Sou um homem obscuro
Magoado opaco
Sou um homem fechado
Cheio de chumbo concreto armado
Dentro da caixa encefálica
Sou um homem incompleto
Em meu peito
Não tem coração
De péssima alvenaria
Ruim acabamento
Um homem que todos passam longe
Sem qualidade ou valor
Vivo nas trevas
Não tenho luz própria
Nada é natural
Nasci num sepulcro
Meu primeiro choro
Foi um grito de dor
Minhas lágrimas
Foram sangue
Não conheci o amor
Sustentei o rancor
Fingi que era vivo
Sorria para não chorar
Vi meus filhos morrerem de fome
A se serpentearem na poeira
A se banharem no pó
Faiscavam fogo pelos olhos
Enchiam de cinzas o vulcão
Cada um cavou a própria sepultura
Antes da lava mortal
Viramos todos estátuas eternas
Jogadas num canto do quintal
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