Vim do chão nasci do chão
Sou feito de chão terra pedras
Pedregulhos seixos compõem-me
Numa construção precária a areia
É pura para o cimento o alicerce de barro
Lama lodo escorregadio todo
O edifício para chapinar na firmeza
A querer cair ao levantar
Poeiras da cal com o vento mistral
Quer voltar ao berço natural quer
Embrenhar-se nas grutas do chão
Fugir para as cavernas sombrias
Ficar junto aos vermes aos germes
Das raízes que transformam-se em
Extrato de seiva vim do chão dos
Cascalhos dos cristais as britas os
Saibros são meus quintais
Todos arados com sal grosso o boi
Que puxa o arado pisa minhas costas
A abrir sulcos para semear sementes
Ressequidas de cujas hortas
Brotarão as flores do mal os jardins
São espinheiros o sangue um
Sangue ralo de réptil é que rega
Os terreiros gota à gota as raízes
Adentram a carne procuram as
Trevas abissais cipós de imbiras
Balançam a alma incerta num
Pêndulo de relógio que marca
O tempo regressivo o anti-tempo
Contrário ao tempo da última
Vez que olhei as horas foi quando
O chão se fechou em cima de mim