que quer sair da solidão da solitária
para trabalhar num projeto
de vida além da morte
morto cadáver já aqui jaz
veio no esquife do aquém
quem diria defunto a querer
fazer poemas com alegria
nem sabe que a maravilha da poesia
sem fantasia espantalho sem maestria
com azia comeu pão dormido
fantasma destemido bebeu leite azedo
ectoplasma sem segredo
não tem um mistério para contar
não sabe fingir
só quer enganar
ninguém mais leu uma linha
quanto mais paralelas no infinito
horizontes feridos pelos raios disparados
pelos sois dos universos diversos
diz os versos que direi se sabes dizer
o que queres dizer
todo mundo já disse de tudo neste mundo
na próxima geração
todo mundo do mundo mudo
cada um a arrastar uma capsula que é um caixão
câmara mortuária
num féretro de enterro coletivo
o último não garantirá a evolução da espécie
o bloco de rocha se transformará num bloco de gelo
cometa escuro apagado no céu escuro
a solitária solium no organismo do solitário
preso na solidão da solitária
a roer o que restou
pois é tudo que a um verme resta fazer
um poema réquiem
uma poesia in memoriam
um soneto póstumo
a morte da liturgia da antologia
BH, 01801202024; Publicado: BH, 0210302025.
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