Olho para todos os lados
Todos perguntam-me para onde olho
Não olham junto comigo
Se olhassem
Veriam o que procuro ver?
Olho para todos os lados do paralelogramo
Não enxergo lado algum
Não perguntam-me o que procuro enxergar
Estou numa janela
Daqui de cima
Procuro visualizar a história
Para fazer uma história
Mas não sei contar história
Minha avó sábia sabia sabiá
Não aprendi com
Minha avó sábia sabia sabiá
Que vinha à soleira da casinha
Comer as pimentas da pimenteira
Vai ali acender meu cigarro de palha no fogão
Tudo sábia sabia fazer sabiá
Cigarro de palha
Cortar couve
Beber pinga
Boa forte
Roubar nas feiras enquanto mamãe fazia as compras
Roubar nas lojas diante dos olhos dos vendedores
Rezar para quebranto
Cobreiro
Caxumba
Espinhela caída
Dordói
Contar causos de assombrações
Encher o saco dos padres na hora das missas
Andar com um carvão dentro da sola do pé
Ir à porta da minha escola pedir a diretora
Que a levasse em casa
Bebia pinga até alguém colocar um travesseiro
Para deitar a cabeça na calçada
Mamãe inda brigava com quem colocava o travesseiro
Peidava alto na frente doutros
Dizia que não podia prender
Para não dar nó nas tripas
Minha avó foi
É será uma das paixões da minha vida
Se um dia tiver netos
Quero ser para os meus netos
O que a minha avó foi para mim
Índia de sábia sabia sabiá
Dedicação de escrava
Protetora avó
Nenhum comentário:
Postar um comentário