quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

jamais poderia imaginar que um dia viveria sem sonhar

jamais poderia imaginar que um dia viveria sem sonhar

viver sem sonhar é o mesmo que morrer

então não sonho se não sonho não vivo

se não vivo sou um morto um rio morto

um lago morto um mar morto talvez até 

uma toupeira morta uma marmota morta

uma doninha a devorar ervas uma hiena 

a espera do arcabouço pecaminoso os restos

de carcaças de carniças as sobras das sucatas apodrecidas

os ossos descarnados dos esqueletos enferrujados

o sorriso da caveira do lagarto

tudo fruto do pesadelo do desespero

paisagens de agonia passageiros da angústia

pacientes da ansiedade mais tarde

desperto da letargia nesta elegia

canto um réquiem destilo um descanse em paz

sem os acessórios de mortalhas

velas ladainhas choros remorsos 

não fiz o que faz o bom

não quis o que quer o bem

então amém amem que não amei

ninguém nem a mim mesmo

como se amassa a mim mesmo

só amassei o destino neste bolo

de desatino malino desde de menino

levado em altar com água benta na cabeça

crismado batizado que munca deixou de ser pagão sismado


BH, 0290902023; Publicado: BH, 0170102024.

Nenhum comentário:

Postar um comentário