segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Se morrer hoje morrerei sem nenhum; NL, 0240302010; Publicado; BH, 090502010.

Se morrer hoje morrerei sem nenhum
Único mistério ter resolvido nenhuma
Única conjectura ter solucionado
Morrerei como um ser no anonimato
Posso vir a ser enterrado como
Indigente o número de identificação
Ignorado dói em mim isto?
É claro que dói viver morrer
Não deixar uma equação uma
Teoria ou uma tese dói em demasia
Vide Grigori Perelman podia não
Tomar banho não cortar os cabelos
As unhas ou trocar de roupas raramente
Porém resolveu a Conjectura de
Poincaré um dos maiores mistérios
Da matemática o que fiz?
Para tornar o mundo mais interessante
Invejo Perelman? invejo liberto independente
Excêntrico fazia o que bem queria não
Se vendia ninguém mandava
Nele acadêmicos catedráticos sábios
Achava a todos uns drásticos tenho
Comprovação que a humanidade com
Ele se valorizou inveteradamente Grigori Perelman
Não esqueçais esse nome esqueçais
O meu esqueçais de mim uma duas
Quantas vezes forem necessárias aprendais
Com ele tenhais-no como exemplo
Sigais-lhe os passos para não tropeçareis
Pelos caminhos as pedras sustentarão
Vossos pés vossos alicerces não abalarão
Se morrer hoje morrerei feliz tenho
Aos pés de quem plantar minha raiz
Grigori Perelman

Viver num lugar no qual não acontece nada; NL, 0240302010; Publicado; BH, 090502010.

Viver num lugar no qual não acontece nada 
Com o lugar nem comigo é o que penso 
Ao viver aqui não dá vontade de
Viver torcer para acontecer alguma
Coisa um convite para uma festa
Um casamento um batizado uma
Farra não vejo nada disso ao viver
Aqui pelos moradores nada pode
Deve acontecer aqui uma risada
Alta uma música elevada um
Bate-papo numa esquina tudo são
Motivos de chamar a polícia apelar
Para a lei do silêncio ou escrever
Cartas aos jornais a reclamar da vida
Noturna da cidade dizem que São
Paulo é o túmulo do samba penso
Que Belo Horizonte é o túmulo
Dos mortos vivos quem quer viver
Tem que transpor as montanhas
Os nossos melhores escritores poetas
Intelectuais músicos artistas de modo
Geral se sobressaíram quando saíram
Detrás das montanhas o governador
Atual todo fim de semana está no
Eixo Rio/São Paulo não perde o tempo
Dele aqui feriado ou não qualquer
Motivo serve para as escapadas do
Governador penso que esteja
Certo principalmente tendo toda a
Mordomia do cargo à disposição
Para que ficar num cemitério se
Pode desfrutar dum paraíso com
Belas praias lindas mulheres uma
Cidade maravilhosa tal o Rio de Janeiro
Para se viver ser feliz

Tem que fingir diante das pessoas; NL, 0240302010; Publicado: BH, 090502010.

Tem que fingir diante das pessoas
Inventar mentir não pode é
Ficar por baixo tem que enganar
Falsear dissimular dizer que é o
Bom o melhor o viril é assim
Que tem que ser fingir que é feliz
Que é o alegre o saudável mentir
Que gosta de viver de comunicar
Conversar futilidades assistir
Mediocridades se impressionar
Com superficialidades quem tentar
Ser diferente é tratado com total
Indiferença afastado do meio
Como se fosse um leproso assim
A saída é a encenação falsificar
A verdade distorcer a realidade
Impregnar de mentira a vida
Que leva de manhã no ônibus
Ou no carro para o trabalho de
Tarde na volta à casa são nos
Aglomerados que a coisa ferve
Um pouco ou a chapa é quente
Na pista aproxima-se com o real
Com as crianças descalças de calções
Rotos a pisarem esgotos jogarem peladas
Com bolas improvisadas conviverem
Com a violência do tráfico de
Drogas meninas exploradas sexualmente
Todo tipo de mazelas que nos atormentam
Agora o pior momento da nossa vida
É na propaganda política onde os políticos
Se colocam como os melhores tipos de pessoas
Honestos éticos morais fingimos que
Acreditamos lógico mas todos sabemos
Que também fingem quando
Assumem os cargos nos brindam
Com a verdadeira face que
Têm por debaixo das nobres carapuças

Não estou seguro garantido; NL, 0250302010; Publicado: BH, 0110502010.

Não estou seguro garantido
Muito menos confiante não
Estou em segurança não sei o
Porque mas sinto minha base
Tremer sinto frio na barriga
Calafrio na espinha não olho
No olhar de ninguém não fixo a
Vista na vista de quem me
Encara pois não tenho respaldo
Não tenho currículo minha
Biografia seria encerrada em
Poucas frases não estou tranquilo
Não tenho calma serenidade
Entro em pânico a depressão
Tomou conta do meu coração
Procuro abrigo uma cabana amiga
Uma pousada não vejo as portas
Tentarei uma gruta viverei numa
Loca por amigos os seres que rastejam
Também os que voam de preferência
Os seres noturnos que gostem do
Silêncio das madrugadas do farfalhar
Do vento nas folhas secas dos arbustos
Não quero sair durante o dia a
Luz turva meus caminhos meu
Solo fica ressequido me torno um
Ser mesquinho nesse caso é melhor
Conviver ou morrer sozinho
Conviver com os musgos com as
Heras escondido numa tapera
Aí nenhum adjetivo que possível
Qualificaria-me ou que me
Desqualificaria me encontrará
Onde houver dois homens reunidos
Aí com certeza estará o mal

Meus pés estão manchados os dentes; NL, 0230302010; Publicado: BH, 0110502010.

Meus pés estão manchados os dentes
Cariados os olhos embaçados
A barriga inchada tal qual barriga
D'água os cabelos raros calvície
Que antecipa o codinome de careca
De tio me chamam para velho
Senil caquético idoso falta
Um passo as rugas chegaram
Os músculos fraquejaram há dores
Por todos os cantos tomaram o lugar
Da alegria do sorriso do riso
Da felicidade dizem que é o tempo
Da idade quando chove no entanto
É que aumenta a tristeza não
Sinto aquele cheiro de terra molhada
Da grama do mato verde no fim
Da tarde a água fria me quebra
Os ossos a lufada de vento
Faz de mim um papel caramba
Aquele menino sonhador lá do Pau
Velho chegou à terceira idade
Mas não deixou de ser menino de
Sonhar com os rios com as arapucas
As cachoeiras continua pueril escala
Montanhas faz esconderijo no mato
Esconde tesouros porém hoje louva
Os besouros não os coleciona como outrora
Salva borboletas fica à janela
Descobre o quintal desvenda o
Terreiro diminui assim o mal
Sente saudades sente lembranças
De tristeza chora na recordação
Para aquecer o coração pensa
Num ninho de passarinho que
Um dia será sua eterna moradia

Vencer a força de gravidade não usar; NL, 0230302010; Publicado: BH, 0110502010.

Vencer a força de gravidade não usar
Motor de propulsão fazer uma casa
De joão-de-barro parar no ar tal
Qual um beija-flor nadar contra
A correnteza como nada o salmão
Andar pelas paredes igual a aranha
Anda ser um calango num muro
Joaninha ou louva-a-deus na folha
Ter o verde da esperança que o
Bem-ti-vi alcança voar com
Os patos selvagens escalar as árvores
Em companhia dos macacos
Hibernar com os ursos o excepcional
Plainar como plainam os urubus
Tirar da natureza o sustento que tiram
As feras da fauna da flora
A cura a panaceia o fim de todas
As doenças para observar como sobrevive
Quem sobrevive nos desertos montanhas
Nas florestas no gelo nos vulcões tundras
Fazer o mel feito pelas abelhas valioso
Viver em harmonia como vivem ferozes
Marimbondos nenhum a ferroar
O outro ser belo igual a arara
Não ter vaidade da própria
Beleza fazer essas pequenas coisas
Que fazem os seres pequenos foi o
Que me respondeu um mendigo quando
Perguntei-lhe o que era a sabedoria saí
Dali em disparada quase enlouqueci não
Sei como não morri alçar a tantas alturas
Descer a tantas profundidades do mar
Ter o amor que tem a natureza não sei
Aonde esse mendigo louco queria chegar

Canto um canto sem canto; NL, 0250302010; Publicado: BH, 0120502010.

Canto um canto sem canto
Minha música não tem melodia
Minha canção de som é vazia
Mais antiga é a minha cantiga
Canto ladainhas que ninguém
Escuta gregoriano angelical
O barulho da sinfonia universal
Colisões de galáxias explosões
De estrelas gemidos dos planetas
Dos sóis que são mastigados
Engolidos pelos buracos negros
Do aquém o que é que canto?
Canto o que não vem as rezas
Das pretas-velhas os lamentos dos
Pretos debaixo das chibatas os
Gritos dos capatazes misturados
Com os gritos das negras violentadas
Os comandos dos capitães-do-mato
Canto tudo não canto nada direis
Os surdos incapazes de escutar
O barulho que a aranha faz
Com o seu tear canções trazidas
Pelas formigas forjadas pelo peso
Das folhas que carregam odes
Liberadas pelos besouros no cio
Elegias declamadas pelas joaninhas
Borboletas que só vivem um dia
Ou mesmo uma hora sou um
Cantor mudo que não diz nada
As multidões que me escutam
São legiões de fantasmas de
Espíritos de todas as espécies todas
As linhagens africanas doutros
Recantos indígenas das matas
Dos matagais das raízes dos sobrenaturais