e todo cinza num dia cinza depositado
numa urna fúnebre cinza deixa um fosco de cinza
e cadê aquela tonalidade azul que estava ali
naquela nesga do firmamento?
e cadê aquele dia transparente?
e tudo agora à toda hora é só dia da cor do pesadelo
e são covas
e mais covas
e sepulturas
e mais sepulturas
e féretros
e mais féretros
e não se dão contas de tantos cadáveres
e quem carregará esses corpos mortos podres às costas?
e quem enterrará esses despojos de restos
mortais nos sepulcros?
e são esqueletos
e mais esqueletos
e são ossadas
e mais ossadas
e são caveiras
e mais caveiras
e alguém há de responder por esse genocídio
e guardará no ossuário interior todos esses
ossos abandonados pelos céus
e pelos infernos
e não parece ter fim a tempestade sem fim de mortes
e não parece ter um basta a tormenta mortífera
e o furacão nos abocanha
e não temos mais a salvação no planeta placenta
ou na terra firme
ou na terra à vista que querem a alcunha de terra plana
e cada alma terá que abrir um cemitério dentro
da própria alma para hospedar todas essas
almas cinzentas que ficarão sem paraíso
BH, 080702021; Publicado: BH, 0150702022.
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