Ansioso
Volto a cabeça para cima
Quero beijar a primeira estrela que passa
O pescoço estala
A nuca enrijece
Por toda uma eternidade a olhar para atrás
A olhar para baixo
Ao ter o queixo rente ao chão
Quase rastejo
Réptil anfíbio
Molusco
Nenhum brilho chega a mim
De brincadeirinha
Penso em existir
Em viver
De brincar de esconde-esconde
Com os astros do céu
Finjo não sofrer
Visto a fantasia de mendigo de raios de sol
Cubro-me com a carapuça de poeta
Com o manto da poesia
Evito deixar escapar por entre o fragor do alcantil
As escarpas das serras
O poema que elevará este barão assinalado
Por céus nunca dantes sondados
Ao berçário imortal dos clássicos
Às incubadoras das imaginações celestiais
Deu cãibra nas articulações
As vértebras estalaram
O corpo aprumou-se
Rígido
Esquelético
A pele encobria o osso inda calcinado
O esqueleto passou por entre as moléculas de ar
A bruma alvejou-o
Como se fosse de mármore
Uma escultura de marfim
Nas encostas deixou o rosto mumificado
Nu
Banhado em bálsamo
Envolto em espermacete
Âmbar azul
Jamais visto noutro céu
De firmamento puro
Sem ânsia de chumbo
Manchas de fumaça
Livre das tiras de linho que o envolviam
O cadáver viu-se na fímbria
Mal pisava o chão
Não sentia os pés
Correu pelas nuvens como se levitasse
Amamentou estrelas
Deu cria a querubins
Constelações de anjos que ainda não nasceram
Em jubilações
Anunciações de galáxias refrescantes
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