segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

"Poemas de Hoje", RJ/SD, Chega de esperar; Publicado: BH, 0270102020.

Chega de esperar
E sei que não adianta
Esperar-te um dia
E vou matar a esperança
De te conhecer
E já tomei uma cerveja inteira
E não apareceste
Já fumei mais de um cigarro
E não vi nem a tua sombra
Pedi outra cerveja
E mais outra depois
O tempo passou rápido
Os cigarros acabaram
E nada de ti
Joguei fora os pensamentos
Que me traziam a tua imagem
E se ficasse a pensar
O tempo ia passar
E eu a beber
Fui para casa tonto
Tonto e sozinho
Sem ti e sem cigarros
Por isso cheguei à conclusão
De que não adianta
Esperar por ti
Tentar te conhecer
E te ter amor
E és esperta e ladina
Se dou um bote
Dás dois
Podes ficar tranquila
Desisto de ti
E minha esperança morta
Já enterrei
E agora vou só beber
E agora vou só fumar
E acabou-se a espera
Não quero mais amor
Não quero mais amar.

"Poemas de Hoje", RJ/SD, Escrevo; Publicado: BH, 0270102020.

Escrevo
Escrevo palavras desconexas
Palavras disssimulantes 
Como estas
Escrevo palavras inadequadas
Mal empregadas
Palavras erradas
Enfim escrevo
Qualquer coisa
Fora da coisa
Escrevo
Não sei se escrevo
Não sei escrever
Escrevo errado
E não sei aprender
Portanto é um sonho
E um sonho 
É um ideal
E um ideal
Sempre traz esperanças
E penso que vale a pena
Alimentar minhas esperanças
E realizar meu sonho
Escrevo
Palavras assassinadas
Palavras mortas
Mortas por mim
Que sou o assassino
O assassino das letras
O assassino da língua
E acabo com tudo
E destruo tudo
Arraso o idioma
E a literatura
Com a minha ignorância
De bicho bravo
E indomável 
E escrevo horrores
E escrevo dissabores
Fora da ética
E sem razão
Escrevo 
Sem lógica 
E sem expressão
Escrevo sem saber
Escrevo sem vida.

"Poemas de Hoje", RJ/SD, Tu pediste; Publicado: BH, 0270102020.

Tu pediste
E vim aqui
Tu chamaste
E estou aqui
Não importa o que aconteceu
Tira a roupa
Quero ver 
Teu corpo nu
E já que estou aqui
Vamos fazer amor
A minha fonte
Se não secou
Está quase a secar
Tu gritaste
E ouvi
Tu choraste
E te consolei
E entre lágrimas 
E soluços 
Teu corpo nu amei
E fiz de tua alma
O meu útero
E fiz do teu útero
A minha vida
E pediste mais
E estava aqui
E chamaste-me na saída
E voltei aqui
E te envolvi em meus braços
E curei a minha ferida
Minha fonte rejuvenesceu
Fluíram água e leite
Da minha inaptidão
E um bater de vida
Acelerou o meu coração.

domingo, 26 de janeiro de 2020

Clipe samba-enredo Mangueira 2020

"Originais", RJ/1980, Poder para o povo; Publicado: BH, 260102020.

Poder para o povo
Para unir o povo
Mobilizar o povo
Conscientizar o povo
Mentalizar o povo
Poder para o povo
Para o povo lutar pelo povo
Morrer pelo povo
Matar pelo povo
Poder para o povo
Poder do povo
Poder pelo povo
Brigar pelo povo
Gritar pelo povo
Justiça para o povo
Liberdade para o povo
Comida para o povo
Educação para o povo
Alfabetização para o povo
Terra para o povo
Força para o povo
Revolucionar o povo
Revolucionar pelo povo
Revolucionar para o povo
Trabalho para o povo
Direitos para o povo
Tudo para o povo
Tudo pelo povo
Tudo do povo
Desenvolver o povo
Emancipar o povo
Treinar o povo
Preparar o povo
Massificar o povo 
Alertar o povo
Libertar o povo
Despertar o povo
Revoltar o povo
Rebeldia do povo
Acionar o povo
Ativar o povo
Colocar o povo
No seu devido lugar
No poder do povo
Primeiro o povo
Exaltar o povo
Alarmar o povo
Abrir passagem para o povo
O povo rompe caminho
O povo abre alas
É o poder para o povo 

"Originais", RJ/1980, A descer a ladeira abaixo; Publicado: BH, 0260102020.

Vento e pó e poeira
A mulher vem a descer faceira
A rua lépida da ladeira
O vento levanta a saia
E a calcinha aparece
A mulher finge que não ver
E continua a vir
Que pernas bonitas
Que cochas rijas
E depois que passa
Que traseiro lindo
A saia é fina
Quase transparente
As formas são macias
Firmes e fortes
E com uma mulher dessa
Montada no meu cangote
Espantava até a morte
Eita bicho bom
Boca gostosa
Corpo cheio
Morena maneira
Chega ao pé da ladeira
E olha para atrás
Seu olhar atravessa a poeira
E encontra o meu olhar
Os dentes aparecem
Brilhantes com o sol
Os cabelos soltos
Bravios e rebeldes e revoltos
É uma deusa sem dúvidas
E veio do inferno
No céu não tem 
Coisa boa assim
Vento e pó e poeira
Tiram-me da boca esta coceira
Morena maneira faceira
Levanta a saia que quero ver
Lambe-me o corpo
Faça de mim uma escarradeira
Morda-me e coma-me
Faça de mim um churrasco. 

"Originais", RJ/1980, O amor é o ninho do passarinho; Publicado: BH, 0260102020.

O amor é o ninho do passarinho
É a pétala duma flor
O amor é o primeiro raio de sol
Que entra furtivamente
Pela fresta da janela
O amor é uma criança
A bater palmas de alegria
É a poesia e é o poema
O amor é o tema
É o princípio e é o fim
O amor é a metáfora
A próclise e a mesóclise e a ênclise
O amor é a sistole e a diástole
É a dialética e a teoria e a tese
É a definição e a conjuntura
O amor é a largura
Do céu e da terra e do mar
O amor é o ar
A natureza e o despertar
O amor é a evocação e a oração
É a avocação e a pulsação
O amor é a canção
O hino e a marcha
O que é que é o amor?
É o que que é 
O amor é
O amor é tudo
E é o todo e é o nada
O amor é a borboleta
A célula e a molécula
O amor é o feto e o afeto
O espermatozoide e o óvulo
O amor é a fase e a face
A metamorfose e a transformação
O amor é a ação e o ato
É o desacato e a briga
O amor é a união
E o amor não tem definição.