sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

"Penúltimo Caderno", Desde criança, SL/SD; Publicado: BH, 03101202021.

Desde criança
Que tentava segurar a mãe
Nunca levou um papo legal
Não sabia do passado
Praticamente não conhecia a mãe
O que sentia da vida
O que pensava do amor
Não sabia de nada
Parecia um estranho
E agora o pai longe
Não queria se sentir tão distante
Mas era totalmente ao contrário
Daquilo queria ser
Ou quer talvez a mãe
Queria que fosse
E só causava desgosto
E só causava náuseas
Era um grosso
Era um bruto
E a culpa não era da mãe
Que só quis o bem
E era um surdo
E era um mudo
E era um cego
E não soube entender a mãe
Mas a queria muito
E a amar também
E sentia falta
E toda noite chorava
E era um tímido
E não tinha coragem
De encarar a vida
E não tinha coragem
De dialogar com a mãe
E de se comunicar
E pedia para ser homem
E digno de a chamar de mãe
E a ouvir um fala comigo
E um mostrar de caminho
Que devia seguir
E que ainda não era tarde
E que queria ser feliz
E que queria viver
E abraçar e amar
E estar sempre junto
E não acreditava na morte
Mas que se um dia
Isso acontecesse
Que podia ter a certeza
O coração não morre
O amor não morre
A alma não morre
E que no coração dele o amor dela
E que no coração dela o amor dele
E que assim sempre viver
E delirava com a mãe
A segurar a mão
E com o sorriso
E com o perdão
E com a ajuda
Para nascer de novo
E morreu a sonhar
Que a mãe ia perdoar
E a olhar nos olhos
E não o deixar sofrer.

"Penúltimo Caderno", Nova dimensão, SL/SD; Publicado: BH, 03101202021.

E vou dilacerar a dimensão e degolar a imensidão e enforcar o espaço e segurar
O tempo e parar o tempo e dilatar a vida 
E dar liberdade ao amor e vou despedaçar o
Finito e pintar o vácuo de bonito e diminuir
O desespero e massacrar os problemas e
Repartir a paz e acabar com a escuridão e
Vou dinamitar a dor e reproduzir e eternizar
A flor para a posteridade e imortalidade e
Enfeitar o mundo e espantar a crise e
Organizar o caos e multiplicar o amor e
Rasgar o céu em mil pedaços e distribuir
Pedaços de céu aos corações despedaçados e
Vou por aí a fora a cultivar o eco da eclosão
Da abertura do que estava preso e do ser
Contraído à força e do corpo fechado ao
Prazer e do botão sem desabrochamento
Espacial e aparecimento sideral ao plantar
Na nova dimensão uma dimensão natural e
Sem nada artificial e com tudo verdadeiro e
Perfeito ao envenenar o atômico e ao 
Enfeitiçar o nuclear e endoidar o cósmico e
Não quero nada esquisito e não quero nada
Mortífero e quero tudo bom e quero tudo
Bem e tudo com vida e com amor na nova
Dimensão feita de claro e feita de flor e a
Luz que não cega e o calor que só aquece.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

"Penúltimo Caderno", Não quero que fiques com medo de mim, SL/SD; Publicado: BH, 03001202021.

Não quero que fiques com medo de mim
E não quero que penses que sou ruim e
Não quero que fiques a me olhar assim e
Não quero te assustar e nem quero te 
Amedrontar e nem quero que venhas te
Arrepender de ter entregado a mim o teu
Amor de bandeja e prometo toda cobertura
Possível e impossível e prometo todo apoio
Físico e mental e espiritual e prometo todo
Amor e não só o que enche barriga é que
Gosto muito de ti e não quero te ver triste
Comigo e não quero te ver chorar e nem
Quero te machucar e só quero te amar e te
Beijar a boca e te amar a alma e não quero
Que fiques com medo de mim e chegues
Bem para cá e segures minha mão e não 
Vais correr perigo e vou te fazer mulher e
Vou te fazer amor e agora fechas os olhos e
E que coisa louca e vou te levar para o céu
E me beija a boca é que parece que estou a
Voar e não quero que fiques triste amanhã e
Amanhã de manhã de dia e de noite vai ser
Um novo dia e uma nova mulher vai nascer
No universo e estarei ao teu lado nas
Tempestades solares e glaciais e no meio
Dos matagais e não temas estarei contigo a
Segurar sempre as tuas mãos nos temporais.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

"Penúltimo Caderno", Vem mulher, SL/SD; Publicado: BH, 02901202021.

Vem mulher
Vem amada
Minha danada
Desarrumada
Vem amor
Vem amalucada
Desesperada
Vem mulher
Vem minha doida
Despenteada
Minha descarada
Minha querida
Vem minha flor
Minha fêmea
Minha deusa
Do sol e
Do calor
Vem minha Vênus
Minha barriguda
Vem com teu amor
Vem com tua paz
Vem mulher
Temperada
Açucarada
Deliciosa
Sanguinária
Vem mulher
Desalmada
Mas espirituosa
E te amo
Mulher maldosa
Vem mulher
Meu mundo
Meu universo
Minha encantada
Desmascarada
Encarnada
Encurvada
Esquelética
Vem mulher
Esquemática
Imprestável
Amarelada
Vem do jeito
Que estiveres
Vem com um fio de vida
Vem com amor
Vem sem alma
Vem para mim
Desamparada
Descabelada
Vem mulher
Descabeçada
Desnutrida
Gripada
Vem mulher
Para ser amada
Para ser vivida
Para ser mulher
Vem doente
Vem demente
Meu amor
Vai te curar
Vem mulher
Esbranquiçada
Desiludida
Vem para mim
Agora mesmo
Vem assim
Estejas boa
Estejas ruim
Vem sem amor
Vem sem paz
Meu amor
Vai te ensinar
Meu amor
Vai te ajudar
Vem mulher
Minha amada amiga
Vem a correr amante
Vem gargalhada.

"Penúltimo Caderno", Neutro, SL/SD; Publicado: BH, 02901202021.

Não sou da esquerda
E nem sou da direita
Não sou da oposição e
Nem dou opinião e
Nem sou comunista e
Não sou racista e nem
Tenho ideias e sou 
Um ser humano e sou
Um homem e sou igual
Não sou socialista e
Não sou parlamentarista
E não tenho regime e
Nem tenho partido e
Não vou para cima e
Nem vou para baixo e
Fico no ar solto no 
Espaço e sou livre de
Tudo e não devo a 
Ninguém e não sou
Fascista e nem sou
Nazista e sou é pacifista
E quero é paz e sou é
Amor e não tenho
Dinheiro e nem tenho
Política e nem tenho
Sociedade e sou só um
Ser que respira o ar e
Quero uma vida e um
Lugar no raio de sol e
Não quero problemas e
Nem quero confusão e
Quero é a comunhão de
Todas as raças para todo
Mundo ser igual e uma só
Raça... a raça humana.

"Penúltimo Caderno", Apelo, SL/SD; Publicado: BH, 02901202021.

Vou fazer greve de fome
Beber cicuta e
Tomar nitroglicerina e
Vou explodir e
Arrancar meus olhos 
Como um Édipo e
Cortar minhas orelhas
Tal Van Gohg e
Enfiar minha língua
Num buraco de tatú
E jogar fora
Os meus braços
E as minhas pernas
Não importa o que
Acontecer comigo
Vou correr perigo
Vou me mutilar
Mas vou pedir
Pelo amor de Deus
Pelo amor à tua vida
Aprendes a amar
E a ter paz
E a ter amor
E a aprender a viver
E a ser igual
E a fazer o bem
E a ser bom
E vou arrancar minha cabeça
Abrir os intestinos
Num harakiri
E jogar minhas tripas na calçada
Meus órgãos internos
Meus órgãos externos
Vou deixar para o mundo
Ou para os cachorros comer
Quem chegar primeiro
E minh'alma
Vou pôr em órbita
Mas quero sentir amor
Quero sentir paz
No lugar onde vivo
No ar que respiro
Vou deixar de respirar
Vou deixar de mastigar
Vou deixar de existir
Mas quero ver aqui
Todo mundo a viver em paz
Todo mundo feliz
E vou sumir
A amar alegre
A aprender a sorrir.

"Penúltimo Caderno", Praga, SL/SD; Publicado: BH, 02901202021.

Caiu uma praga no mundo
Caiu uma praga aqui e fez
O mundo ficar imundo e
Fez o homem esquecer de 
Amar e faz a vida esquecer
De viver e caiu uma maldição
De maldade em casa coração 
E caiu um horror em cada
Nação que fez os povos se 
Odiarem e que fez os povos
Desprezarem-se e sinto pena
De ver tudo isso assim e 
Sinto nojo e repugnância só
Em meu coração e lá no 
Fundo de mim só o amor
Pode evitar os conflitos 
Das razões e só o amor
Pode evitar a total destruição
E só o amor pode acabar
Com a praga da maldição
E só o amor pode fazer com
Que cada povo dê a mão e
Só a paz pode fazer nascer
Amor em cada coração e só
O amor expulsa a praga do
Mundo e só o amor expulsa
A praga daqui e só o amor
Purifica o mundo e caiu uma
Praga aqui e caiu uma praga
No mundo mas só pensar
Em amor a praga começa a 
Fugir e o amor amaldiçoou
A maldição para o mundo
Ser melhor e para o mundo ser
Um só e para mundo ser igual
E para o mundo unir as mãos.

"Penúltimo Caderno", Crença, SL/SD; Publicado: BH02901202021.

E não acredito na morte
Acredito na loucura e
Acredito na imortalidade
E que o homem ao saber 
Viver nunca vai morrer
E o homem ao saber 
Amar vai sempre se
Encontrar e não vai
Apodrecer e vai sempre
Estar inteiro e não
Acredito em defunto e
Acredito em maluquices
E acredito em doidices e
Acredito na alma que tem
Amor e acredito no 
Espírito que tem paz e é
Superior e não acredito
Na morte e acredito na 
Luz e acredito no sol e
Acredito no céu e que
Podes ser imortal ao 
Ser um homem bem
Prevenido e com amor e
Paz e calma e tranquilidade
E por isso digo que não
Acredito na morte e
Daqui a uns anos se todo
Mundo viver bem
Ninguém mais vai 
Morrer e faças essa
Experiência e vais ver
O resultado e não
Acredito na morte e
Nem falo em morte e
Acredito é na vida e
Acredito é no amor e
Acredito é na paz e não
Acredito na morte e não
Acredito na sorte pois a
Minha crença é a vida e
Minha crença é a paz e
Não acredito na morte.

"Penúltimo Caderno", Novo ser, SL/SD; Publicado: BH, 02901202021.

Olhos da cabeça
Olhos do corpo
Olhos da alma
Boca da cabeça
Boca do corpo
Boca da alma
Cabeça da cabeça
Cabeça do cérebro
Cabeça do corpo
Cabeça da alma
Tudo que tens
Tens multiplicado
Coração do corpo
Coração do coração
Coração da alma
Pernas do corpo
Pernas para que vos quero
Pernas da alma
Mãos dos braços
Mãos das mãos
Mãos do corpo
Mãos da alma
Se por acaso
Chegar a morrer
O teu ser externo
O teu ser interno
Pode viver
Em tua memória
Pode viver em ti
O coração da alma
Nunca morre
O pensamento
A mente
Quando encontram
A alma
Formam um novo ser
Cheio de vida
Cheio de amor
Cheio de carinho
Um ser sem moléculas
Sem prótons
Um ser sem poeira
Sem vasos sanguíneos
E sem glóbulos
Brancos e vermelhos
Amor do corpo
Amor do amor
Amor da alma
Paz do corpo
Paz da alma
Ferida do corpo
Ferida da alma
Tudo pode ser resumindo
No fim de tudo
Em um novo tu
Em um novo ser
Basta amor
Basta paz
E fé e coragem
E vais te transformar
Num ser sem poluição
Num ser puro
Cheio de bondade
Cheio de gratidão
Resplandecente de luz
Quem olhar para ti
Vai ter que usar
Óculos escuros
E se quiseres
Desde agora
Ser um novo ser
Então deixes o amor
Acabar contigo.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Antônio Furtado, "Poesias e Crônicas", Isiquié, o Brabo.

Não tinha certidão de nascimento
Cuspia fogo, comentavam
Bebia fel
No lugar da cachaça
Nascido, falavam
No Norte, Nordeste
Cidade natal?
Sertão, onde imperava a seca
Sol avassalador
Terra infértil
Chuva ausente
Isiquié partiu
Vindo parar em Belfort Roxo
Impondo respeito
"Peixeira" afiada
Dez polegadas
Virava o cão
Enfrentava até polícia
Porém, respeitando
O Cabo José Mão de Ferro
Com ele, malandro se benzia
Quando os dois se cruzavam
Saía faísca, o tempo fechava
Cabo José afirmava
 - Isiquié, é cobra venenosa
Afirmam, se é boato ou não
Certa vez, no Distrito
Isiquié derrubou vários da farda
Cabo José foi chamado
Para acalmar a fera
Na grade ninguém
Tirava "farinha"
Conheciam a fama
Isiquié, na perna e na mão
Impossível de aturar
Na cintura a amiga inseparável.

domingo, 26 de dezembro de 2021

ANDRÉ NÓBREGA, A TUA PELE GRITA SÂNCRISTO EM CONSOANTES AZULADAS, SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS.

Insira qualquer palavra agora escrita. Sem fleuma, o instante chama o que mais evito. Reunida com arbítrio, o verbo é estéril e o seu teto reluzente fica implicante. Quando a noite habita o teu nome, a tua pele grita em sâncristo consoantes azuladas. Nos dias de semanas urgentes, os versos apenas embaralham datas. Os trânsitos errados ficam práticos, os hábitos considerados pela anarquia, em vaga caudalosa transformação. Ontem, enquanto o dia urgia o meu cansaço, o fel consumia marasmo, atônito. A palavra fragmentação a lua e o teu cigarro no mesmo assoalho. Eu lia insensatez contigo já repleto, apaixonado. É fácil consumir tempos errados, ser cortês com companhias sem vínculo. Agora, quero apenas consumir vias, considerando vôos com seus inevitáveis estragos.

ANDRÉ NÓBREGA, A NOSSA GRAMÁTICA, SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS.

Apague estas palavras em seu colo.
Logo, o poema não valerá como ruído,
ou silêncio combinado. São pretensos
os verbos escolhidos. Ineficazes, as nossas grafias já estão. Porque a sua presença suplica sintaxes perfeitas, a nossa prática justifica impasses. Então, daqui não contam as frases, a justeza de alguns versos. A sua aderência kamikaze, os seios a soar como cartase inibem a metáfora. Juntos, vamos dando sentido ao suor, tornando nefastas as conversas. Basta de murmúrios floridos, falas impressas com artimanhas e arestas. Nos nossos mundos atingidos pela novidade a ignorância nos atravessa. Está explícita uma mágica densa, mestra a nos demonstrar uma lenta e elaborada gramática. 

ANDRÉ NÓBREGA, A URGÊNCIA NA ESPERA, SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS.

Há uma fogueira branda em meus calcanhares
Que viceja adiante uma poeira mínima
Feita do pó nas varandas
Só com uma lua sem pares.

Há uma fogueira máxima de falhas
Em meus braços. 
Não é alcance
Pertence mais aos cacos certeiros
Cujas mãos carecem por costas
Onde ponteiros brutos não apontam.

Há uma fogueira vacilante em meus ombros
Ela incinera chances prósperas
E consome inteira, escombros
Para ensinar a urgência na espera.

Há uma fogueira agora apagada no peito
Apegada a firmezas ela resseca extremos
Breve nas chamas minha fogueira respira
A entrada avessa e também caudalosa
De um incêndio que não sabe ficar pelo meio.

"Penúltimo Caderno", A caminho da roça, SL/SD; Publicado: BH, 02601202021.

A caminho da roça
Que a chuva já vem
Cuidado com a cobra
No meio da estrada
E cuidado com a onça
Na mata também
Pegues a espingarda
Bem carregada
E vais depressa
Sem correr
Leves o burro
E a mula
Leves o jumento contigo
Chega lá
E ponhas o milho no cocho
Para os bichos comerem
Soltes os cachorros
E prendas as galinhas
Ponhas os galos em separados
E a caminho da roça
Que a noite já vem
Se ficares para atrás
Vais te perder
Olha as estrelas que enfeitam
O quase fim da tardezinha e
Olha as estrelas que enfeitam
A quase de noitinha e
Não esqueças da boiada e
Fala para os homens
Buscá-la na manga
Vê se apanhas água na cacimba
Encha o pote
Abasteça a moringa
Faze a janta
E pegues a viola
Deixa minha janta na cuia
Em cima do fogão
A farofa na gamela de capitão
E a viola atrás da porta
Faze tudo e vais dormir e
Quando chegar logo mais à noite
Canto para ti e
Vou cantar a noite toda
Para embalar teu sono
Até o dia amanhecer e
A caminho da roça
Sem pensar em sofrer
Amo-te demais
Quero-te demais
E não posso te perder
Ponhas amor em tudo aqui
Que a paz já vem ali
Agora venhas para a cama
Que já vou dormir
Um beijo para ti
Com gosto de pitanga
Um abraço de tamanduá
E um carinho de onça
Gosto muito de ti
Boa-noite meu amor
Não durmo sem ti
Boa-noite meu amor
Não sonho sem ti
Boa-noite meu amor
Não vivo sem ti.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

"Poemas Fantasmas", E tenho que mudar esta minha mentalidade, RJ/SD; Publicado: BH, 02401202021.

E tenho que mudar esta minha mentalidade
É que não vivo nem deixo outros viverem e 
É que não amo nem deixo outros amarem e 
É que preciso mudar este meu pensamento 
E descobrir  a vida e descobrir o amor e 
Descobrir a paz e preciso acabar com este
Meu medo do mundo e preciso acabar com
Este meu medo da vida pois o que tiver de
Acontecer acontece e nada pode impedir e
Então para que temer? deixa acontecer e
Depois a gente vê como é que fica e preciso
Encontrar a alegria da vida e a alegria do 
Amor e a alegria da paz e preciso deixar de
Impedir que os outros também encontrem
Essas alegrias pois se não as encontro não
Posso impedir quem encontra e tenho que 
Afastar-me desse meu mal passado mau é
Que hoje tudo é moderno e é que hoje tudo
É para a frente e não posso ficar ligado 
Naquilo que já passou pois passou acabou e
Tenho que mudar mesmo e seguir os passos
De quem é feliz e sabe viver e não colocar
Pedras nos caminhos e tenho que mudar ou
Do contrário não sei o que vai ser de mim 
Ao viver afogado e ao viver sufocado na
Minha ignorância e em meu medo e em
Minha obscuridade e preciso mudar e
Mudar já e já perdi muito tempo do jeito
Que sou e preciso ser outro bom e melhor
Com mais paz e com mais amor mais nada.

"Poemas Fantasmas", Hoje gostaria de dizer, RJ/SD; Publicado: BH, 02401202021.

Hoje gostaria de dizer
Que estou aborrecido
E nervoso talvez é que
Estou enjoado desta vida
Cheia de rotina e tédio 
E gostaria que esta vida
Fosse melhor e que as
Pessoas comuns agissem
Mais possuídas de amor
E mais humanas em paz
Mas no mundo de hoje
Penso que é impossível
Um homem em geral
Viver em harmonia com
Os entes a passar pelas
Ruas da cidade e nem
Sequer olhar para a cara
Uns dos outros e às vezes
Ando a querer falar com
Alguém e dizer o que
Sinto e o que penso do
Mundo e das coisas que
Nele existem e se sair por
Aí a falar com todo mundo
E a cumprimentar todos ou
Algo assim logo logo estarei
Na cadeia ou no hospício
Como maluco ou louco
Perigoso e por isso hoje
Gostaria de dizer milhões
De coisas ou milhões de
Palavras mas não sei me
Expressar e nem tenho um
Método de comunicação e
Nem vocabulário e o que
Tenho é de muito medíocre
E tem ocasião que me sinto
Medíocre e ridículo também
E por mais de duas vezes
Peço amor ao mundo e às
Pessoas para que não deixem
Que o mundo nos roube a
Nossa parte humana e nem
Deixe que o aborrecimento e
O nervosismo e o mau-humor
E o ódio façam parte de nossas
Vidas e vamos procurar nos
Conhecer melhor e olhar mais
Uns para os outros e não é
Bem melhor assim ou não?

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

"Poemas Fantasmas", E penso que seria muito bom se, RJ/SD; Publicado: BH, 02301202021.

E penso que seria muito bom se
Não houvesse tanto ódio na humanidade e o
Que torna esse mundo sem sentido e sem
Graça é o ódio e o mal que existem nos
Corações de todos nós e é a desconfiança e a
Falta de amor uns aos outros e deveríamos
Todos lutar pelo direito de amar e procurar
Implantar mais amor e paz nas coisas do
Mundo pois não só de dinheiro vive o homem
E o ser humano normal precisa também de
Amor e de paz e de compreensão para poder
Viver mas esse ódio abrasador e esse ódio
Mortal que nos devora e nos impede dum
Entendimento melhor e maior uns com os
Outros e seria muito bom se todo mundo
Entendesse que somos seres iguais e que
Podemos nos chamar de irmãos e que não
Existe cor e nem preconceito e nem povo
Diferente e nem nações mais superiores ou
Mais inferiores e todos somos matéria e a
Matéria é fraca e deteriora e seria muito bom
Se todos nós nos colocássemos em nossos
Devidos lugares e até animais tais cachorros
E gatos por exemplo têm mais paz e mais
Tranquilidade do que a gente que se diz gente
E até hoje não consigo andar despreocupado
Pela cidade sem a ideia de que de repente
Vai cair um cadáver na minha cabeça e não
Estamos em segurança e em confiança e em
Garantia e nem tranquilos nem mesmo
Dentro do nosso próprio lar e isso é uma pena
E é muito lamentável e seria muito bom se
Não existisse no mundo nem problemas e
Nem fome e nem guerras e nem exércitos e
Nem nações e nem nada e só paz e amor e só
Homem e mulher a amar e seria bom e seria
Muito bom mas infelizmente isso não pode
Acontecer e nem mesmo em sonho mas se um
Dia isso acontecer em sonho acreditarei no
Sonho e serei um sonhador porque acredito
Na exterminação do pesadelo do ódio e
Acredito na calma do espírito e que sou um
Homem e sei muito bem disso e acredito em
Deus e sei muito bem disso também amém.

"Poemas Fantasmas", Neste Natal moderno, RJ/SD; Publicado: BH, 02301202021.

Neste Natal moderno
Onde Jesus Cristo é esquecido
Desejo à humanidade
Um pouco de luz
Na inteligência
E que em todo Natal
Se lembre de Jesus Cristo
Natal sem Jesus Cristo
Não é Natal
Abençoado seja
O dia de Natal
Que o mundo pare
Que a guerra pare
Que a fome acabe
E que neste dia sagrado
Neste dia santo
Reine em nossos corações
Apenas o amor
Apenas a paz
Neste Natal do século XX
Espero que todo mundo
Dê a mão
E numa só voz
Entoe uma canção
Não com a voz da boca
Mas com a voz do coração
Para que o Natal
Seja Natal
Para que o Natal
Seja Jesus Cristo
Neste Natal moderno
Quero ver todo mundo
A andar na luz
E a luz é Cristo Jesus
Estejamos juntos
Neste Natal moderno.

"Poemas Fantasmas", Não presta, RJ/SD; Publicado: BH, 02301202021.

Não presta
Sei disso e disse que
Se pudesse
Matava e
Se tivesse coragem
Exterminava
E que era
A vontade de matar
E a vontade
De acabar com tudo
É tão grande
Que só em ver o mundo
A mão começa a tremer
E não presta
E  quer esquartejar
E quer estripar
E escangalhar a máquina
E estrangular o sistema
E fazer a sociedade
Virar pó
É tão grande
Que não suporta mais
O pensamento
De não ter
Um botão de destruição.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

"Poemas Fantasmas", Imaginação, RJ/SD; Publicado: BH, 0220120201.

A sede de sangue
O prazer pelo ódio
A alegria no mal
A vida na dor
E a alma no desespero
São as razões
Desse desgosto
Dessa desgraça de viver
No caminho torto
Coração parado
Olhos cegos
Ouvidos surdos
Corpo sem vida
São as causas
Da ignorância
Da brutalidade
Da mesquinhez
Para que lutar
Para que interessar
Pela vida
E pelo amor
Pela mulher
E pela paz
Tudo isso é sonho
Sonho é loucura
Loucura é doença
Doença é morte
Destino certo
De cada um
Podre ou não
A sede de morte
Já apodreceu
Na garganta
O ódio sem fim
Já ressecou
Os corações
Essa falta de amor
Essa falta de paz
São o enterro
Essa indiferença
Essa falta de consideração
São a sepultura
As causas eternas
Na imaginação.

"Poemas Fantasmas", Obedecer, RJ/SD; Publicado: BH, 02201202021.

Obedecer
Sei que o caminho
Sei que a saída
Sei que a razão
É obedecer
É obrigado a obedecer
E obedeço contrariado
Mas obedeço
E obstinado
Mas obedeço
E revoltado
Mas obedeço
Obedecer
Sei que a vida
Sei que a felicidade
Sei que o certo
É obedecer
E obedeço
Morto de raiva
Mas obedeço
A passar fome
Mas obedeço
Obedecer
Sei que para ser livre
Sei que para ser homem
Sei que para viver
Tenho que obedecer
E obedeço.

"Poemas Fantasmas", Ama as árvores, RJ/SD; Publicado: BH, 02201202021.

Quando tiras uma folha
Duma árvore
Acabas de tirar um pouco
De tua vida
Quando derrubas uma árvore
Acabas de derrubar
Um mundo
Respeita as árvores
Respeita a natureza
Luta contra quem
Quer acabar com a vida das árvores
Luta contra os inimigos das árvores
Se continuar assim
Daqui a uns dias
Não teremos nenhuma molécula
De ar purificado
Ou de ar natural
Na atmosfera
Guarda as árvores no teu coração
Dá-lhes um amor
Dá-lhes uma paz
Dá-lhes um carinho
Também necessitam disso
Para viver e gerar vida
E quando fores tirar uma folha
Uma única folha
Duma árvore
Penses bem
E quando fores derrubar
Uma árvore
Por mais insignificante
Que seja
Lembra-te que
Estás a derrubar
O viver.

"Poemas Fantasmas", E hoje não te vi, RJ/SD; Publicado: BH, 02201202021.

E hoje não te vi
Nem tua imagem
Nem teu sorriso
E nem teu corpo
E hoje não te senti
E hoje não vi teu olho
Nem tua mão
Não peguei tua mão
Nem vi tua boca
E hoje não vi teu rosto
Nem acariciei tua face
Não vi a paz do teu semblante
E hoje não ouvi tua voz
Não ouvi nenhum som vir de ti
Nem enfiei a língua no teu umbigo
E hoje não te vi na rua
E hoje não te vi nua
Nem refletida
E nem reflexível 
E hoje não te amei
E não te acariciei
Não senti teu calor
E nem os arrepios da tua pele
E hoje foi um dia escuro
Um dia morto
Um dia infinito
Sem horas certas
E hoje foi um longo dia noite
Não falei contigo e
Nem mordi a ponta da tua língua e
Nem olhei no teu olhar
Não abracei teu corpo belo
E nem te adorei
E hoje morri de desgosto
E hoje estou morto
E sou um cadáver
E sou um esqueleto
E sou um indigente
Um resto de gente
E hoje estou inerte
E hoje não te vivi
E hoje não existo.

"Poemas Fantasmas", Meu olhar apodreceu, RJ/SD; Publicado: BH, 02201202021.

Meu olhar apodreceu
E o esqueleto de minh'alma
Se confundiu e se transformou
No fantasma fantástico do meu
Corpo e meu cérebro derreteu
As penas e apenas tudo
Desfaleceu e padeci
Apodrecido na sepultura
Incerta a mastigar terra entre
Pus e sangue e catarro e
Réptil ou o que for e cobra ou
Serpente e víbora repelente e
Nem lobisomem e nem jacaré
Nem vampiro e nem crocodilo
Nem morcego e nem rato e só
Fantasma de corpo sem corpo
E sem alma e meu olho cego
Virado na órbita de betume e
Medonha onde vermes e 
Germes eram planetas e 
Cometas e foguetes e meu
Olho podre no espaço do 
Vácuo vagou infinitamente e
Incerto ficou infame só um
Sorriso macabro e só um resto
De forma informe na tumba da
Catacumba alheia e meu 
Enterro no fim foi o começo e a
Caminhar rente a faia agora estou.

"Poemas Fantasmas", Não tive ânimo hoje, RJ/SD; Publicado: BH, 02201202021.

Não tive ânimo hoje
Para ir à rua e queria
Sair e ir ao cinema e
Depois tomar umas
Cervejas e passear 
Um pouco e bater 
Um papo com os
Amigos mas estava
Tão desanimado e
Com tanto desânimo
Que fiquei em casa a
Dormir o dia todo e
A morrer o dia todo e
Não tive ânimo hoje e
Nem para ir ver a 
Minha mulher e até
Queria sair e viver o
Dia e andar um pouco
A olhar as modas a 
Olhar o tempo mas a 
Preguiça nem pensar
Me deixou hoje e 
Tomou conta do meu
Corpo e do meu espírito
E de minh'alma e do 
Meu pensamento e hoje
Não tive ânimo nem
Para viver e queria
Fumar uns e tomar umas
E outras e fazer um amor
Diferente com um alguém
E beijar uma boca e 
Acariciar um corpo duma
Mulher qualquer mas
Quem disse que fiz e não
Saí da cama nem para 
Aprender o telefone e
Fiquei ali estirado e com
Desânimo e sem ânimo e
Desanimado e cansado e
Morto e podre apodrecido.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

"Poemas Fantasmas", Antropiteco antropoide humano, RJ/SD; Publicado: BH, 02201202021.

Antropiteco antropoide humano
Esquizofrênico e neurótico nasci
Bem muito antes da pré-história
E sou um troglodita antropófago
Faminto fominha com fome e o
Custo de vida está muito caro a
Matar com o de comer e com o
De beber e da idade da pedra e
Não da pedra preciosa e nem da
Semi preciosa mas da pedra
Lascada e lascado na minha
Caverna que não tem televisão e
Nem tem telefone e nem rádio ou
Som e nada tem e só tem esse 
Ser pré-histórico em plena 
História sem ser um fato histórico
E no século vinte um antro ante e
Sem consoante e um ser diante
Carente de amor e carente de paz
E carente de tudo e um ante antro
Homem comum louco da cabeça
Aos pés da pele queimada pelo
Sol do sal e pelo sol do caos tão
Incandescente e abrasado que me
Cozinhou o cérebro logo cedo de
Manhã quando apaguei a fogueira
E pela primeira vez vi as visões
Das minhas vistas e antropiteco
Antropoide pitecantropo neurótico
Esquizofrênico pitecantropus-erectus
Dizem que sou homem e humano.