quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Só aprendi a fazer-me de bobo; BH, 02701001999; Publicado: BH, 040102012.

Só aprendi a fazer-me de bobo
A fingir-me de importante
Coisa dum verdadeiro tolo
Só soube abobar-me bobão
Mole igual a uma abóbora d'água
Nome duma variedade d'abóbora
Não servi nem para chá
Feito com a abóbora d'anta
Uma tainha do mato
Sou uma abobrinha
Num aboboral perdido
Num lugar remoto ignoto,
Lugar onde recultivam
A raiva o ódio do pântano
A ira o rancor do brejo
Só sei que não tive amor
Não tive paz no vale
Não tive liberdade do lírio
Em meu coração emperrado
Esperei em vão me aboborar
Pôr-me em remissa empedrado
Amadurecer-me ao ponto
Já estava sem plano inclinado
Sem uma ideia só oblíqua ai aí
Até me deixei jazer na cama
Abafado esquecido só febril
Agora só um abocamento
Pode me ajudar num bocado
Um encontro de bocas sedentas
Colóquio de beijos famintos
Numa inosculação urgente fominha
Anastomose de junção osmose
Que dá fluxo a uma vida feliz

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