Abençoados sejam meus pretos
Bem-aventuradas minhas pretas
Negras canonizadas santificadas
Almas relhadas nos pelourinhos
Bendito sangue derramado na
Escravidão justificado pelos
Padres da igreja pelos deuses do
Céu a benção meus tios pretos que
Foram levados vieram trazidos
Em transe em trânsito minhas
Mães de santo mucamas meninas
Moças para servir senhores barões
Abençoados sejam todos os que
Foram amaldiçoados pelos malditos
Lançados em porões senzalas
Cortiços favelas lugares proibidos à
Justiça à igualdade à fraternidade
À liberdade aonde andam as
Marias pretas que cuidaram de mim
Ensinaram-me cantigas causos curas
Cadê minhas negras pretas Marias
Abençoadas sejam beatificadas
Fizeram milagres comigo levaram-me
A passear nas esquinas a ver os letreiros
As vitrines das lojas as luzes das noites
Os luzeiros as estrelas do céu mas
Um céu só de pretos um céu para os
Pretos que nunca foram para o céu
Pela outra liturgia nunca vão para o céu
Mas não importa um céu de mortos que
Fique lá com seus mortos os céus dos
Pretos têm batidas de pés calejados no
Chão dos terreiros têm costas vergadas
Muita batucada farofa de galinha azeite de
Dendê a benção meus avós deixa eu entrar que
Vim de longe a subir a serra da Barriga do
Quilombo dos Palmares do lado de lá meus
Antecedentes antepassados ancestrais reverenciar
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