Tenho muita vergonha quero enlapar-me
De todos os dias que já vivi preciso enlurar-me numa toca
Entocar-me numa caverna esconder-me num quarto
Escuro ocultar-me da luz do sol enfurnar-me
Numa cova de sepultura de cemitério esquecido
Cemitério de Perus de indigentes cujas ossadas não servem
Para construir igrejas nem para serem reconhecidas a verdade
Envergonha-me o enlatamento em que encobri-me o acondicionamento
Em que encontro-me não livra-me da mentira
Sigo confuso o meu caminho um ser indeciso um
Homem perturbado amaranhado nos próprios problemas
Entrelaçado nas fraquezas enleado na insegurança
Não me conheço só o enleamento é o meu dia a dia
Vivo de confusão acanhamento embaraço
Nunca estou enleitado nem bem assente como
Pedra para construções jamais me senti bem colocado
Dentro de mim manda qualquer arroubo sinto
Êxtase superficial o arrebatamento a enlevação
Não são de profundidade nem de paixão
É um falso enlevamento tal o de cadáver em
Decomposição não existe enlevo dentro de mim
Perdi o encanto quando nasci matei meu
Arroubamento meu deleite é banir a maravilha
De dentro de minh'alma a culpa é minha
De ser um enliçador ajo como um
Impostor todos me conhecem como um enganador
Trago a alcunha de cavilador burlão cada vez
Que vivo mais aumento o enlodaçar dos meus
Dias só sei transformar em lodaçal meu terreno
Seguro de tanto viver enlameado coberto de lodo
Tenho nojo de mim mesmo de meu corpo enlodado
Não sei parar de enlodar-me quero é enlamear
Sujar contaminar todo mundo tornar o mundo
Ludro o planeta turvo o universo sujo estou
Aqui para enludrar o firmamento encafuar o
Céu alapardar os astros o único prazer de ser
Enlourado é nisto só sou ornado coroado de
Louros é nesta olimpíada donde nunca saio vitorioso
Sou o atleta que os deuses não sentirão honra de
Enlourar não quererão enfeitar-me ou coroar-me
De louros não me deixarão alourar nem enloirar
Os cabelos crespos secos raros que trago na cabeça
O enlourecer que herdarei é o de parafina de
Água oxigenada o tornar da cor de louro que
Herdarei é o do amarelecer do pus da minha
Carne podre o enlourecer putrefato cujo enlouramento o
Revestimento com louros ou pedras com esta coloração
Tentarão esconder tentarão enlourar cobrir cobrir forrar
Enloirar até que não haja mais vestígios do
Mau cheiro que exala da minha putrefação
Nada mais resta em mim que pode me enobrecer
Não tenho em mim nenhum dígito dignificador
Todo meu teor é de enojado fruto nauseado
Feto aborrecido cadáver enfastiado de viver
Arrasto pelas sombras o meu luto nas entranhas a
Náusea o enjoo vem desde a medula o enjoamento
É total a vergonha é geral mesmo na penumbra
No limbo entre a treva a escuridão minha
Silhueta ainda é sentida sou o senhor da
Guerra do ódio da morte da destruição
Meu travesseiro é a pedra do meu sepulcro a
Minha cama a lápide o aqui jaz sem epitáfio a
Devida identificação ou numeração de ordem
A coberta que me cobre é a treva o sono é a
Morte o pesadelo a senha que não levará ao
Sonho que não será realizado nesta geração
Muito menos nas gerações vindouras
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