segunda-feira, 19 de junho de 2023

há muito tempo não venho aqui

há muito tempo não venho aqui
é que entrei em vários surtos psicóticos
por vários dias consecutivos
e fui encaminhado muitas vezes ao cersam
e tarjas pretas mais tarjas pretas em cima de
tarjas pretas parei um pouco com os surtos
depois de quebrar a porta de vidro da
entrada a porta do armário da cozinha a
porta do guarda roupa o lábio superior do
pai que virou um beiço com um murro
certeiro hoje escrevo estas laudas ainda
meio sedado pai lá de longe de vez em
quando me lança um olhar de soslaio igual
bandido olha dissimulado para ver como
estou é que mãe saiu em silêncio com receio
das minhas reações porém até agora penso
que esteja bem sob o controle dos remédios
que não me deixam surtar nem ficar
agressivo ou praticar violência diagnóstico
de autismo severo não é fácil vamos ver 
durante quanto tempo permanecerei assim
aleatório mas à toda hora a me lembrar de 
ana c ou de torquato neto ou da irmã que
agora é que está a ver o que é ser professora
no país sem receber o piso nacional ou sem o
aumento salarial anual é obrigada a fazer
paralização diária ou a entrar em greve mas
pai avisou mãe avisou o país não respeita
professor nem valoriza até concordo com os pais

BH, 020502023; Publicado: BH, 0190602023.

rio à beira dum riacho acho

rio à beira dum riacho acho
regato gato mio em si bemol menor
à ursa maior felino menino malino moleque
ribeirão mata a sede do meu coração açude
temporário seco templário pinguela bamba
corda acorde acode acorda o comboio de
pêndulo que pede à lua nua prateia a rua
para a moça namorada não passar no escuro
sozinha ao voltar da casa do namorado pela
estradinha que margeia à noitinha a branca
casinha quintal da vizinha terreiro da
madrinha terreno da igrejinha tudo na
cidadezinha é ladainha à tarde morrinha
vento modorrento menino do bairro luxento
que diz assim não aguento andar de carro de
boi montar em jumento cavalo sebento
mosca rodoleiro traz o unguento bicheira
coitado do asnento não vai servir ao vigário 
o assento a paróquia não tem outro rabugento vai ter que ser a pé no açoite do
relento nas visitas aos ralados pelo templo abandonados rebentos que comem terra
brincam no chão um dia lamacento quando
cai um chuvinha de alento noutro poeirento
e o bom deus manda um frescor sonolento e
nem é mais hora de sesta já vou até embora
meu avô tem que contar história de caçador
de onça lampião vaqueiro boiadeiro canga 
bruta de cangaceiro e minha avó só cantoria
de rio preto assombração pai afoga o ganso
ganho mais um irmão esse não vai morrer não vai ser batedor amanssador de burro
bravo laçador de rês arredia que corre à
revelia então adeus minha mãe até outro dia
pois não aprendi a fazer nada vou tentar
fazer poesia ou quem sabe poema que seja o
pão meu de cada dia

BH, 0180502023; Publicado: BH, 0190602023.

domingo, 18 de junho de 2023

SILAS DE OLIVEIRA, APOTEOSE DO SAMBA:

Samba quando vens aos meus ouvidos
Embriagas meus sentidos
Trazes inspiração
A dolência que possuis na estrutura
É uma sedução
Vai alegrar o coração daquela criatura
Que com certeza está sofrendo de paixão

Samba, soprado por muitos ares
Atravessastes os sete mares
Com evolução
O teu ritmo que te torna ainda mais ardente
Quando vem da alma de nossa gente

Eu quero que sejas sempre meu amigo leal
Não me abandones não
Vejo em ti o lenitivo ideal
Em todos os momentos de aflição
És meu companheiro inseparável de tradição
Devo-lhe toda a gratidão
Samba, eu confesso és a minha alegria
Eu canto para esquecer a nostalgia.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Violeta de Outono – Em toda parte (1989)


 

Bacamarte – Depois do Fim (1983)


 

Dona Ivone Lara, Acreditar.

 Acreditar

Acreditar, eu nãoRecomeçar, jamaisA vida foi em frenteE você simplesmenteNão viu o que ficou pra trás
Não seiSe você me enganouPois quando você tropeçouNão viu o tempo que passouNão viu que ele me carregavaQue a saudade lhe entregavaCom o aval da imensa dor
E eu agora moro nos braços da pazIgnoro o passadoQue hoje você me trazE eu agora moro nos braços da pazIgnoro o passado
Que hoje você me trás

Vímana – On the rocks (1977)