toda vez que surge um poeta à porta
a mendigar vem logo alguém dizer
poeta menos menos poeta
e às vezes o pobre diabo do poeta nem captou
uma letra
ou compôs uma palavra
e vem ali um a reclamar poeta é tudo
menos poeta
poeta menos
menos poeta
e quando não é um pássaro a desdenhar
é uma borboleta a menosprezar
ou um beija-flor a desprezar
e junto às ondas das águas antigas do mar
mas em uníssono menos poeta
poeta menos
e o desdito desiste do dito num grito
e enfia o rabo entre às pernas
e vai às encruzilhadas a fazer mandingas
a fazer pactos aos pacotes às musas
ou fazer cantigas às namoradas janeleiras
esperançosas mas aparece uma mariposa
ou uma joaninha
e lá vem menos poeta
poeta menos
e continua a ladainha
e laudas
e mais laudas que terminam num laudo
depois do poeta deposto prostrado no asfalto
frustrado das grandes cidades
e as cigarras
e as sirenes das fábricas
e os sons
e as buzinas
e as lamúrias
e apupos menos poeta menos
BH, 01401002021; Publicado: BH, 0230802022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário