sexta-feira, 15 de julho de 2011

Casimiro de Abreu, Sempre Sonhos!...; BH, 0150702011.

Se eu tivesse, meu Deus, santos amores,
Eu m'erguera cantando essa paixão,
E atirava p'ra longe - sem saudade -
Este véu que me cobre a mocidade
De tanta escuridão!

Eu que sou como o cardo do rochedo
Quase morto dos ventos ao rigor,
Encontrara de novo a minha vida,
O sol da primavera e a luz perdida,
Nos braços desse amor!

Minha fronte, que pende sofredora,
Acharia, meus Deus, inspirações,
E o fogo, que queimou Gilbert e Dante,
Correria mais para a mais constante
Na lira das canções!

No mundo tão gentil dos devaneios
Minh'alma mais feliz saudara a luz,
E apagara, Senhor, num beijo puro
A imensa dor da perda do futuro
Que a morte me conduz.

Por ela eu deixaria a voz das turbas
E esta ânsia infeliz de glória vã;
Na vida que nos corre tão sombria
Eu seria, meu Deus, seu doce guia,
E ela - minhe irmã!

Eu velara, Senhor, pelos seus dias,
Como a mãe vela o filho que dormiu:
Se um dia ela soltasse um só gemido,
Eu iria saber porque ferido
Seu seio assim buliu!

Como à sombra das árvores da pátria
Se embala a doce filha dos tupís,
A sombra da ventura e da esperança
Embalara, meu Deus, essa criança
Nos cantos juvenis!

Como o nauta olha o céu da primavera
Eu, sentado a seus pés, ébrio de amor,
Espreitara tremendo no seu rosto
A sombra fugitiva dum desgosto,
A nuvem duma dor!

Eu lhe iria mostrar nos imos d'alma
Outro mundo, outro céu, outros verguéis;
Nossa vida seria um doce afago,
Nós - dois cisnes vogando em manso lago,
 - Amor - nossos batéis!

Se eu tivesse, meu Deus, santos amores,
Eu deixara este mor da glória vã;
Nesse mundo de luz, doce e risonho,
A pudibunda virgem do meu sonho
Seria minha alma!

Nenhum comentário:

Postar um comentário