Meu avô fazia carrancas no papel
Com o lápis de cor cangaceiros
Jagunços pistoleiros capatazes índios
Fazendeiros garimpeiros boiadeiros
Peões cavaleiros vaqueiros mulheres
Rendeiras lavadeiras namoradeiras
Índias escravas meu avô fazia
Carrancas no papel com o lápis de
Cor barranqueiros canoeiros
Tocadores de viola tropeiros
Sanfoneiros caçadores montadores
De burros bravos soldados polícias
Reis rainhas príncipes princesas
Meu avô escrevia cartas aos pais
Das meninas moças virgens com
Pedidos de namoros de casamentos
Meu avô inda tocava numa viola
Preta arranhada de unhas umas
Músicas que menino não entendia
Mas meu avô entendia meu avô
Teve muitas terras fazendas gentes
Era dono de rios morros montanhas
Teve muitos filhos que foram pelo
Mundo uns voltaram outros nunca
Mais apareceram outros morreram
Abandonados em asilos meu avô
Morreu dum tombo o vi jogado
Nu em cima duma maca num
Cubículo dum hospital público
Do Rio de Janeiro meu avô
Gostava de varrer as calçadas em
Frente da casa em que morávamos
Na Rua do Pau Velho até hoje não
Sei o que meu avô foi fazer no
Rio de Janeiro morrer longe de tudo?
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