pois tenho horror à luz que
fere minhas retinas turva meus
olhos por isso apago a luz do quarto
a luz do banheiro a luz da cozinha
o barracão na boca da favela mergulha
na penumbra da solidão das trevas que
baixam nuvens negras que pairam na
claridade do dia tudo se transforma
em obscuridade não se enxerga um
palmo à frente do nariz se sêneca me
visse hoje com certeza continuaria a
gritar para mim luz luz luz no silêncio
ouço o eco das vozes dos fantasmas
o arrastar das correntes os gritos
assobios choros sorrisos gargalhadas
os fantasmas fazem festas festins
nas cavernas dentro de mim
o lugar mais parece dum abexim
das terras da abissínia das antigas
florestas negras na qual a luz não entra
por nada já até acostumei a não usar
os olhos nem os abro mais quando
vou à rua só de óculos de soldador
para não ser incomodado pela
claridade do dia mas um dia se
merecer na esperança de viver os
restos dos meus dias mesmo que
sofra com a dor um milagre poderá
trazer-me de volta à luz do amor assim
além de viver poderei até de novo nascer
BH, 0601002023; Publicado: BH, 0190202024.
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