quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Muita gente poderosa já me botou para correr; BH, 0250702000; Publicado: BH, 03101002013.


Muita gente poderosa já me botou para correr
Numa assopradura forte num assopramento bruto muita
Gente já me deixou a tremer de medo de
Covardia muita gente já me fez perder a
Condição de homem de ser humano
Perante ao meu pai perante à minha
Mãe perante a muitas outras pessoas
A muitos outros amigos muita gente já
Fez-me de gato sapato já deu-me tapas
Na cara já deu-me murros na cara como a
Ditadura que passou a mão na minha bunda,
Deflorou-me seviciou-me sodomizou-me
Com medo nunca tive coragem de reagir minha covardia
Nunca me deixou tomar atitude de homem à altura
Que deveria tomar qualquer outra pessoa ao levar
Um tapa na cara um murro no rosto um soco no
Nariz ou ter a bunda apalpada pelos generais
Muita gente quis me assorear produzir
Assoreamento em meu caminho obstruir com
Barras a minha passagem como se fazem com os
Rios muita gente quis encher de areia meu
Ventilador não me deixou assossegar ficar
Sossegado no meu canto ia sempre um me
Dava um chute toda vez que queria só
Sossegar queria só brigar corria não era Lamarca
Feito galinha choca de quintal pois não era Marighella
Tinha a disposição de Prestes de deixar ninguém
Assovelado não tinha a coragem de deixar
Todo mundo em forma de sovela picado
Furado espicaçado irritado deixava
Era a me assovelar a me espicaçar a
Irritar-me corria para casa a gritar mamãe
Debaixo duma verdadeira assoviada duma
Grande assoviadeira dum verdadeiro
Assoviado que se tivesse moral nunca mais
De casa saía quando aparecia na rua outra vez
Lá vinha logo um para me assovinar picar-me
Furar-me com sovina ou com canivete ou pedaço
De arame a estimular aos outros me espancarem
A me baterem enquanto se divertiam com a
Minha cara pois isso acontece até hoje ainda não
Aprendi a me assubstantivar inda não me
Dei o caráter de substantivo que por si só se
Designa a própria substância ainda não sou
O que subsiste como a cor que pega sem
Precisar de fixador inda não tenho nome
Não tenho a palavra pela qual sou nomeado
Ser denominado ideia até hoje não
Soube me substantivar os meus inimigos
Todos conhecem a minha fraqueza
Não sei o que pode me assungar me puxar
Sungar da lama da podridão
Não sei como fazer para ser assuntível
Suscetível de ser assumido pela sociedade
Sem ser execrado em praça pública
Ninguém me assume como amigo me
Adota como colega não sou assuntivo a
Não ser para ser assunto de matéria ou
De objeto de depreciação de que se trata mal
Tema versado no que é para abominar
Atenção para o que for a versar para humilhar
Argumento de que não sirvo para
Acompanhar para ser acompanhado
Isso faz de mim um ser não assurgente
Um ser que não surge que não se ergue
Que não fica aprumado remontante
Que só sabe se esconder em vez de assurgir
Vivo em infinito estado de assustoso tudo
Causa-me susto tudo me mete medo
É por isso que preciso duma asta de algo
Que serve para fazer recuar os bois bravos
Os touros ferozes jungidos contra mim pronto
Fernando Pessoa enfim viste um ser humano o
Qual procurava nunca havia encontrado

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