quinta-feira, 17 de outubro de 2024

como fazer poemas sem querer fazer poemas?

como fazer poemas sem querer fazer poemas?
como fazer poesias sem querer fazer poesias?
tantas gentes fazem tantas coisas mais importantes
fico inibido por fazer as mais insignificantes das coisas
de todas as coisas chamo tudo de todos os nomes
menos do nome certo mudo o roteiro a rota a órbita
que habita o universo não encontro resposta esperei
o vento esperei sozinho a sós só o sol não está no
meio da constelação não era um especialista no
assunto todos vodus me pensavam um defunto não
fala não ouve não vê o regente enfiou a batuta
noutro lugar o rei não sabia onde enfiar o cetro o
rei estava nu gritou alguém o espadachim longe
de mim o papel em branco o bêbado aos trancos
barrancos no espasmo na convulsão do epilético
na epilepsia nada acontecia nem de noite nem de
dia nem saúde nem alegria da ode o alegreto do
soneto bem feito sem defeito sem emenda sem pé
quebrado impossível continuar a viver sem um
poema de comer sem uma poesia de beber não sou
profissional meter sem tema um dilema um teorema 
só queria transpor aquela curva lá no azul do céu

BH, 01601002024; Publicado: BH, 01701002024.

domingo, 13 de outubro de 2024

ela me satisfaz dela me satisfaz nela me satisfaz

ela me satisfaz dela me satisfaz nela me satisfaz
minh'alma gozo ou paz que procurei tudo nela
encontrei para ela viverei ela me satisfaz dela me
satisfaz nela me satisfaz minh'alma estou feliz ao
lado dela ela está feliz ao meu lado nada mais
que precisamos tudo juntos executamos nós
nunca nos enganamos juntos nós levamos gozo
paz ou amor perdão nunca é preciso arrependimento
também não pois temos firmeza do coração vivemos
sem vacilação pois ela me dá a mão também dou
a mão a ela canto baixinho nos ouvidos dela esta
singela canção que só ela me satisfaz que só dela me
satisfaz que só nela me satisfaz minh'alma nunca me
vejo insatisfeito ela esconde meus defeitos realiza
meus desejos ela me satisfaz dela me satisfaz nela me
satisfaz minh'alma deita a cabeça no meu colo deito
a cabeça no colo dela o universo então para em
meditação ela está a sonhar ela está a gozar ela 
está feliz como quem diz ele me satisfaz dele me
satisfaz nele me satisfaz minh'alma gozo ou paz que
procurei tudo nele encontrei para ele viverei ele me
satisfaz dele me satisfaz nele me satisfaz minh'alma

BH, 01101002024; Publicado: BH, 01301002024.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

insisto sempre no mais do mesmo por covardia

insisto sempre no mais do mesmo por covardia
ou por medo o certo é que insisto sempre no
mais do mesmo não combato a burguesia como
deveria combatê-la não destruo as elites como
deveria destruí-las não ponho abaixo o sistema
como deveria pô-lo sigo a reverenciar o
capitalismo que sufoca o trabalhismo sigo a
admirar o neoliberalismo que sataniza o
comunismo desqualifica o socialismo qual um
trabalhador pelego ou um operário vira-lata ou
um proletário adesista aos patrões justifico as
ações do estado ou da sociedade contra os
trabalhadores ou contra os trabalhistas aplaudo
tudo que é colocado contra a emancipação do
proletariado forças armadas polícia federal
força nacional polícia militar polícia civil
guarda municipal milícia paramilitar que
assassina covardemente negros pretos pobres
das periferias das favelas dos guetos com as
mesmas argumentações de sempre que é tudo
bandido inveterado então não ne envergonho de
mim nem das minhas ações reacionárias
preconceituosas conservadoras estou aqui
serventuário pseudo plenipotenciário peripatético
mau boçal a rir do meu mal a relativizar o
imperialismo o genocídio indígena hiena sigo a
comer carniças que o mercado oferece sigo a
consumir carcaças sucatas a beber venenos a
respirar fumaças enxofres a ouvir aberrações de
todas as espécies espécimes em nome de deus

BH, 030902024; Publicado: BH, 01001002024.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

SUBLIME PERGAMINHO, UNIDOS DE LUCAS, MARTINHO DA VILA:


Quando o navio negreiro

Transportava negros africanos

Para o rincão brasileiro

Iludidos

Com quinquilharias

Os negros não sabiam

Que era apenas sedução

Pra serem armazenados

E vendidos como escravos

Na mais cruel traição

Formavam irmandades

Em grande união

Daí nasceram festejos

Que alimentavam o desejo

De libertação

Era grande o suplício

Pagavam com sacrifício

A insubordinação

E de repente

Uma lei surgiu

E os filhos dos escravos

Não seriam mais escravos

No Brasil

Mais tarde raiou a liberdade

Pra aqueles que completassem

Sessenta anos de idade

Ó sublime pergaminho

Libertação geral

A princesa chorou ao receber

A rosa de ouro papal

Uma chuva de flores cobriu o salão

E o negro jornalista

De joelhos beijou a sua mão

Uma voz na varanda do paço ecoou:

Meu Deus, meu Deus!

Está extinta a escravidão

qualquer inspiração inorgânica

qualquer inspiração inorgânica
pode acalentar o meu coração já
que o cérebro de cérbero não
tem capacidade de atração ou de
atrair um único raio de sol
mesmo do que seja o mais frio
que o sol mandou em direção ao
universo qualquer inspiração
pode até ser um ponto que para
o bom entendedor um ponto é
letra ou pode até ser uma letra
que também para o bom
interpretador também pode
representar uma palavra que
forma um verso ser uma poesia
é que sinto falta de qualquer
coisa que nem sei o que é então
falo que é falta de inspiração
falta dum soneto irmão ou neto
duma mão amiga que não seja
fantasmagórica que segure uma
pena transforme em milagre o
sangue da hemorragia transforme
o mundo o homem o universo o
cosmos alguma coisa precisa
acontecer para que não morra em
vão detesto morrer em vão se for
para morrer em vão nem quero
morrer quero continuar a sofrer ou
a fingir que sofro que sou um
sofredor mas sou é um fingidor já
fui até chamado de fingidor
publicamente dos mais falsos já
conhecidos desde que a humanidade é
humanidade o ser humano é ser humano
a raça humana é raça humana

BH, 060802024; Publicado: BH, 0201002024.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

a escrever freneticamente febrilmente

a escrever freneticamente febrilmente
com o universo a abrir-se à minha frente
vejo os organismos os intestinos as tripas
as estranhas entranhas as veias cósmicas
os vasos dos astros o sangue sideral o 
suco gástrico a bílis a seiva a geleia geral
a placenta com tudo que se pode imaginar
ao querer transcender plenitude dimensão
universal o pulsar dentro da cabeça de
cabaça quântica o quasar no buraco negro
A ser costurado com as linhas dos
horizontes dos alinhamentos interplanetários
trançadas com as linhas paralelas numa
agulha feita dum raio de sol o boneco do
astronauta ficou completo depois de
remendado voltou ao planeta extinto
não encontrou distinto o sistema abaixo
desfeito a espera duma explosão que
criará um novo caos sem caô com novas
dimensões nas realidades nas fantasias
nas fatalidades seus pensamentos ninguém
ainda aprendeu a falar o vento não ensinou
a resposta não assinou a teoria não abriu a 
mente para a luz que cega mais do que 
ilumina pois quando o ser não quer ver 
não há luz que o faça nascer pois morre ali
mesmo sem nem saber que morreu

BH, 02008002024; Publicado: BH, 01º01002024.