Trabalha agora como possas, cérebro. - 
Um prazer incompleto o dilacera. 
É enervante a sua condição. 
Beija o rosto do amado todo dia, 
Sua mãos lhe acariciam os membros admiráveis. 
Jamais na vida amou assim, com tal paixão. 
Porém lhe falta a bela plenitude 
Do amor, a plenitude que há sempre de existir 
Entre dois amantes com desejos intensos.
(Não têm, os dois, igual pendor para os prazeres anômalos, 
Que só a um domina por inteiro.)
E ele se irrita, e ele se atormenta. 
Além do mais, está desempregado; e isso conta. 
Umas pequenas somas de dinheiro 
A duras penas consegue (quase as tem 
De mendigar, por vezes) e vive pobremente. 
Beija os lábios adorados; sobre 
O corpo admirável – que, só agora entende, 
Apenas consente – se deleita. 
E depois bebe e fuma, fuma e bebe, 
E pelos cafés arrasta, o dia todo, 
Com tédio arrasta a dor da sua formosura. - 
Trabalha agora como possas, cérebro.
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