quarta-feira, 6 de novembro de 2024

penso que não vem mais nada de novo ao meu pensamento

penso que não vem mais nada de novo ao meu pensamento
o vento levou os restos mortais que o tempo matou
assoprou as cinzas que se assentaram nos ossos
envelhecidos nas cumeeiras das casas más assombradas
nos galhos das gameleiras nas folhas das tamarineiras nas
ramagens das amendoeiras o vento é implacável com quem
é poeira principalmente poeira de estradinha vicinal mineira
de caminhozinho de encosta de vereda de atalho que corta
riozinho de pinguela de bacia furada de gamela rachada de
mão de pilão quebrada no quintal no terreiro o vento chega
ligeiro a levantar ciscos a levar ao galinheiro que desespero
desse redemoinho joga dentes de alhos para a gente ver o 
romãozinho minha avó come primeiro menino um capitão
de arroz carne farinha feijão para não falar palavrão se
falar te dou pimenta malagueta olha o sabiá não espanta o
curió do teu tio acende meu cigarro de palha na brasa do
fogão de lenha traz um pouquinho de pinga na canequinha
para mim mas não bebe senão tua mãe vai brigar comigo
menino malino igual saci-pererê fumou meu cigarro de
palha todinho bebeu minha pinga comeu minha pimenta
assim ninguém te aguenta agora vai passar mal na igreja o
padre vei te colocar para fora da missa nunca vi isso na
minha vida o que foi minha avó? dá mais um pouquinho
de pinga aí dá mais um traguinho do teu cigarrinho aí

BH, 030902024; Publicado: BH, 0601102024.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

a extrema-direita quando chega ao poder

a extrema-direita quando chega ao poder
faz questão de dar jus ao nome extrema-direita
de pior qualidade justamente a que engloba
cristãos armas preconceitos ódios estado
mínimo fim dos direitos humanos fim dos
direitos sociais fim dos direitos trabalhistas
pois encontra no meio do próprio povo
trabalhador brasileiro ou da própria nação
trabalhadora brasileira infelizmente apoiadores
às suas causas às suas pautas destruidoras das
políticas populares negacionistas apátridas tais
cidadãos que são contra as faculdades as
universidades são contra à proteção ao meio
ambiente às reservas indígenas aos terreiros
aos terrenos quilombolas apoiam destruidores
da natureza garimpos ilegais incentivam
incêndios florestais exterminam à fauna à flora
porém a maioria do povo trabalhador brasileiro
não percebe o quanto é nociva o quanto é nefasta
o quanto é fascista o quanto é prejudicial à nossa
democracia a extrema-direita vira-lata entreguista
lesa-pátria pois parte da maioria do povo da 
nação trabalhadora brasileira ainda se identifica
com pastores que odeiam a democracia se identifica
com militares policiais milicianos paramilitares que
fazem justiça com as próprias mãos políticos
fisiológicos que dizem combater o comunismo ou
o socialismo a extrema-direita quando chega ao
poder é devastação total é atraso fatal porém o povo
demora perceber o inimigo que se tem que combater

BH, 050902024; Publicado: BH, 0501102024.

domingo, 3 de novembro de 2024

alô alô cristão armamentista bolsonarista

alô alô cristão armamentista bolsonarista
de deus pátria  família que tem nas mãos
o racismo o fascismo até mesmo o
nazismo não tenho nada mas te combato
de peito aberto só coberto por minhas
obras-primas de matérias-primas outras
parentas melhores armas para se lutar
contra os inimigos da democracia da 
nação democrática trabalhadora brasileira
tenho a poesia tenho o poema à disposição
para te cacetar para te macetar tenho a
metáfora para te jogar no chão no limbo
no lixo não aguentas dois minutos de
peleja aqui o povo trabalhador brasileiro
não é pelego não é apolítico aqui o povo
não é omisso aqui o povo não é analfabeto
político aqui o povo não faz questão da
extrema-direita aqui o povo quer cultura
aqui o povo quer educação aqui o povo
não quer fascista nazista nefastos aqui o
povo quer de fato a liberdade aqui o povo
quer poder consciência cidadania dignidade
soberania supremacia aqui o povo quer
tudo que queres destruir porém não
conseguirás nós o povo trabalhador da
nação trabalhadora brasileira vamos te botar
para correr te colocar no cabresto vais
pastar noutro lugar aqui é revolução pura
aplicada nas veias aqui é irmandade
igualdade fraternidade nada de maldade
nada de ruindade nada de ódio nada de 
armas de destruição em massa aqui é 
paz amor respeito à natureza

BH, 050902024; Publicado: BH, 0301102024.

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

OBRA-PRIMA DE ELTON MEDEIROS, MEU SAPATO JÁ FUROU:



Meu sapato já furou

Minha roupa já rasgouEu não tenho onde morar, onde morarMeu dinheiro acabouEu não sei pra onde vouComo é que eu vou ficar? Que eu vou ficar?Eu não sei nem mais sorrirMeu amor me abandonouSem motivo e sem razãoE pra melhorar minha situaçãoEu fiz promessa pra São Luís DurãoMeu sapato já furou
Quem me vê assimDeve até pensar que eu cheguei ao fimMas quando a minha vida melhorarEu vou zombar de quem sorriu de mimMeu sapato já furou

que queres tu meu jovem ancião

que queres tu meu jovem ancião
abobalhado de boca torta aberta
com essa caneta na mão que mais
parece uma varinha de condão? 
oh voz que clama no deserto que
virou o país oh voz rouca das ruas
enfumaçadas do brasil quero aqui
nesta folha de papel uma obra-prima
que caia do céu quero uma chuva
que mate o fogo que não mate o
povo que volte a fazer o país florir
que volte a fazer o brasil sorrir
olhemos através dos nossos olhos
vítreos a fauna exterminada a flora
dizimada o meio ambiente poluído
os mananciais contaminados oh
voz da musa divinal oh voz da
poesia celestial oh voz do poema
espiritual atendei a esse decrépito
septuagenário poeta decadente
sem dente sem mente demente 
só doente a implorar que a gente
pare de destruir o meio ambiente
neste poema cheio de dilema
amanhã será tarde demais não
teremos água amanhecerá deserto
não teremos ar não teremos mar
o que será de nós? oh voz feroz
ferina fina aquilina de morte azar
nos traga a sorte de sul a norte de
leste a oeste cabra da peste oh xente
tomara que o povo aguente esse
torrão quente esse tição na mão
povo do sertão indígena das florestas
oh vozes atendei a essa prece depressa

BH, 050902024; Publicado: BH, 03101002024.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

quando for morrer quero morrer do jeito que morreu

quando for morrer quero morrer do jeito que morreu
federico garcia lorca a declamar bravamente um
poema ou uma poesia de minha autoria se for em
frente dum pelotão de fuzilamento também fará mais
sentido será mais simbólico morrer em vão quando
for morrer é o que não quero não avisa lá por favor
quero morrer em paz quero morrer com amor em luta
contra o terror contra o horror poeta não sente dor
toda dor do ser poeta é dor fingida sente dor quem
não é poeta sente dor quem não é poesia sente dor
quem não é poema soneto sou neto bisneto trisneto
tataraneto de preto brigão de negro confusão não de
pai joão não de pai velho cagão que enfia o rabo entre
as pernas não sabe dizer não sou capoeirista firmo
firmado no arado na foice na enxada no machado
foi-se o dia que ria para a cara feia do feitor do senhor
feudal do capataz medieval do capitão do mato
tradicional agora sou o mato a moita de espinho
cansãnção urtiga se me passar no cu vai coçar vai
queimar até sangrar grito não no primeiro açoite tomo
a chibata na mão não não não comigo não bastião
quieta lá aqui é trovão tempestade furacão coração
fraco cai por terra coração encouraçado aqui é mão de
pilão bate estaca espada de são jorge santo guerreiro
foi-se o tempo agora é foice com martelo bigorna
alavanca cravo bitelo marreta de ferreiro

BH, 050902024; Publicado: BH, 02901002024.