terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

septuagenário poeta cavaleiro andante sem rocinante

septuagenário poeta cavaleiro andante sem rocinante
sem sancho pança dulcineia del toboso a enfrentar
a enfrentar gigantes sem fazer justiça pois injusto
sempre fruto podre da sociedade decadente perdeu a 
luta para a burguesia a peleja para a elite esmagado
pelo estado manteado pelo sistema lunático anjo
caído melancólico almeja o duelo bucólico porém
pisoteado pelos vassalos feudais espadado pelos
senhores medievais quase virou batata assada nas
mãos do santo ofício numa fogueira da inquisição
quando mandou parar a procissão amassado elmo
de mambrini do barbeiro que usa a bacia de fazer
barba na cabeça como proteção de chuva de sol de
volta agora poeta septuagenário sem poesia sem
poema de dores gemas em cima do catre lamentes
em lamúrias as batalhas perdidas ainda abertas as
feridas a expor a carnes envelhecidas mais mortas
do que vivas vês as assombrações assombrado as
aparições aparecidas nas sombras desaparecido
todas querem levar o ancião ansioso pela mão aí
então rejeita ajuda da morte o mais que pode um
dia terá que ceder pois não controla mais nem a
vitrola nem a radiola ou a rabiola ou os estados
fisiológicos a sofrer com os patológicos mórbidos
um dia plainará sobre os negros castelos medievais

BH, 0110202025; Publicado: BH, 0180202025.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

quem quiser falar alguma coisa que fale agora

quem quiser falar alguma coisa que fale agora
ou então que se cale para sempre pois vou me
calar para sempre nem quero falar mais nada
chega de querer falar alguma coisa quem não
tem nada para falar vou nascer mudo todo dia
até o último dia da minha vida ou o primeiro
da minha morte todo mundo tem uma morte
aboletada no cangote tenho mais duma que
até carrego uma duna já perdi as contas de
quantas mortes levo no cacaio tantas quantas
as estrelas dos céus tudo porque não consigo
esquecer essas mortes igual todo mundo
esquece porém o dia no qual aprender vou
até ensinar morto a viver vou ser professor
de vida de sorte que afasta o azar abre um
atalho faz um corte um talho dali sai a luz
todo mundo precisa duma luz para ser um
iluminado ter previsão premonição sensação
ter emoção para valer a pena a intuição fazer
alguma coisa que evite parar o coração que
já está sem adrenalina perdeu o testosterona
falhou a libido enfraqueceu o poder de
potência do anão plenipotenciário
serventuário da estagnação falso taumaturgo
quem pediu um milagre ficou frustrado
invisível ignorado ignorante na esquina era
uma vez uma saga era uma vez uma sina era
uma vez nem sei mais o que era nunca fui
não sou nem nem nunca serei nem sei quanto
mais rainha minha alma erva daninha arranca
então pela raiz a vida desse falso aprendiz

BH, 040202025; Publicado: BH, 070202025.