sábado, 17 de novembro de 2018

Ninguém me quis depois de morto; BH, 0110602004; Publicado: BH, 040602010.

Ninguém me quis depois de morto
Meu esqueleto de homem vestido de
Pijamas foi descoberto abandonado num apartamento
Numa cidade desconhecida acredito há
Mais de vinte anos depois de minha morte
Trabalhadores preparavam-se para
Derrubar um prédio antigo quando encontraram-me
Só o esqueleto dizem que era de homem
Com a face para o teto em um colchão
Depositado no chão duma sala do
Segundo andar tudo indica que
Minha morte foi de causas naturais
Porque não foi encontrado sinal de luta
No apartamento poucos porém sabem o que
Foi a minha luta em vida gladiei mais
Do que gladiador passei décadas vazio
Como um prédio abandonado passei séculos
Como uma sombra presa numa penumbra
Dum sarcófago pois ninguém me quis depois
De morto hoje fui achado como um cão vadio
Um cachorro que chora lágrimas que não
Late pois arrancaram-lhe as cordas vocais
Hoje não sou mais o robô perdido esquecido
Eternamente na cratera Gusev misteriosa
Cratera marciana donde jamais poderia sair
Meu esqueleto metálico que ninguém
Queria depois de ser encontrado teve cotação
Elevada nas bolsas de valores do mundo
Quem investiu não ficou a ver navios
O papel deu conta do retorno o recado
Deu conta da verdade igual a um conto
De James Joyce que tanto quis aproximar a
Realidade da ficção a parte física da metafísica
Tudo numa fusão literal mais ácida do que a
Fundição do aço mais profunda do que a
Batida dum coração registrada numa auscultação

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