Ficarei exposto aqui a madrugada toda
Em companhia dessa chuva fria até pegar
Uma febre no tranco é que sou igual carro de
Motor velho e só pego no tranco no trampo
Ou no arranco ou aos empurrões e preciso
Duma febre alta para reagir à essa baixa
Intensidade de temperatura e à essa inércia
E falta de energia vital que prostram-me
Eternamente e com febre e calafrios e arrepios
Aos olhos alheios dos semelhantes e aí posso
Passar a impressão de que estou vivo e o que
Move-me são esses fantasmas de fantasias
Através desses pendões estendidos por meus
Membros e manipulados das trevas por esses
Ectoplasmas ocultos com suas súbitas mãos
De névoas e de brisas e de neblinas e dos seus
Corpos de serenos e de orvalhos dispersados
Nas gotas das garoas das chuvas fininhas que
Tantas lembranças e memórias e recordações
Trazem às cabeças que não foram decepadas
Nos cepos do fascismo que querem cobrir de
Trevas medievais o iluminismo de poetas
Vivos que tentam ressuscitar este poeta morto
E sois a minha alavanca e sois a minha vara e
O meu cajado e sois o meu ponto de apoio e
Sou esse mundo imundo morto que tentais
Mover para a vida e a minha esperança é em
Vão de poetas teimosos que desfibrilais o
Meu coração e me fazeis respiração boca à
Boca e soprais nas minhas fossas nasais
Obstruídas pelos tempos do atraso e desperta
Estátua e fala e anda máquina sonâmbula de
Mármore teleguiada por telepatia espectral.
BH, 0130202020; Publicado: BH, 0130502022.
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