jamais poderia imaginar que um dia viveria sem sonhar
viver sem sonhar é o mesmo que morrer
então não sonho se não sonho não vivo
se não vivo sou um morto um rio morto
um lago morto um mar morto talvez até
uma toupeira morta uma marmota morta
uma doninha a devorar ervas uma hiena
a espera do arcabouço pecaminoso os restos
de carcaças de carniças as sobras das sucatas apodrecidas
os ossos descarnados dos esqueletos enferrujados
o sorriso da caveira do lagarto
tudo fruto do pesadelo do desespero
paisagens de agonia passageiros da angústia
pacientes da ansiedade mais tarde
desperto da letargia nesta elegia
canto um réquiem destilo um descanse em paz
sem os acessórios de mortalhas
velas ladainhas choros remorsos
não fiz o que faz o bom
não quis o que quer o bem
então amém amem que não amei
ninguém nem a mim mesmo
como se amassa a mim mesmo
só amassei o destino neste bolo
de desatino malino desde de menino
levado em altar com água benta na cabeça
crismado batizado que munca deixou de ser pagão sismado
BH, 0290902023; Publicado: BH, 0170102024.
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