Às vezes fico assim gentes parceiras parceiros de Deus
A procurar sem saber o que encontrar e sabeis que é
Como se o ar sumisse dos pulmões e as nuvens do céu
Da boca e as palavras ficam mudas sem letras e sem
Formas e sem fórmulas e olho à procura dum olhar e
Não encontro nem mesmo um olho seco ou um olho
De vidro ou um olho grande ou um olho gordo ou um
Olho morto de peixe cego ou um olho de assassino e
Vago vazio no vagão da locomotiva na contramão e a
Luz no fim do túnel é um outro trem que vem na minha
Direção e o meu comboio acelera cada vez mais e
Agora fecho os olhos para não sentir a colisão e é
Tarde demais ou nunca mais como cantou o corvo e
Meus pedaços espalharam-se no infinito e nem gritei
De dor pois não deu tempo de acionar a minha voz
Que já estava sufocada enforcada nas minhas cordas
Vocais e nem urros e nem sussurros e nem soluços e
Nem suspiros e só espirros de resfriados de febres de
Calafrios e arrepios no cadáver em cima da lápide da
Campa de plataforma a sustentar pelas pilastras e
Veredas e colinas de Golan e finquei o pé na terra do
Pé de serra do meu espinhaço e a medula estremeceu
O esqueleto e o tutano correu de novo no interior dos
Ossos como se os ossos fossem pneumáticos e o cadáver
Levitou como se Leviatan o sustentasse ou como se
Estivesse vivo com frêmitos na pele de ser diáfano e abriu
A fímbria da vida na atmosfera e desapareceu no tempo.
BH, 0190802019; Publicado: BH, 0300302022.
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