quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Vim do chão nasci do chão; NL, 0250202010; Publicado: BH, 080502010.

Vim do chão nasci do chão
Sou feito de chão terra pedras
Pedregulhos seixos compõem-me
Numa construção precária a areia
É pura para o cimento o alicerce de barro
Lama lodo escorregadio todo
O edifício para chapinar na firmeza
A querer cair ao levantar
Poeiras da cal com o vento mistral
Quer voltar ao berço natural quer
Embrenhar-se nas grutas do chão
Fugir para as cavernas sombrias
Ficar junto aos vermes aos germes
Das raízes que transformam-se em
Extrato de seiva vim do chão dos
Cascalhos dos cristais as britas os
Saibros são meus quintais
Todos arados com sal grosso o boi
Que puxa o arado pisa minhas costas
A abrir sulcos para semear sementes
Ressequidas de cujas hortas
Brotarão as flores do mal os jardins
São espinheiros o sangue um
Sangue ralo de réptil é que rega
Os terreiros gota à gota as raízes
Adentram a carne procuram as
Trevas abissais cipós de imbiras
Balançam a alma incerta num
Pêndulo de relógio que marca
O tempo regressivo o anti-tempo
Contrário ao tempo da última
Vez que olhei as horas foi quando
O chão se fechou em cima de mim

Tenho preguiça de pensar; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0220802012.

Tenho preguiça de pensar
De escrever de pensar
Tenho preguiça de raciocinar de lógica
De fazer solucionar
Tenho preguiça de tudo
De interpretar de entender
Tenho preguiça ainda
De compreender de conhecer
De descobrir de desvendar
Tenho preguiça de arriscar
De ser curioso de saber
Inda está para nascer
Cabra mais preguiçoso do que sou
Não vi nem conheci
Sujeito mais preguiçoso
Tenho preguiça de aprender
De viver de amar
Tenho preguiça de ser
De existir de ter
Não tenho nada
Só tenho preguiça
Não sou nada
Só sou preguiça
Preguiça de procurar
Preguiça de achar
Preguiça de tudo
Preguiça total
Preguiça geral
Sou todo preguiçoso
Ai meu Deus do céu
Meu São Benedito
Meu São Jorge
Meu Nosso Senhor do Bonfim
Ai minha Nossa Senhora Aparecida
Minha Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
Ai minha Virgem Santa
Meu Santo Antônio
Todos os santos
Todas as santas
Tirai das minhas costas
Tirai do meu corpo
Esta preguiça maldita
Esta preguiça danada
Ou me livrai de ter outra igual
Amém

Quero entrar na luta; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0220802012.

Quero entrar na luta
Na luta na defesa
Das prostitutas dos homossexuais
Também têm direitos
Liberdades necessidades
Quero gritar
Junto às meretrizes
Junto aos homossexuais
Pelo respeito pela vida
Também são gentes
São seres humanos
Precisam de carinho de amor
Precisam de entendimento
De muita compreensão
Só de solidariedade
Chega de discriminação
Chega de ignoração
De isolamento de separação
Chega de marginalização
De abandono total
Temos que amparar
Esses seres carentes
Desorganizados sozinhos
À mercê dos exploradores
Dos corruptores dos aproveitadores
Chantagistas policiais levianos
Vamos humanizá-los
Dar-lhes as mãos com
Partir para o campo de batalha juntos
Estamos todos no mesmo barco
Na mesma canoa furada
Temos mais é que nos unir
A nos ajudar uns aos outros
Chegou a hora da consciência nacional
Olhar para essas classes
Desprezadas pela sociedade pelo sistema
Esmagados ridicularizados por todos
Mais respeito às prostitutas
Aos homossexuais também
Mais dignidade mais justiça
Quero entrar na luta
Para que possam conseguir
A tão almejada independência

Duas coisas; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0220802012.

Duas coisas
Dois fatores
Que faço questão
De deixar marcados
De deixar grifados
Na minha luta
Na minha batalha
Na minha guerra
São as árvores os índios
Defendo-os até debaixo d'água
Defendo-os até enterrado
Gostaria muito
De poder despertar
O interesse da nação
Para esses dois fatores
As árvores estão a ser podadas
Cortadas destruídas
Não se pode mais
Permitir tal crime
Contra a natureza
Os índios estão a ser exterminados
Expulsos das terras explorados
Manipulados e traídos
Enganados iludidos
Violentados ultrajados
Também não se pode mais
Continuar a permitir
Que façam tais coisas
Com os nossos índios
É preciso parar urgentemente
É preciso parar agora
Chega de cortar tantas árvores
Chega de destruir a natureza
Chega também
De exterminar destruir os índios
De matá-los de trucidá-los
Por isto que queria
Que a nação o povo inteiro
Entrassem na defesa total
Das árvores dos índios
É uma luta que não é só minha
Mas de todo o mundo
Proteger as árvores os índios

Pobre árvore; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0220802012.

Pobre árvore
Quem foi que cortou-te?
Quem foi que fez isso contigo?
Aposto que foi um louco
Aposto que foi um doido
Um maluco perdido
Um inimigo das árvores
Pobre árvore
Quem foi que derrubou-te?
Quem foi que matou-te?
Aposto que foi um neurótico
Aposto que foi um hipócrita
Um mentiroso imbecil
Um paranoia maníaco
Um débil mental debiloide
Garanto-te pobre árvore
Que quem cortou-te
Não foi um homem
Não foi um ser humano
Quem derrubou-te
Não sabia o que estava a fazer
Era um ignorante
Um pobre diabo qualquer
Sem hospício sem cadeia
Sem inferno sem céu
Sem vida sem nada
Pobre árvore
Perdoa quem fez isso
Era um ser
Muito pior do que tu
Era um nada
Pobre árvore
Cortada pela raiz
Crianças
Faço-vos um apelo
Ajudais a proteger as árvores
Ajudais a conservar as árvores
Pobre árvore
Sem ninguém para defender-te
Agora restam as crianças
Pois os homens não prestam mais

Não sei porque; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0220802012.

Não sei porque
Mas estou a achar
Estou a encontrar
Uma dificuldade imensa
Para poder escrever
Não sei o que aconteceu
Minha cabeça dura
Não quer mais funcionar
Sumiram minhas ideias
Evaporaram meus ideais
Voaram meus pensamentos
Perderam-se minhas frases
Engoli minhas palavras
Agora fiquei nu
Agora fiquei pelado
Agora fiquei morto
Agora fiquei podre
Arruinei-me de vez
Quando penso que despertei
Aí foi que vi
Que continuei a dormir
Que continuei a sonhar
Que tudo era sono
Pesadelos delírios
Que era sonâmbulo
Falava quando dormia
Falava mesmo mudo
Sem palavras sem sons
Não saí da ilusão
Continuei a enganar
A me enganar ao enganar as pessoas
Traía-me à toda hora
Perdia-me não me encontrava
Esmoreci de verdade
Caí novamente de cara
No mesmo estado de letargia
A amnésia se apoderou de mim
Não me lembro de mais nada
Não me recordo de mais nada
Perdi a memória
Bem no meio da rua

Quero deixar bem claro; Varanda da Marechal Marques Porto; RJ/SD; Publicado: BH, 0220802012.

Quero deixar bem claro
Que tomem isto
Como uma advertência
Ou como uma ameaça
Mas quero deixar bem claro
Bem claro explícito:
A partir de hoje
Vou querer mais respeito
Com a minha pessoa
Afinal de contas
Também sou gente
Sou humano
A partir de hoje
Vou querer ser livre
Dono do meu destino
Do meu próprio nariz
Quero todos os meus direitos
Tenho minha razão
Sou lúcido tenho noção
Quero ser entendido compreendido
Quero ter segurança tranquilidade
Quero ter os mesmos direitos
Que todo mundo tem
Não vou mais ficar para atrás
Não vou deixar
Mais ninguém passar por cima de mim
Não vou ser mais submisso
Nem vou ser mais humilhado
Nem explorado nem oprimido
Vou me libertar de todas as correntes
Vou me libertar por completo
É por isso que 
Quero deixar bem claro
Tudo que disse aqui
Estou disposto mesmo
A matar a morrer
Se preciso for
Para alcançar meus ideais
Para impor minhas ideias
Agora é sério para valer
Que fique bem claro
É o que tinha para dizer

Dizes bom-dia; Varanda da Marechal Marques Porto; RJ/SD; Publicado: BH, 0160802012.

Dizes bom-dia
Dizes boa-tarde
Dizes boa-noite
Dizes até logo
Dizes até já
Que tragédia
Meu Deus do céu
Dizes adeus
Dizes adeus para mim
Morri
Apodreci
Podes me enterrar
Não vivo mais
Não existo mais
Podes acabar comigo
Destruas-me
Exterminas-me
Não quero mais
Saber de nada
Aprender nada
Nem quero mais nada
Dizes que ias ali
Que voltavas logo
Dizes que não demoravas
Dizes que me amavas
Queo teu coração
Era todo meu
Mentiste
Ai me iludiste
Até me enganaste
Mulher para mim acabou
Sexo para mim acabou
Amor para mim acabou
Tudo por tua causa
Tudo por causa de ti
Que me abandonaste
Que me deixaste
Que me mataste
Que me arruinaste
Que me cegaste
Que me secaste
Que me sujaste
No fim me dizes adeus

Eus; Varanda da Marechal Marques Porto; RJ/SD; Publicado: BH, 0160802012.

Eu protesto eu participo
Eu reclamo eu evoluo
Eu falo eu forço
Eu grito eu metamorfoseio
Eu contesto eu quero
Eu berro eu posso
Eu agito eu faço
Eu aciono eu escrevo
Eu levanto eu labuto
Eu revoluciono eu acordo
Eu transformo eu vivo
Eu mudo eu morro
Eu exijo eu louco
Eu sugiro eu doido
Eu opino eu maluco
Eu ensino eu esclareço
Eu aprendo eu pergunto
Eu experimento eu respondo
Eu manifesto eu questiono
Eu conclamo eu raciocino
Eu exclamo eu penso
Eu clamo eu ajo
Eu chamo eu sou
Eu unifico eu não corro
Eu brigo eu fico
Eu luto eu liberto
Eu bato eu entro
Eu apanho eu respeito
Eu ganho eu abrigo
Eu perco eu suspiro
Eu elevo eu aspiro
Eu enervo eu invejo
Eu imponho eu orgulho
Eu exponho eu mobilizo
Eu deponho eu mortifico
Eu imploro eu discurso
Eu choro eu projeto
Eu pranteio eu banco
Eu lamento eu canto
Eu argumento eu danço
Eu explico eu manso
Eu informo eu travo
Eu acredito eu amasso
Eu confiro eu caço
Eu desconfio eu asso
Eu não espero eu traço
Eu anseio eu passo
Eu laço eu converso
Eu dialogo eu ligo
Eu digo eu vingo.

As costas do meu pai; NL, 0120202010; Publicado: BH, 080502010.

As costas do meu pai
Sentado estava meu pai na maca
Do hospital da poltrona o
Observava estava de costas
Para mim sem camisa as costas
Do meu pai eram eretas os ombros
Eram altos mas não vi os sinais
De tantas chibatadas que levaram
Os antigos negros relhados nos
Pelourinhos a cabeça era de touro
De touro negro não sei de quais
Rincões d'África de pé era o
Verdadeiro Colosso de Rhodes dominava
Toda a região o tronco era
Feito de árvore que o vento não
Balançava as canelas finas porém
De ferro raramente vistas canelas
De capoeirista Firmo a estrutura 
De gigante de Maratona porte de
Atleta grego venerado igual a
Um deus do Olimpo as costas do
Meu pai cravei nas memórias das
Minhas retinas nas lembranças das
Meninas dos meus olhos foi a
Única vez que passaram por meus
Cristalinos nunca tinha visto
Meu pai desnudo nunca o vi em
Trajes mais sumários ou sem a
Camisa impressionei-me com
As suas costas tentei decifrar ali
Seus mistérios segredos medos
Suas histórias berços destino
Não o tenho mais entre nós
Eu os meus eus ficamos órfãos
Daquelas costas de Apolo negro de
Muro das lamentações dos nossos conflitos

Conto os meus próprios contos; NL, 0180202010; Publicado: BH, 080502010.

Conto os meus próprios contos
Para que ninguém os precise
Contar dos contos doutros não
Sei falar não adiantam tentar perguntar
O fulano o beltrano o sicrano? dos tais
Não posso dissertar é duro tentar
Corrigir meus erros matar meus vícios
Encobrir minhas faltas como posso
Tomar conta dos alheios ou vigiar os
Semelhantes? quero me aperfeiçoar em
Outra arte numa arte de nível bem
Superior universal infinita que
Eleve-me além do além do além
Preciso não ser descuidado com o
Descuidista pois pode aproveitar
Levar meu arado aí ai de
Mim como lavrarei minhas terras?
Como plantarei meu pomar ou
Encherei meu berçário de filhos?
Se perder o ancinho a enxada a pá
O regador meu jardim ficará
Desflorido os besouros não terão onde
Pousar as joaninhas voarão em vão
As abelhas nem pólen terão é por
Isso a pensar nessas coisas que
Não cuido das cousas doutros
Chamam-me de egoísta chamam-me
De vaidoso ambicioso nada disso
Sou não preocupo-me com os
Adjetivos pois sou cheio de substantivos
Não preocupo-me para não parecer
Medíocre tenho receio da mediocridade
Guardo meus contos bem guardados
Para evitar traças maus olhados

Era um dia que nunca chegava; NL, 0240202010; Publicado: BH, 080502010.

Era um dia que nunca chegava
Se tornou noite uma noite que
Nunca se tornou dia chovia
Tão torrencialmente até dentro do
Meu coração era uma chuva ácida
Que me desfolhava a pele
Derrubava os meus cabelos fiquei
Sem pelos todo em carne viva
As solas dos meus pés foram destruídas
Deixava rastros de sangue
Por todo lugar percorrido pelo meu
Fantasma vermelho procurei um
Lençol para me esconder pois
Assustava a todos inclusive aos
Cegos que encontrava nos entraves
Que queres tu? perguntavam-me
Os mudos passavam por mim
Como se eu fosse um ser de ficção
Cientifica um criador de efeitos
Especiais em 3D um desenho animado
Para ganhar um oscar da academia
De cinema surrealista espantei
Dali cubista desdenhei Picasso
Mirei Miró contei a história aos 
Surdos a todos aqueles que não 
Sabiam o que diziam nem o que 
Faziam não inventei novidades compilei 
Do céu as estrelas amarrei-as ao infinito
Pois estavam soltas corriam para
Lá para cá algumas caíram dentro
De mim enfim a chuva parou
Em meu coração raiou o sol do
Meio-dia vi Zarathustra a passar
De costas não retirei as sandálias
Pois já estava descalço sem as correias
Que prendiam as solas dos meus pés

terça-feira, 30 de outubro de 2018

A evolução da espécie não passou por mim; NL, 0190202010; Publicado; BH, 090502010.

A evolução da espécie não passou por mim
Darwin não me catalogou nem conheci o 
Processo de seleção natural sou um animal 
Em extinção mesmo sem ser catalogado 
Ou conhecido no mundo da biologia
Biólogo nenhum conseguiu descobrir em
qual infinito sinto-me estranho sei que sou estranho
Esquisito gostaria dum estudo a 
Respeito de mim de conhecer uma tese
Para poder me conhecer eu mesmo não 
Sei me desvendar vivo enraizado no 
Meu quintal cisco no terreiro piso nos 
Seixos das estradas me perco nas 
Pradarias encosto-me nas encostas
Olho o musgo as folhagens as
Torres das igrejas as ruas vazias com
Suas vivas poesias meus rastros já
Se dissiparam no vento meus restos
Caem dos outeiros tais quais as moinhas
Sinto-me uma erva daninha
Um ser sentado ao rés-do-chão
Com a poeira a cobrir-me da cabeça
Aos pés magoados permaneço 
Entorpecido então não me movo não 
Sei se é o efeito da cicuta minhas pernas
Estão dormentes não as sinto mais
Tento arrastar-me pareço uma
Serpente minha língua bifurcada está
Áspera de víbora de cobra tento fazer
Com que a Eva morda minha maçã
Cicio quando tento falar ao esmagarem
Minha cabeça com o calcanhar não
Sentirão o sangue de tão frio que estará

Quem entende nesta vida a vida? NL, 0110202010; Publicado; BH, 090502010.

Quem entende nesta vida a vida?
Cada filósofo desenvolve seu 
Pensamento de acordo com a
Própria liberdade cada religião criou
Um Deus prega que Ele é melhor
Do que o Outro no fundo cada
Um prende-se mais ao que tem
Fazem suas orações suas rezas cantam
Seus cânticos mas a sua salvação são
Os seus bens quanto mais têm mais
Querem os templos estão cheios
Os corações vazios as sinagogas
As mesquitas os mosteiros conventos
As mentes cheias de ventos armas contra
Os que são do contra bombas em
Mercados sabotagens terrorismos
Quem entende esta vida cheia de
Perigo? no céu caberá tantos
Bilhões de almas? no inferno
Quantos bilhões de almas caberão?
Quero entender não quero
Salvação quero uma solução
Para colocar um fim na aflição
Dos que estão abandonados pelos que
Têm uma filosofia ou uma religião
O pão quem dividirá o pão? a fome
Não é aplacada por oração minha
Mesa é farta falta a mesa do meu irmão?
O meu semelhante que tem a
Mesma imagem projeta a mesma
Sombra no peito não tem
Coração? merece ser torturado? sofrer
Violências? morrer excomungado?
Humanidade ser humano raça humana
Aonde estamos a ir? pretendemos ficar
Inertes sem entender a vida?
A morte então como entenderemos
A morte que é o mais certo no
Nosso futuro? quem a entenderá
No dia em que a morte chegar a
Perguntar quem entendeu
Nesta vida a vida?

É o que sei fazer; NL, 0120202010; Publicado; BH, 090502010.

É o que sei fazer
Trocar as palavras de lugar usar os
Sinônimos os antônimos abusar dos
Adjetivos os substantivos são poucos
As qualificações menos ainda as mensagens
Antigas todos exploraram fico
Aqui a repetir os erros os defeitos
As faltas quem procura novidade não
Encontra a realidade é rara
A verdade cada um faz dela a sua
Mentira um quer ter no menor tempo
Possível cem bilhões de dólares
Quero mais quero o espaço do universo
Todo preenchido de versos que meu
Nome nunca entre na relação da
Forbes na da Fortune busco
Entrar em transe para meditar concentrado
Saber que logo em seguida
Esquecerei a lição que aprendi com
A vida meu peito é uma rua vazia
Quem olha para uma rua vazia
Às vezes consegue enxergar muitas coisas
Uns a poesia não enxergo
Um palmo à frente do nariz
Poesia sobre poesia nada mais se diz
Os poetas estão mudos outros surdos
Uns como eu cegos espero que meus
Outros sentidos se aprimorem para
Que não sinta tanta falta deste
Que estou para perder se minha
Avó estivesse viva pediria para
Benzer-me rezar para mim igual
Fazia quando eu sofria de
Cobreiro ou quebranto espinhela caída
Quem sabe minha avó não daria 
Um jeito nesta minha cegueira para
As coisas verdadeiras ave maria minha avó ave maria

Tudo acabou que acabei; NL, 0110202010; Publicado; BH, 090502010.

Tudo acabou que acabei
As cinzas o vento levou para
Bem longe de mim apenas as sombras
Aprisionadas nas pedras dos rochedos
As gotas de suor absorvidas pelas
Pedreiras as marcas dos meus pés
Nas pradarias das encostas que eu
Via os outeiros os musgos as folhagens
Meus sonhos dissiparam-se não criaram
Raízes nas hortas minhas hortaliças
Não alimentaram bocas famintas
Os lobos que se escondiam nas estepes
Queriam minhas carnes as hienas
Riam para mim de olhos em minhas
Carniças quebrar meus ossos com os
Dentes os leõezinhos morriam de fome
Eu chorava sempre fui chorão
Sempre soube chorar rir me
Deixava meio desconfiado com
Cara de histrião ria amarelo
Longe da graça quem achava graça
Do que eu achava? ria um riso
Que espantava os morcegos os
Orelhudos captavam o ciciar do meu
Sorriso revoavam em bandos
Ao redor de mim tal como se
Estivessem em macabro festim
Índios curandeiros bebiam cauim
Xamãs incorporados espetavam vudus
Pajés falavam mantras em aramaico
Pretos velhos cachimbavam atabaques
Soavam a África inteira batucava
Dentro de mim eram escravos a arrastar
Correntes pelourinhos ensanguentados
Escravas estupradas no pisador
Sangue misturado ao suor
Este é todo o tempero da minha dor

Carta para minha mãe, Zuzu Angel

Por Hildegard Angel, em seu blog:

Minha mãe amada. Sua coragem e seu espírito de luta nos fazem muita falta nesta hora, neste dia. Imagino como a senhora estaria empenhada, batendo de porta em porta, distribuindo santinhos e mensagens, abordando as pessoas nas ruas ou onde quer que estivessem, para repedir a ladainha de seu sofrimento e de nossa tragédia, nos anos da ditadura no Brasil.

Sei o quanto a senhora prezava a democracia, a liberdade de se expressar, de ir, vir e se reunir. De pensar e de estudar. De criar. Tudo que nos foi negado por aqueles anos de escuridão, que também nos negaram as vidas de Stuart, seu filho, meu irmão, de Sônia, sua nora, minha cunhada, e sua própria vida.

Nada mais disso, no entanto, é lembrado e lamentado por grande parte dos brasileiros. Os que não viveram e muitos dos que viveram aquele período assustador. Tenebroso. Nosso país adorado, e que a senhora tanto louvava em suas roupas, se desumanizou. As pessoas não valorizam e prezam a vida como antes. Elas assistem à espetacularização da violência real, pelos noticiários da TV, como assistem aos filmes com psicopatas na programação das noites de segunda-feira.

Tudo passou a ser trivial em nosso país. Decepar, enforcar, asfixiar, estuprar, toda e qualquer forma de violência, as mais perversas, se tornaram trivialidades.

O pensamento solidário, aquele de olhar a todos como irmãos, que Jesus Cristo trouxe à Terra, se extinguiu, também e principalmente, entre os próprios cristãos. De nada adiantam os apelos quase diários do Papa contra o fascismo. Não o escutam. E os que ouvem sua voz, o criticam. Ser caridoso e piedoso é visto como fraqueza e impostura. Cada um recria o cristianismo de acordo com as conveniências pessoais. Até os religiosos de batina.

Olho em minha volta e não vejo pessoas. Não são humanos os que se deixam dominar pelo desprezo ao próximo. Os que aplaudem e uivam ao chamado do ódio, da perversão, da indignidade.

Como se o grupo de torturadores e assassinos daquele tempo nefasto tivesse se replicado e multiplicado em milhões de brasileiros. Todos sedentos por sangue, cada um de arma na mão. Com um fuzil AR-15 pra chamar de seu.

Ligo a televisão e vejo, chocada, um tresloucado invadir uma sinagoga em Pittsburgh e fuzilar inocentes. O atirador gritou “todos os judeus devem morrer!”. Assim como agora gritam “30 mil devem morrer”, e que o estado brasileiro não deve gastar com os pobres, pois eles não servem pra nada, só pra votar.

O massacre foi no país do armamento liberado, os Estados Unidos da América, onde as crianças levam armas aos colégios e dizimam seus colegas de turma. Modismo bárbaro, que vemos, aos poucos, introduzido em nosso Brasil, ainda com pequena frequência, ainda sem as armas liberadas. E serão até para as crianças, esse é o plano.

Tínhamos uns vizinhos de prédio, praticantes de tiro exímios, campeões, que por descuido ou distração deixaram uma arma ao alcance do filho pequeno. E vimos o dia em que chegou a caminhonete fúnebre para levar o corpo do amiguinho, assassinado por disparo involuntário da criança. A família fechou-se em luto e grande sofrimento. Não era esse o seu objetivo, mas foi essa a sua consequência.

Minha mãe, meu desolamento e minha aflição são tão grandes que me fogem a coerência e o raciocínio. Ah, se você estivesse aqui, para se vestir de preto e sair por aí, clamando seu infortúnio, exibindo o desespero da mãe que perde um filho e nada pode fazer. Nem reagir, nem denunciar, nem implorar por seu corpo. Pelo menos isso, nós conquistamos nesses últimos 30 anos, e às custas das mortes de tantos nos 21 anos que os precederam.

Naquele tempo em que sequer se podia chorar os mortos, você foi se juntar a eles, por desobedecer a “ordem de comando” do silêncio geral. Morta por chorar, por implorar e por fazer seu grito repercutir até ser escutado no estrangeiro.

É esse tempo que querem de volta. Movidos pelo temor da violência, votam para institucionalizar essa mesma violência, dando a ela poder de matar a todos, indiscriminadamente, sem processo, sem controle. Com medalha de honra espetada na farda.

Mãe, não tenho a sua capacidade. Tenho procurado fazer o que me é possível, escrever, informar, debater. E sempre chorando muito, pressentindo a tragédia que está prestes a se abater sobre todos nós.

Fui ontem à gruta de São Judas Tadeu. Hoje é aniversário do santo. Acendi uma vela, não pelos meus doentes, pelo Brasil. Ele está mais precisado. Por favor, reze por ele. Quem sabe aí onde está suas preces sejam mais escutadas do que as nossas. Do que as do Papa Francisco.

Te amo, mãe, Hilde

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Jurei não escrever de novo em vida; NL, 0110202010; Publicado; BH, 090502010.

Jurei não escrever de novo em vida
Só após a morte se tiver sorte psicografado
Por alguém que tenha a mediunidade
Não tive vida em vida todo dia
Conheci a morte nenhum dom azar
Rondava-me me escondia
Sempre me achava batia em minha
Porta meu coração disparava
Possuído pelo temor agonizava
Vivia em ansiedade agonia
Buscava o amor de alguém ninguém
Nunca me queria meu peito era brasa
Um inferno cheio de perturbação
Detonava toda oportunidade que buscava
Minha mão agora me cansei jurei
Depois de milhões de letras palavras
Dei a palavra de não escrever
De novo em vida após a morte quando
Um médium contactar o meu espírito
Querer alguma mensagem de mim
Psicografar tudo que deixei de
Falar quando era vivo quebrei a jura
Desrespeitei o compromisso no momento
Deixo estas linhas que depois irão para o lixo
Meus olhos quase não enxergam penso
Que brevemente estarei totalmente cego
Talvez seja esta a única maneira
Dalgum dia encontrar a luz
Tateei muito pelas trevas
Senti o frio que sente o cadáver
Agora neste retorno inglório com
Este lamento refletido de lamuria
Estes versos de sangue coagulado
Tudo porque não sei ser dissimulado
Quando mando mensagens doutro lado