quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O que faço não tem nada de novo; NL, 0140402008; Publicado: BH, 0310102010.

O que faço não tem nada de novo
Faço poesia velha sem radicalismo escrevo
Não tiro o efeito de nenhuma palavra erudita
Poesia é impacto emoção forte adrenalina muito
Sangue na veia pulsação poesia é quebra
 De protocolo ruptura de padrão destruição de
Estilo poesia é iconoclasta cosmopolita clássica
Não faço mais nada além disso não sei falar
Fazer oratória ou discursar não sei inovar
Ao tentarem me enquadrar não encontrarão
Moldura tese tema teoria sou só assim poeta
Mais nada sou é o que penso repenso
Certo não serei que vou dizer para falar
De mim sou mudo não tenho língua
A voz some nada sai da garganta fico com
A boca seca áspera emito sons do período
Jurássico o que faço não é novidade
Nem dá para aperfeiçoar não é visto como
Arte muito pelo contrário ninguém quer se
Interessar mas não posso parar a poesia precisa
De mim eu dela um dia vou me acabar
Outro substituirá o meu lugar para garantir
A eternização da poesia já ouvi não é realidade
Não é verdade de tudo já ouvi mas não
Quero saber a não ser o de continuar a verter
Fluir florescer até que venha a desfalecer não
Gosto de pouco sou ávido guloso insaciável
Quem não gostar paciência data vênia excelência
Como dizem aqueles vagabundos lá daquele congresso
Lá podre cheio de vermes quem causa mais mal
Ao povo? a poesia ou aquele bando de inúteis?
Quem dá mais prejuízo à nação? a poesia ou
Aquele covil de ladrões? da poesia o povo foge
Dela agora falou que é apologia às drogas ao
Crime a tudo que não presta o povo valoriza
Mais vide como o povo correu brigou apanhou pelos
Bens do mega traficante Abadia é uma vergonha
É assim que agimos na falta da poesia viramos
Bestas políticos esquecemos o bom comportamento
Demostramos nossa brutalidade asperezas falta de
Educação a poesia pede a tua atenção

Por acaso tenho a firmeza dum filósofo; NL, 0180402008; Publicado:BH, 0310102010.

Por acaso tenho a firmeza dum filósofo
Dum livre pensador ou dum poeta? não
Filósofo geralmente tem uma linhagem
Tipo estoica ou epicurista ou materialista
Livre pensador geralmente é livre culto evoluído
Independente poeta está sempre cheio de
Inspiração de imaginação a flutuar na
Poesia só sei que sou ser rústico bem
Estúpido ignorante nem sei por que fico
No arranhar deste papel coitados
Dos dois sofrem em minha mão a caneta
Por escrever o papel por receber tantas sujeiras
Qual a classificação que apresento? nenhuma
A qualidade me apresentem alguma que 
Por acaso tenha dentro fora de mim?
Mesmo respondo nenhuma é muita pretensão
Querer dá uma de filósofo ou de livre pensador ou
De poeta tenho é que ter pena dó das
Pessoas que ainda me aturam tenho é que
Parabenizar as pessoas que ainda não me expulsaram
Das vidas delas pois sei que me aturar é dose para
Leão tentar conviver comigo conversar falar
Interagir é praticamente impossível sou bastante
Impraticável nas primeiras impressões já bem
Demonstrei o monstro que sou todos se afastam
Fogem cheios de asco feitos baratas tontas não
Nego que já tentei ser uma pessoa normal
Igual à todas as pessoas mas não é comigo não
É de mim nem sei o que acontece ou a
Causa por ser assim penso que nem numa
Regressão ou numa hipnose alguém conseguiria
Descobrir meus mistérios meus segredos minhas maldições
Quais são os enigmas que me fazem ser assim um ser
Que causa tanta aversão às pessoas? tento ser educado
Gentil e não consigo só sei ser bruto de mim
Só saem indelicadezas grosserias estupidezes oh meus
Filósofos meus livres pensadores meus poetas
Nunca chegarei a vossos pés
Também não sei retribuir o que fazeis de bem a mim

Felicidade não a conheço nem nunca a encontrei; NL, 0130402008; Publicado: BH, 0310102010.

Felicidade a não conheço nem nunca a encontrei
A felicidade quando fui criança me enganei
Enganaram-me iludi iludiram-me
O que penso que foi a maior covardia que
Fiz que fizeram comigo castraram-me na
Minha infância até hoje vivo de engatinhas a
Falar dadá gugu mamã papá a pedir
Mamadeira papinha chupeta para chupar
Derradeiro último em tudo quem tentou
Se reconciliar comigo saiu mais ferido do que
Entrou decepcionou-se arruinou-se também
Viu a própria felicidade os sonhos irem por
Água abaixo quem primou a minha companhia
Só sentiu ansiedade agonia viveu angústia
Os efeitos de minha anomalia não converso
Não falo não comunico não pergunto me trumbico
Não penso não raciocínio o discernimento passou
A mil léguas de mim qualquer outro ser
Humano ou pessoa é mais feliz do que sou não sei se
É porque querem pouco quero sempre mais
Qualquer bagatela os satisfazem a mim creio
Que não por qualquer trinta moedas se vendem
Traem uns aos outros tenho certeza que eu
Não ou talvez esteja na mentira no delírio ou no
Engano como sempre não tenho lógica em
Nada nem para nada não organizo nem os
Meus pensamentos toda vez que almejo brilhar é
Que vejo a verdadeira dimensão de minha mediocridade
Cuspo no prato em que comi piso no pão que me
Dão nem o diabo fez massa para mim quanto mais
Deus que já fez de tudo me deu de tudo joguei
Fora com a vida que levo de fato sou um
Boato um virtual simulacro de homem de fato sou
Um pesadelo um sonho que não veio um sono
Perdido uma causa sem efeito não adianta tentar
Nem teimar é suicídio na certa eutanásia
Moribundo atado às máquinas paciente terminal
A felicidade até agora está na encruzilhada das paralelas 
Numa tentativa de angariar algum conceito mas como dói

Nietzsche, No sul, BH, 0310102010.

Num ramo torcido, eis-me suspenso,
E balanço meu cansaço.
É de um pássaro que sou hóspede,
Repouso num ninho de pássaro.
Onde estou então? Longe! Ai, muito longe!

O branco mar adormeceu,
Em sua superficie uma vela púrpura.
Uma rocha, uma figueira, a torre e o porto,
Idílios ao derredor, balidos de ovelhas,
Inocência do sul, acolhe-me!

Andar a passo - que existência!
Esse andar me torna alemão e pesado.
Disse ao vento que me levasse,
O pássaro me ensinou a planar.
Para o sul, sobrevoei o mar.

Razão! Coisa entristecedora!
Isso nos aproxima demais do fim.
Aprendi voando, o que me iludia.
Sinto a seiva que sobe e a coragem
Para uma vida nova e um jogo novo...

Pensar sozinho é a sabedoria,
Cantar sozinho seria estúpido!
Eis um canto em sua honra,
Sentem-se em torno de mim,
Em silêncio, pássaros maldosos!

Tão jovens, tão falsos, tão vagabundos,
Parecem ser feitos para amar,
E para todos os belos passatempos?
No norte - hesito em confessá-lo
Amei uma mulher, velha de chorar:
Ela se chamava "Verdade"...

Nietzsche, A piedosa Beppa; BH, 0310102010.

Enquanto meu pequeno corpo for belo,
Vale a pena ser piedosa,
Sabe-se que Deus gosta das mulheres jovens,
E sobretudo daquelas que são bonitas.
Ele perdoa, tenho certeza,
Ao pequeno monte
De amar, como mais de um pequeno monge,
A estar perto de mim.

Não é um padre da Igreja!
Não, é jovem e muitas vezes vermelho,
Apesar de sua cinzenta embriaguez,
Cheio de desejo e de ciúme.
Não gosto dos velhos,
Ele não gosta das pessoas velhas;
Grande é a sabedoria de Deus,
Como ele nos arranjou bem!

A Igreja sabe viver,
Ele sonda os corações e os rostos.
Sempre me haverá de perdoar-
E quem então não me perdoa?
Murmura-se na ponta dos lábios,
Dobra-se os joelhos e vai-se embora;
Com um pequeno pecado novo,
Apaga-se depressa o antigo.

Bendito seja Deus na terra,
Que ama as jovens bonitas,
E perdoa de bom grado
Essa espécie de dor do coração.
Enquanto meu pequeno corpo for belo,
Vale a pena ser piedosa:
Quando eu for uma velha senhora
O diabo virá me procurar.

Nietzsche, O barco misterioso; BH, 0310102010.

Na noite passada, quando tudo dormia,
E que, nas ruelas, o vento
Suspirava sem estar seguro de si,
Nada podia me acalmar, nem o travesseiro,
Nem a papoula, nem o que faz também
Dormir-uma boa consciência.

Enfim, renunciei ao sono,
Corri para a praia.
O clarão da Lua era suave e, na areia quente,
Encontrei o homem com seu barco.
Os dois cochilavam, como pastor e ovelha:
-Sonolento, o barco deixou a imagem.

Uma hora passou, talvez duas,
Ou talvez mesmo um ano?
De repente meus sentidos foram submersos
Numa eterna inconsciência
E um abismo se abriu,
Sem fundo:- tinha terminado!

- Chega a manhã, em negras profundezas
Um barco repousa e repousa -
Que aconteceu? Um grito se eleva.
Cem gritos: que há? Sangue
Nada aconteceu! Tínhamos dormido,
Todos - Ah! Tão bem! Tão bem!

Llewellyn Medina, O fantasma de minha velha professora de química; BH, 0310102010.

O fantasma de minha velha professora de química
Povoa meus sonhos
E invade sub-repticiamente minha realidade
Faz-me lembrar da sala de aula
Do velho Colégio Estadual

Entre uma fórmula e outra
A mestra intimava seus discípulos
A voltar um dia
Para a cidadezinha do interior.

O fantasma de minha velha professora de química
Parece cobrar-me a cada momento
E não me deixa esquecer que há sempre Minas
Com seu horizonte interrompido por um morro conhecido
(Os morros de Minas são todos iguais)
O cheiro do colonião que enfeita o campo
(Em Minas o colonião é imemorial).

O fantasma de minha velha professora de química
Faz-me lembrar
Que as cidades de Minas são todas iguais
Que as cidades de Minas são todas iguais
Que as cidades de Minas são todas iguais
Por isso Minas é Gerais
E o fantasma de minha velha professora de química
Povoa meus sonhos
Meus sonhos de Minas Gerais
Quem há de me livrar deles?