quinta-feira, 26 de abril de 2018

Moço tenho doze anos; BH, 0200901999; Publicado: BH, 020502012.

Moço tenho doze anos
Minha irmã tem quatorze
A outra menina quinze
Não comemos nada hoje ainda
Come a gente e dá um pedaço de pão
Se o senhor não me quiser
Come a minha irmã
Ou escolhes a outra menina
Nós somos aqui do Brasil
Do estado de Minas Gerais
Somos vítimas do neoliberalismo
Sobras da burguesia
Restos da elite
De manhã passamos fome
À tarde à noite também
Nossos pais não têm dinheiro
Não podemos comprar roupas
Nem ir aos shoppings
Não podemos passear,
Então nos entregamos
Por cinco reais um pedaço de pão
Moço nós somos só crianças
Porém a sociedade injusta
Já nos transformou em mulheres
O capitalismo já nos destruiu
Não temos perspectivas de vida
Somos o futuro do Brasil
Não temos futuro
Temos só a herança maldita
Das doenças dos vícios
Da prostituição infantil
Da morte precoce que nos espera
Nem chorar iguais crianças sabemos
Nem fazemos ninguém chorar por nós

A compensação depois da procela; RJ, 0601201998; Publicado: BH, 020502012.

A compensação depois da procela
É que sempre vem a bonança
Um jardim de oração
Onde em paz se reúnem os irmãos
Se abraçam se beijam
Com toda a harmonia
Irmandade que só o amor
É capaz de expressar
A alma que está perdida
À deriva em alto mar
Na ânsia de encontrar um rochedo
Para poder se salvar
Do afogamento iminente
Só um milagre divino
Faz aparecer a calmaria
Que leva a segurança
Ao aflito coração
É por isso
Que com todos os dissabores
Temos que continuar
Com os sabores da vida
Pois os nossos caminhos
Nem sempre são de flores
Nem sempre são retos
Até as nossas condutas
Às vezes deixam a desejar
Com os nossos medos
Nossas covardias injustiças
Que cometemos através dos tempos
Sem nos envergonhar
A compensação depois do pranto
Depois da lágrima da dor
É que sempre existe um consolo
Sempre existe esperança
Onde impera o amor

Nunca serei um poeta; RJ, 0601201998; Publicado: BH, 020502012.

Nunca serei um poeta
Quero deixar bem claro
Nunca serei um poeta
Pois as coisas mais simples da vida
Não consigo entender
Não sei andar na parede
Como anda a formiguinha
A aranha no seu fio
Na sua teia
A borboleta no seu voo
A mariposa em busca da luz
Nunca serei um poeta
Não sei nem latir
Igual a um cachorro
Nem a zurrar igual a um burro ou
Subir em árvores igual macaco
Nadar igual a um peixe
Não sei nem amar
Não posso querer ser poeta
Entender a vida o temp
Sentir a chuva o vento
Olhar os pássaros no céu
O sol a lua
As estrelas a brilhar
Na viagem cósmica estelar
Vivo a teimar
Na minha ignorância
Na minha mediocridade
Na minha ilusão
Que quero tirar poesias
Da palma da minha mão
Todos que passam por mim
Chamam-me de idiota
De imbecil de otário
Quem vai querer a essa hora
Uma poesia aqui agora

Estou atônico atônito; BH, 0200901999; Publicado: BH, 020502012.

Estou atônico atônito
Um átomo átono;
Em situação sem acentuação
Perplexo com a unidade
Elementar da matéria
Formada por prótons
Nêutrons eléctrons
Cujo número distribuição
Determinam a natureza
Dum elemento químico
Mesmo a ser coisa pequeníssima
De espaço de vida curtíssimo
Tenho alguma esperança
Gostaria de ver um dia
O fim da prostituição infantil
A exploração sexual das crianças
Gostaria de me atopetar de ira
Encher-me até o tope de raiva
Abarrotar-me de cólera rancor
Contra todo tipo de exploração
Gostaria de ver o fim daqueles
Que aumentam nossa miséria
Desgraça pobreza
Gostaria de ver o fim da elite
Da sociedade desequilibrada
Da burguesia de toda
Classe política dominante
Não sou ator para continuar a fingir
Aquele que faz representações demagógicas
Como se estivesse num teatro
Num cinema ou televisão
Espetáculos em geral
Não sou a pessoa que tem a habilidade para fingir
Deixo então aqui minha indignação
É necessário duma vez por todas
Que alguém com responsabilidade
Ponha um fim no sofrimento
Das nossas crianças

A burguesia me deixa atordoado: BH,0200901999; Publicado: BH, 020502012.

A burguesia me deixa atordoado
A elite me deixa tonto
O governo sem sentidos
Sinto o efeito atordoador
Da ação injusta da sociedade
Que atordoa sem resolver
Sem solucionar o efeito colateral
Sem dar as respostas devidas
Aos nossos anseios problemas
É atordoante a ação do senado
Da câmara do ministério
Ninguém faz absolutamente nada
É um fingimento só
Uma demagogia total
Um descaso sem tamanho
Não posso suportar mais calado
O atordoamento causado
Pelo bando de hipócritas
Incompetentes corruptos
Que tomou conta do poder
Quem absorve o ato o efeito
É o Estado a nação o povo;
Desrivilegiados abandonados
Às próprias sortes ao Deus dará
É atordoador o desespero
Das crianças de rua
Menores infratores delinquentes
As autoridades riem nas telas
É preciso dar um basta à inércia
À falta de respostas de soluções
Chega de causar perturbações dos sentidos
Dos que estão a sofrer a penar
Por meio dum agente físico
Coisa que causa grande comoção,
Que é a falta de coração
Virar o rosto para o outro lado
Para não atordoar
Não estontear a face
Com visão tão surrealista

Os conflitos que a vida nos apresenta; RJ, 0601201998; Publicado: BH, 020502012.

Os conflitos que a vida nos apresenta
Testam à toda hora nossa segurança
Fazem com que conheçamos
A nossa insegurança
A nossa intranquilidade
Medo covardia
É aí que nós vemos
Que somos mais medrosos
Que os mais frágeis animais
Somos mais intranquilos
Que uma pedra
Mais infelizes que os bichinhos
Abandonados nas florestas
Em toda a natureza
Somos menos que a flora
A fauna tudo mais
Nós que somos a natureza morta
Somos sempre menos
Estamos longe de atingir
A perfeição dum equilíbrio
Da adaptação dos seres
Ao meio em que vivem
Sem contendas perseguições
A não ser em casos
Extremos de fome
No fundo de nós mesmos
É que conhecemos
A nossa fragilidade
A flacidez de nossa matéria
Somos fracos inúteis
Desprovidos de razão
De amor ética
De justiça liberdade
O que só nos põe alerta
É o caminho da morte


O dia em que me conhecer: RJ, 0601201998; Publicado: BH, 020502012.

O dia em que me conhecer
Garanto-te que serei mais evoluído
Mais inteligente moderno
Sou sempre o último a chegar
Estou sempre atrasado
Fora de lugar
A minha conversa é a última
A causar algum interesse
A ninguém desperto
Nenhuma sensação
Nenhuma emoção
Depois que as pessoas
Ficam a me conhecer a fundo
Se decepcionam
Ficam indignadas
Por conhecerem ser tão obtuso
Obsoleto sem sentido
O dia em que
Passar a me conhecer
Como uma pessoa
Asseguro-te que
Serei outro tipo de gente
Gente de verdade
Que desperta atenção
Que as pessoas sentirão bem
Em minha companhia
Passarei uma boa energia
Passarei a verdade
Dum papo seguro de qualidade
A evidência da inteligência
Bem usada aplicada
O dia em que me conhecer
Minha vida vai mudar
Serei outro
Uma nova cabeça
Com uma nova mentalidade
Um novo ideal
Uma ideia nova
Sensacional