segunda-feira, 25 de março de 2019

Que mal me faz o teu absentismo; BH, 060601999; Publicado: BH, 050102013.

Que mal me faz o teu absentismo
Teu ser ausente
Tua ausência premeditada
Que mal me faz
Teu hábito de estar ausente
Em qualquer ocasião
Pode ser num abside
Numa causa absidal
Pode ser num recinto
Onde fica o altar-mor
Que fiquei a te esperar
A cadeira episcopal testemunha
O oratório detrás do altar
O relicário mais precioso
O amor não apareceu
No apogeu o perigeu de qualquer planeta
Nunca mais vou te encontrar
Nem em alma
Nem em mente,
Nem em espírito
Nem em ser
Com a raiva à beira da ira
A ira à beira do rancor
O rancor à beira da cólera
A cólera à beira do ódio
O ódio à beira da apoplexia
 Procurei o absíntio
A bebida da planta herbácea aromática
Amarga da família das compostas
Num gole só
Bebi a bebida alcoólica
Aromatizada com essa planta
O absinto amargo ruim
Não afastou de mim
A ideia de procurar-te
Todo o universo da noite
Sonhei que era rei
Num regime de absolutismo
Onde o sistema de meu governo
Em que sou o governante
Exercia o poder político sem limitações
Paguei prêmios absolutistas
Por tua cabeça cujos olhos
Inda estavam a piscar
Era absoluto independente
Ilimitado nas causas de razões
Soberano imperial
Puro absoluto
Apesar de tudo dormia sozinho
Acordava de manhã
Minha cama estava fria
Vazia com a tua ausência
Chorava então lágrimas absolutórias
Que me absolviam do meu sono

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