sexta-feira, 6 de maio de 2011

Gonçalves Dias, Marabá; BH, 060502011.

Eu vivo sòzinha; ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupá?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde
 - "Tu és", me responde,
"Tu és Marabá!"

Meus olhos são garços, são côr das safiras,
Têm luz das estrêlas, têm meigo brilhar;
Imitam as nuvens de um céu anilado,
As côres imitam das vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
 - "Teus olhos são garços",
Responde anojado, mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,"
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não côr d'anajá!"

É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
Da côr das areias batidas do mar;
As areias mais brancas, as conchas mais pura
Não têm mais alvura, não têm mais brilhar

Se ainda me escuta meus agros delírios:
 - "És alva de lírios",
Sorrindo responde, "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá,"

Meu colo de leve se encurva engraçado,
Como hástea pendente do cáctus em flor;
Mimosa, indolente, resvalo no prado,
Como um soluçado suspiro de amor!

 - "Eu amo a estrutura flexível, ligeira,
"Qual duma palmeira",
Então me respondem; "tu és Marabá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa,
"Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas governa, onde está."

Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
O oiro mais puro não tem seu fulgor;
As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
De os ver tão formosos como um beija-flor!

Mas êles respondem: - "Teus longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos bem lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não côr d'oiro fino, nem côr d'anajá."

E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais singirei:

Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sòzinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!

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