quem sabia que a poesia feria
e alimento de todo dia pão que dá azia
e quem sabia que a poesia era agonia
e angústia de ansiedade de afogado
e ânsia de asfixiado
e desassossego de enforcado
e haja pânico depressivo no poema agressivo invasivo
e quem sabia que a poesia
.já nasceu uma elegia
sem elegância de cadáver
a rigor defumado em fragrância
de réquiem
e uma ode fúnebre
e um verso rude
e um versinho tosco
e uma estrofe torta
e até um versículo satânico
e quem
sabia alguma coisa dum poema
mudo a borboleta nasceu cega a
cigarra nasceu muda o eco nasceu
surdo o poeta nasceu morto ou
não nasceu e matou a mãe e quem
diria que faltaria alegria um dia na
vida dum morto que não foi
enterrado pelos seus próprios
mortos e as formigas tiveram que
trabalhar em dobro a esconder o
horror do corpo exposto com
terror às visões das crianças dos
guetos das periferias que nunca
conheceram a poesia e o poema
sempre foi o edema duma bala
perdida justamente na boca da
face do olho a olhar o horizonte da
janela do barracão da favela o
sol que se ocultava atrás do monte
BH, 0701002021; Publicado: BH, 030802022.
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