eterna.
você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você se pergunta o que aconteceu
à última
e à outra antes dela…
é tudo tão confortável —
esse fazer amor
esse dormir juntos
a suave delicadeza…
após ela sair você se levanta e usa
o banheiro dela,
é tudo tão intimidante e estranho.
você retorna para a cama e
dorme mais uma hora.
quando você vai embora é com tristeza
mas você a verá novamente
quer funcione, quer não.
você dirige até a praia e fica sentado
em seu carro. é meio-dia.
— outra cama, outras orelhas, outros
brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
vestidos
cores, portas, números de telefone.
você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.
para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais
sensato.
você dá a partida no carro e engata a primeira,
pensando, vou telefonar para janie logo que chegar,
não a vejo desde sexta-feira.


um poema de amor

(Tradução: Jorge Wanderley)
todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem.
suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.
principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.
há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.
sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.
mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.
sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.
algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.
todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.
essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.

já morreu

(Tradução: Pedro Gonzaga)
sempre quis transar com
henry miller, ela disse,
mas quando cheguei lá
era tarde demais.
diabos, eu disse, vocês
sempre chegam tarde demais, garotas.
hoje já me masturbei
duas vezes.
não era esse o problema dele,
ela disse. a propósito
como você consegue bater
tantas?
é o espaço, eu digo,
todo o espaço entre
os poemas e os contos, é
intolerável.
você deveria esperar, ela disse,
você é impaciente.
o que você pensa de céline?
perguntei.
queria transar com ele também.
já morreu, eu disse.
já morreu, ela disse.
importa-se de ouvir uma
musiquinha? perguntei.
pode ser legal, ela disse.
dei-lhe ives.
era tudo que me restava
naquela noite.


Encurralado

(Tradução: Pedro Gonzaga)
bem, eles diziam que tudo terminaria
assim: velho. o talento perdido. tateando às cegas em busca
da palavra
ouvindo os passos
na escuridão, volto-me
para olhar atrás de mim…
ainda não, velho cão…
logo em breve.
agora
eles se sentam falando sobre
mim: “sim, acontece, ele já
era… é
triste…”
“ele nunca teve muito, não é
mesmo?”
“bem, não, mas agora…”
agora
eles celebram minha derrocada
em tavernas que há muito já não
frequento.
agora
bebo sozinho
junto a essa máquina que mal
funciona
enquanto as sombras assumem
formas
combato retirando-me
lentamente
agora
minha antiga promessa
definha
definha
agora
acendendo novos cigarros
servido mais
bebidas
tem sido um belo
combate
ainda
é.


confissão

(Tradução: Jorge Wanderley)
esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
hank!
e hank não vai responder
não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto
eu quero que ela
saiba
que dormir todas as noites
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas
e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.

Farofafá faz uma provocação:

Farofafá faz uma provocação ao maluco que inventou que não gosta do canto da sabiá. Quem é que não gosta de… forró? Rock’m'roll? MPB? Pop? Soul? Axé? Soul? Samba? Música caipira? Música?… Vida?…
1. Luiz Gonzaga, “Sabiá” (1959) – Esta é a segunda gravação do “a todo mundo eu dou psiu!” pelo pai pernambucano da matéria (a primeira foi em 1951).
2. Los Pirata, “Blackbird” (2006) – A banda paulistana canta o pássaro preto dos Beatles em pique de barulheira. Seria um sabiá negro o passarinho beatle que canta na morte da noite?
3. Carmélia Alves, “Sabiá Lá na Gaiola” (1956) – A rainha carioca do baião canta o dramalhão em 47 segundos: “Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho/ voou, voou, voou, voou/ e a menina que gostava tanto do bichinho/ chorou, chorou, chorou”.
4. Nara Leão, “Sabiá Laranjeira/ Andorinha Preta” (1975) – Dois passarinhos em um, no disco de cantigas infantis da capixaba-carioca Nara, Meu Primeiro Amor.
5. Quinteto Violado, “Assum Preto” (1974) – outro dos pássaros de Luiz Gonzaga, um blackbird, de 1950, em versão pós-tropicalista do quinteto pernambucano.
6. Gal Costa, “Acauã” (1970) – revolucionários de Luiz Gonzaga: a acauã feminina da verdadeira baiana Gal.
7. Luiz Gonzaga, “Acauã” (1952) – a versão original, pelo dono da voz.
8. Cynara e Cybele, “Sabiá” (1958) – os cariocas Tom Jobim Chico Buarque prenunciam os tempos de exílio que o AI-5 inauguraria em 13 de dezembro (dia do aniversário de Luiz Gonzaga) – e a sabiá, interpretada por metade do baiano Quarteto em Cy, derrota as flores do paraibano Geraldo Vandré no festival da canção.
9. MPB 4, “Passaredo” (1975) – todos os pássaros do Brasil na canção de Chico Buarque e Francis Hime que nesta versão do quinteto fluminense viraria clássico do Sítio do Picapau Amarelo, em 1977.
10. Erasmo Carlos, “Panorama Ecológico” (1978) – em fase notadamente buarquiana, o carioca Erasmo amplia o passaredo – e fala também dos peixes, e das flores de Vandré.
11. Ednardo, “Pavão Mysteriozo” (1974) – um pássaro de maior monta, o pavão. Mysteriozo. E cearense.
12. Jackson do Pandeiro, “O Canto da Ema” (1957) – outro passarão paraibano, daqueles que “quando canta vem trazendo no seu canto um bocado de azar”.
13. Geraldo Azevedo, “Arraial dos Tucanos” (1979) – MPB pernambucana e eles!, os tucanos! /o\
14. Jackson do Pandeiro, “Meu Passarinho Fugiu” (1970) – bem ao gosto do forró, a tensão entre liberdade e aprisionamento – e mais um bocadinho de malícia.
15. Clara Nunes, “Sabiá” (1971) – a sabiá de Luiz Gonzaga, em versão fulgurante de pássara mineira Clara.
16. Dominguinhos, “O Canto de Acauã” (1976) – a música-e-poesia mansa da parceria pernambucana Dominguinhos-Anastácia.
17. Anastácia, “Corvo Preto” (1981) – lirismo e melodia, mesmo devotados a um pássaro de prestígio maldito.
18. Belchior, “Velha Roupa Colorida” (1976) – Blackbird, pássaro preto, assum preto, Ceará – juntos.
19. Elis Regina, “A Corujinha” (1980) – passarinheza emburrada e urbana pela gaúcha Elis, em versos do carioca Vinicius de Moraes - para crianças.
20. Gal Costa, “Passarinho  (1973) – Gal trinando lá da galha do arvoredo.
21. Gilberto Gil, “Sítio do Picapau Amarelo” (1977)  - ele, o pica-pau baiano – e por que não?
22. Marinês e Sua Gente, “Pica-Pau” (1966) – a genial forrozeira pernambucana Marinês e o pica-pau – onde ele mora?, no oco do pau!
23. Ney Matogrosso, “Gaivota” (1976) – também composta por Gil, o pássaro marítimo, dramático, matogrossense.
24. Wilson Simonal, “Sabiá Laranja” (1974) – engaiolado, Simonal canta o sabiá-laranjeira carioca.
25. Os Tincoãs, “Sabiá Roxa” (1973) – de Cachoeira, na Bahia, a sabiá mais afrobrasileira de todas as sabiás.
26. Alcione, “Sabiá Marrom” (1979) – sabiá marrom maranhense, mas pode chamar de Alcione.
27. Alceu Valença, “Borboleta/Sabiá” (1976) – mais uma vez o sabiá de Gonzagão, desta vez metamorfoseado em borboleta pernambucana.
28. Fagner Nana Caymmi, “Penas do Tiê” (1998) – Fagner refaz, com Nana, o dueto que o lançou em 1973, com Nara – e as penas do tiê, em conexão Ceará-Minas Gerais.
29. Dona Ivone Lara, “Tiê” (1979) – tiê, o passarinho que desprezou o coração carioca de dona Ivone.
30. Nara Leão, “Cuitelinho” (1974) – o beija-flor, na mais pungente das interpretações.
31. Timbalada, “Beija-Flor” (1993) - Carlinhos Brown & cia. levam o passaredo ao carnaval baiano.
32. Moraes Moreira, “Pombo-Correio (Double Morse)” (1976) – mais carnaval baiano (e pernambucano), com aquele que é o leva-e-traz dos passarinhos.
33. Angela Maria, “Cu-cu-rru-cu-cu Paloma” (1965) – a pomba talvez seja o patinho feio dos passarinhos, mas não no coração fluminense de Angela.
34. Cauby Peixoto, “Ci-Ciu-Ci, Canção do Rouxinol” (1956) – nada discreto, Cauby faz o rouxinol fluminense.
35. Cascatinha & Inhana, “La Paloma” (1951) – a pomba paraguaia, caipira, paulista do interior, na mais plangente das interpretações.
36. Inezita Barroso, “Chitãozinho e Chororó” (1972) – a passarinheira paulistana Inezita apresenta e prenuncia Chitãozinho & Xororó: passarinhos paranaenses.
37. Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano, “Uirapuru” (1962) – “a mata inteira fica muda” ao canto do “sertesteiro cantador do meu sertão” – de onde são esses passarinhos pretos?
38. Carmen Miranda, “O Tico-Tico no Fubá” (1945) – …comendo todo o fubá da mais carioca das portuguesas norte-americanas.
39. Rita Lee & Tutti-Frutti, “Com a Boca no Mundo (Tico-Tico)” (1976) – virado à paulista, o tico-tico de Carmen bota a boca no mumdo 30 anos depois.
40. Elza Soares, “Cacatua” (1985) – um pássaro espalhafatoso para a carioca Elza: a calopsita.
41. Elba Ramalho, “O Peru” (1981) – a pernambucana Elba apresenta, do relicário infantil de Vinicius de Moraes, o peru que pensava que era tuc…, digo, pavão.
42. Cátia de França, “Coito das Araras”"(1979) – um canto paraibano adulto, e sexy, de papagaios e araras.
43. Cazuza, “Codinome Beija-Flor” (1985) – outro canto sexy, do colibri carioca Cazuza.
44. Renato Terra, “Bem-Te-Vi” (1981) – e o bem-te-vi carioca “voa livre por entre os jasmins/ e pousa no meu coração”.
45. Trio Mossoró, “Carcará” (1965) – o pássaro nordestino agressivo do maranhense João do Vale, que celebrizou a voz de trovão da baiana Maria Bethânia, aqui na versão original pelo trio potiguar.
46. Sivuca, “Fogo-Pagô” (1978) – o sertão, a seca, o drama, a Paraíba, o Sivuca…
47. Tetê Espíndola Alzira Espíndola, “Ciriema” (1998) – o canto triste da ciriema de Mato Grosso (do Sul), parte do lindo disco de temas caipiras das irmãs Espíndola.
48. Banda de Pau e Corda, “Pássaro da Multidão” (1979) – “canta, sabiá/ ajuda a gente despertar”, Pernambuco trinando para o mundo.
49. Tim Maia, “Canário do Reino” (1972) – forró soul carioca e canto livre dos sem-dinheiro.
50. Raíces de América, “Pássaro Cativo” (1981) – o pássaro panamericano, aprisionado e pungente.
51. Caetano Veloso, “Pássaro Proibido” (1976) – o disco é de Maria Bethânia, e a voz é do mano baiano Caetano – e o pássaro é proibido.
52. Beth Carvalho, “Passarinho” (1978) – “quero viver como um passarinho/ cantar, voar sem direção”, cantou a carioca Beth, “por enquanto eu quero viver com toda liberdade”.
53. Clementina de Jesus, “Na Linha do Mar” (1973) – “galo cantou às 4 da manhã/ céu azulou na linha do mar”, num samba duplocarioca de Paulinho da Viola, “vou-me embora deste mundo de ilusão”, a promessa de morte “in the dead of night”.
54. Martinho da Vila, “Gaiolas Abertas” (1982) – o passarinho rural fluminense nos chama: “Voa, pra ser livre valem os riscos/ voa, foge lá pros altos picos”…
55. Secos & Molhados, “Voo” (1974) – liberdade para os pássaros e para as pessoas, pela banda paulista-portuguesa-matogrossense-etc. de Ney Matogrosso & cia.
56. Os Borges, “Voa, Bicho” (1980) – a família mineira dos Borges (Márcio, e mais), querida de Elis, em canção que a filha Maria Rita retomaria décadas depois: “Voa, andorinha!”.
57. Milton Nascimento Maria Rita, “Voa, Bicho” (2002) – a sabiá paulistana canta na selva de pedra, apadrinhada pelo carioca mais mineiro do Brasil.
57. Milton Nascimento Beto Guedes, “Norwegian Wood (This Bird Has Flown)” (1975) – Milton, o passarinho-em-pessoa, em mais uma pulsão de prisão-e-liberdade de John Lennon Paul McCartney, conexão Liverpool-Minas Gerais.
58. Quinteto Violado, “Asa Branca” (1972) – a origem de todos os passarinhos musicais brasileiros, de 1947, na versão monumental que emocionou o coautor Luiz Gonzaga duas décadas e meia mais tarde.
59. Baiano & Os Novos Caetanos, “Entardecer na Fazenda” (1975) – os cearenses Chico AnysioArnaud Rodrigues, o entardecer na fazenda e o canto que as moças e os moços da cidade grande não podem (não podem?) ter.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ignorar dói? gostaria de saber de verdade, BH, 0160902013; Publicado: BH, 0160902013;

Ignorar dói? gostaria de saber de verdade
Se ignorar, dói? pois se tantas pessoas
Ignoram seus semelhantes primatas
Símios tantas pessoas são indiferentes
Desprezam humilham será que não dói?
Em mim dói sou igual ao Saramago não
Tenho um coração de ferro o meu também
É de carne sangra todo dia penso que seja
Muito feliz quem tem um coração de ferro
Que não sente dor alguma não chora nunca
Não olha no fundo dalgum olhar penso que
Seja muito feliz mesmo quem não honra ao
Próximo é um poço de ingratidão inda
Acredito que deve repousar a cabeça no
Travesseiro toda noite dormir em paz igual
A uma criança creio que não guarda nenhum
Remorso ou ressentimento ou mesmo
Arrependimento como que invejo essas
Pessoas duras de pedras estoicas não pedem
Leite não pedem água mel nada na boca
Guardam o gosto de fel invejo essas pessoas
Que me fazem querer ser assim um igual
Porém sou todo dolorido cachorro vira-latas
Que acabou de levar sova do dono com
Cabo de vassoura jururu como um
Falso malandro que acabou de levar
Um sapeca ai ai ai da polícia numa
Delegacia numa tortura digo-vos
Como dói ser ignorado de verdade

domingo, 15 de setembro de 2013

Bula Revista, Paulo Leminski:

Paulo Leminski

15 melhores poemas de Paulo Leminski

Pedimos a 15 convidados — escritores, críticos, jornalistas — que escolhessem os poemas mais significativos de Paulo Leminski. Cada participante poderia indicar entre um e 15 poemas. Escritor, crítico literário e tradutor, Paulo Leminski foi um dos mais expressivos poetas de sua geração. Influenciado pelos dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos deixou uma obra vasta que, passados 25 anos de sua morte, continua exercendo forte influência nas novas gerações de poetas brasileiros. Seu livro “Metamorfose” foi o ganhador do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995. Entre suas traduções estão obras de James Joyce, John Fante, Samuel Beckett e Yukio Mishima. Na música teve poemas gravados por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Guilherme Arantes; e parcerias com Itamar Assumpção, José Miguel Wisnik e Wally Salomão.
Paulo Leminski morreu no dia 7 de junho de 1989, em consequência de uma cirrose hepática que o acompanhou por vários anos. Os poemas citados pelos participantes convidados fazem parte do livro “Melhores Poemas de Paulo Leminski”, organização de Fred Góes, editora Global. Abaixo, a lista baseada no número de citações obtidas.

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Dor elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

O que quer dizer

O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.

M. de memória

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.

Parada cardíaca

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Aviso aos náufragos

Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?

Amar você é
coisa de minutos…

Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui

Poesia:

“words set to music” (Dante
via Pound), “uma viagem ao
desconhecido” (Maiakóvski), “cernes
e medulas” (Ezra Pound), “a fala do
infalável” (Goethe), “linguagem
voltada para a sua própria
materialidade” (Jakobson),
“permanente hesitação entre som e
sentido” (Paul Valery), “fundação do
ser mediante a palavra” (Heidegger),
“a religião original da humanidade”
(Novalis), “as melhores palavras na
melhor ordem” (Coleridge), “emoção
relembrada na tranquilidade”
(Wordsworth), “ciência e paixão”
(Alfred de Vigny), “se faz com
palavras, não com ideias” (Mallarmé),
“música que se faz com ideias”
(Ricardo Reis/Fernando Pessoa), “um
fingimento deveras” (Fernando
Pessoa), “criticismo of life” (Mathew
Arnold), “palavra-coisa” (Sartre),
“linguagem em estado de pureza
selvagem” (Octavio Paz), “poetry is to
inspire” (Bob Dylan), “design de
linguagem” (Décio Pignatari), “lo
impossible hecho possible” (Garcia
Lorca), “aquilo que se perde na
tradução (Robert Frost), “a liberdade
da minha linguagem” (Paulo Leminski)…

Adminimistério

Quando o mistério chegar,
já vai me encontrar dormindo,
metade dando pro sábado,
outra metade, domingo.
Não haja som nem silêncio,
quando o mistério aumentar.
Silêncio é coisa sem senso,
não cesso de observar.
Mistério, algo que, penso,
mais tempo, menos lugar.
Quando o mistério voltar,
meu sono esteja tão solto,
nem haja susto no mundo
que possa me sustentar.
Meia-noite, livro aberto.
Mariposas e mosquitos
pousam no texto incerto.
Seria o branco da folha,
luz que parece objeto?
Quem sabe o cheiro do preto,
que cai ali como um resto?
Ou seria que os insetos
descobriram parentesco
com as letras do alfabeto?

Sintonia para pressa e presságio

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.
Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

Não discuto

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino

A lua no cinema

A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!

Sem título

Eu tão isósceles
Você ângulo
Hipóteses
Sobre o meu tesão
Teses sínteses
Antíteses
Vê bem onde pises
Pode ser meu coração