o vento levou os restos mortais que o tempo matou
assoprou as cinzas que se assentaram nos ossos
envelhecidos nas cumeeiras das casas más assombradas
nos galhos das gameleiras nas folhas das tamarineiras nas
ramagens das amendoeiras o vento é implacável com quem
é poeira principalmente poeira de estradinha vicinal mineira
de caminhozinho de encosta de vereda de atalho que corta
riozinho de pinguela de bacia furada de gamela rachada de
mão de pilão quebrada no quintal no terreiro o vento chega
ligeiro a levantar ciscos a levar ao galinheiro que desespero
desse redemoinho joga dentes de alhos para a gente ver o
romãozinho minha avó come primeiro menino um capitão
de arroz carne farinha feijão para não falar palavrão se
falar te dou pimenta malagueta olha o sabiá não espanta o
curió do teu tio acende meu cigarro de palha na brasa do
fogão de lenha traz um pouquinho de pinga na canequinha
para mim mas não bebe senão tua mãe vai brigar comigo
menino malino igual saci-pererê fumou meu cigarro de
palha todinho bebeu minha pinga comeu minha pimenta
assim ninguém te aguenta agora vai passar mal na igreja o
padre vei te colocar para fora da missa nunca vi isso na
minha vida o que foi minha avó? dá mais um pouquinho
de pinga aí dá mais um traguinho do teu cigarrinho aí
BH, 030902024; Publicado: BH, 0601102024.