e o poeta está sozinho como sempre esteve
e o caroço na cabeça o incomoda mais que
a morte
e o cérebro que deram à cabeça lateja como se
não a pertencesse
e o poeta percebe que o fim está próximo
e não há como evitar a colisão de encontro ao caos
e a única coisa que o poeta foi na vida foi poeta
desde o dia no qual nasceu
e a única coisa que o poeta será na morte será
poeta desde o dia no qual morreu
e que seja melhor assim a deixar aos outros os céus
e os infernos onde não há lugar para poetas
e coisa mais ridícula é chamar poeta de poeta
ainda mais quando é um poeta menor
ou um poeta de menos
e a rastejar
e já a sentir os efeitos da deterioração nas tremuras
e nas tonturas
e nas faltas de ternuras
e nos rodopios dos universos às voltas
e os versos rotos
e os versículos chocos
e os esfarrapados farrapos de poemas
e as letras feridas
e as palavras vazias nas despedidas.
BH, 050502021; Publicado: BH, 060702022.
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