quarta-feira, 25 de julho de 2018

Não quero nada mais além do nada; NL, 01601002009; Publicado: BH, 030402010.

Não quero nada mais além do nada
Pois sei que já é querer muito
Quem quer tudo tem tudo leva no
Final o mesmo que levo então
Somos estamos iguais se eu tiver
Ali além daquela montanha cinzenta
Um tesouro escondido não darei-me
Por vencido ficarei satisfeito tal
Qual uma galinha a ciscar num
Terreiro um calango banhado pela
Luz do sol ou um marimbondo caçador a
Arrastar uma aranha para seu esconderijo
Se no final daquele azul do mar
Uma sereia guiar-me por tanta imensidão
A vida alegrará meu coração do
Mesmo modo que a chuva alegra
As flores dum jardim numa tarde de verão
Almejo só a brisa o vento as nuvens a
Se moverem ambiciono-me só pelo
Orvalho o sereno a maravilha de
Tudo que estou para entender
Tem gente que olha um prego não
Vê nada enxerga uma pedra não
Vislumbra emoção observa um toco
Não se maravilha fazer alguma
Coisa mexer com a alma assim é ter
Que apelar para a alquimia correr o
Risco de não ter sucesso garantia
Quem não quer um tico-tico ao lado 
Dum coleiro soltos no quintal ou um tiziu a
Saltitar numa cerca de pau? querer
Isso é querer o mundo o universo
Não precisar de mais nada a não
Ser duma oração interior a agradecer
Ao criador por tanta riqueza ao nosso dispor

Quero completar-me mas falta-me um pedaço; NL, 02301002009; Publicado: BH, 030402010.

Quero completar-me mas falta-me um pedaço
Aonde vou procurar os corpos
Estão todos despedaçados as almas
Desgarradas os espíritos renegados
É fácil ser perdido o difícil é a pessoa
Encontrar a si próprio ser completo
Total fazer o bem jamais o mal deixa
De lado a dor inventada o
Sofrimento inexistente fingir é o
Que todo mundo sabe fazer muito bem
Sentir é o que falta para que
Sejamos alguém amanhã quero acordar
Ver a cidade adormecida olhar
Restos de noite com vestígios de início
De dia penumbra sombra poesia
Na palavra que realiza-me fico
Mudo tenho a visão embaçada
Como um vidro da janela os olhos
Turvados do motorista perdido na noite
Da estrada da vida assim não
Posso olhar para os olhos das crianças
Famintas da Etiópia não posso amar
Aquelas mães esquálidas a qual deus
Posso pedir em oração auxílio para
Essas almas penadas? sou mesmo um ser
Empenado sinto-me emperrado por
Nada fazer quero completar-me mas como?
Sou como aquelas pessoas que não têm
O que comer? aos que podem olheis para
Os seres humanos da Etiópia aos que têm
Aplaqueis um pedaço da tragédia
Dessa parte da raça humana penso que:
A humanidade não pode ficar dividida
Uns comem outros não se meus pedaços
Servissem os serviria mas a minha
Carne não é uma boa iguaria

Se fosse assim; RJ, 1981; Publicado: BH, 0310702012.

Se fosse assim
Dum dia para o outro
Duma hora para a outra
Mas não é assim não
Se acontecesse de repente
Na frente da gente
Na hora que mais precisamos
Seria uma boa
Mas não acontece assim não
Por mais que queiramos
Por mais que buscamos
A nossa mudança
Não nos busca
Nem aparece na nossa frente
Nem acontece dum dia para o outro
Ou duma hora para a outra
Sofremos
Padecemos
Lamentamos
E lutamos
Sobrevivemos
Nas mesmas condições
No meio dos ratos das baratas
Das pulgas cupins
Das traças aranhas
Poeira sujeira
Se fosse assim
Igual a um romance
Uma novela
Uma história qualquer
Mas o problema é que não é
Não é romance nem história
Não é novela nem filme
É a própria vida real

Foi menino alfeninado; BH, 050202000; Publicado: BH, 0310702012.

Foi menino alfeninado
Nos tempos de criança
Delicado efeminado que tinha
O apelido de carneirinho
Era bem cuidado guardado
Por mãe madrinha vó
Branco sonso como o alfenide
Como a liga metálica que imita a prata
Alfeneniro brejeiro gostava mais
Do convívio das meninas do que
Do convívio dos meninos
Parecia um pezinho de alfena
Tingido com os baos enfeitado
Mais para alfenar o arbusto
Da família das Oleáceas
Alfenado pela própria natureza
Só não gostava de alfeixar
Como o pau que se encaixa
Nos testeiros das serras
Só para terminar maus dias
Como um guardador de alfeire
O alfereiro do rebanho de ovelhas
Que não pariram nem estão prenhas
Guardador de chiqueiro de porcos
Ao ferro que serve para abrir os alvados
Às enxadas martelos machados
Alfeça que volve a terra revira-a
Deixa-a fofa macia
Para que pise de pés descalços
Perfumar com alfazema
Alfazemar os esconderijos
Feitos de alfavaca-de-cobra
Planta da família das Rutáceas
Do plantio de alfarrobeiras
Do fundo do alfarrobal
Onde já foi alfaraz
Cavalo árabe adestrado na guerra
Hoje o alfario cavalo de paz
Brincalhão rinchador
O bastam os arbustos verdes
Que rasteiam pelo chão

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Aprender a usar a inteligência; RJ, 0240401996; Publicado: BH, 0310702012.

Aprender a usar a inteligência
Expandir a percepção
Aflorar a sensibilidade
Fluir a inspiração
Captar as energias positivas
Canalizar a felicidade
Encher o peito de alegria
Falar com sabedoria
Ser um ser supremo
Lúcido evoluído
Transparente racional
Livre como o vento
Claro como o sol
Forte igual a água
Sereno tranquilo profundo
Alguém doutro mundo
Que não seja este aqui
A voz seja sorriso
O olhar uma lua
A alma um céu azul
A mente uma orquestra sinfônica
Bem afinada
O espírito um santuário
Habitado por santos anjos
Que de longe se sinta
O perfume emanado
Das flores que cobrem o corpo
Que descansa adormecido
Em lençóis de linho
Alvos iguais a neve
Macios aconchegantes
Braços da mulher amante
Que não queremos
Deixar jamais

Mulher nenhuma me quer; RJ, 0240601996; Publicado: BH, 0310702012.

Mulher nenhuma me quer
Nem com o dinheiro que der
Nem mesmo a minha mulher
No dia que nasce um sapo
Também nasce uma sapa
Ainda na esperança pois
Não encontrei a minha
Até a minha filha
Quer distância de mim
Minha própria mãe
Já me abandonou
Há muito tempo
Todas as mulheres
Da minha vida
Todas as mulheres que conheço
Que são amigas ou não
Querem distância de mim
Existe algo de errado
Que não sei o que é
Que tento descobrir
Que faz com que
Todas fujam de mim
Mesmo que não esteja
Com qualquer intenção
De querer alguma coisa
Não quero nada
Não posso querer
Com quem não quer
Nada comigo
s mulheres não querem
Não me querem
Nem se o dinheiro der

Quero cobrir com alfombra; BH, 040202000; Publicado: BH, 0310702012.

Quero cobrir com alfombra
Os caminhos por onde tiver de passar
Alfombrar minhas sendas
Atapetar as veredas arrelvar os atalhos
Tirar de cima de mim a alfonsia
A alforra das searas que parece
Ser produzida por uma espécie de cogumelo
Tirar de cima de mim a ferrugem das
Plantas de quando nos mantemos no meio delas
Quero ver alfombrado meu esconderijo
Atapetada minha gruta
Arrelvada a caverna onde 
Vou construir o meu sepulcro
Quero pisar meu chão de alcatifa
Como se fosse um tapete natural
Não usarei nos pés calçados
Os manterei sempre num viveiro
Fresco de plantas num canteiro
Entre dois regos por onde
Corre água cristalina
Um alfovre de sombra
Um alfofre de fofo macio
Um alfobre terno de ninho de passarinho
Alfim da vida ali permanecer
Afinal de contas procurei todo o tempo
Mereço finalmente repousar a cabeça
Ao cabo duma vida conturbada
Cheia em demasia de altos baixos
Mais baixos do que altos baixios
Quando passar este meu alfeninar-me
Não tornar-me deveras mais frágil
Mais melindroso do que já sou
Tão delicado que pareço efeminado
Toda a minha trilha abrirei com alferça
Romperei com alferce o espinheiro
Com picareta as pedras com o alvião
A erva daninha o mato cerrado
Quero tudo limpo no meu caminho com o enxadão