Já parei de olhar para essas crianças que passam por mim
A estender a mão a pedir uma esmola um pedaço de pão
Parei de olhar essas mães que não têm nos peitos o leite
Suficiente necessário para alimentar o filho não olho mais
Para os recém-nascidos que são esquecidos em sacolas de
Supermercados ou em lixeiras de edifícios de luxo escadas
De incêndio já parei de olhar para os menores de rua os
Adolescentes delinquentes maltratados torturados
Assassinados seviciados nas dependências da FEBEM
Não olho mais para as crianças exploradas pelos pais
Pelo país nas frentes de trabalho escravo nos meios dos
Catadores de lixo dos bolsões de miséria parei de olhar
Para os meninos meninas que vivem longe dos bancos
Das merendas escolares os Brasileirinhos da Rocinha
As Martas do Dona Marta outros que são arrebanhados
Desde a tenra idade pelo tráfico de drogas o vício não
Olho mais para meus olhos que são um deserto meu
Olhar é uma pedreira de iceberg um abismo entre meus
Olhos o quadro atual que vejo existem cordilheiras de
Montanhas precipícios morros picos intransponíveis já
Decidi não passa mais pelo meu ângulo de visão o
Abuso sexual contra as crianças a violência o extermínio
A agressão o espancamento já parei de olhar por essas
Vítimas desta sociedade desequilibrada injusta não olho
Mais para essas prostitutas infantis agora quero olhar é
Para a burguesia política religiosa quero olhar é para a
Elite representativa para o senado a câmara dos deputados
Quero olhar é para a sede da presidência da república a
Cúpula de ministérios que pululam na mordomia quero
Olhar é para os banqueiros empresários os mega
Especuladores os sonegadores impunes só quero olhar
Agora é para a ciranda financeira os navegadores na internet
Seus derivados os usuários da telefonia móvel a modernidade
Quero olhar é para o futuro fazer igual ao representante do
Povo trabalhador brasileiro que disse na festa de fim de ano
Que enquanto repórteres fotógrafos apanhavam da polícia
Do exército que deixasse isso para lá falasse em coisas boas
Que era época de festas de comemorações não quero mais
Olhar para quem ganha salário mínimo é aposentado
Vagabundo só vou olhar agora para aquele que ri enquanto
Tira o solário dos trabalhadores acaba com a aposentadoria
Dos aposentados vende a preço de bananas as nossas riquezas
Empresas entrega os nossos minérios as nossas energias já
Parei de olhar por este povo que vive na ilusão do carnaval
Do futebol não olho mais para este povo sem perspectivas
Esperança confiança que tem que buscar a fé a luz na doação
Dos dízimos à Igreja Universal do Reino de Deus não olho
Mais para esses doentes que correm aos postos de saúde
Com receitas nas mãos voltam com as mãos vazias sem os
Remédios não olho mais para esses que vão às farmácias
Que mais parecem supermercados mercearias de remédios
De droga onde o paciente não tem vez está nas mãos dos
Laboratórios das grandes multinacionais dos remédios que
Nunca servem para aplacar a dor ou curar as doenças do
Afligido agora só olho para os chiques dos famosos os
Que vivem na mídia da mídia para a mídia só olho para os
Sadios bonitos arianos brancos de olhos azuis cabelos lisos
Bem tratados já parei de olhar para aqueles que sofrem
Com o preconceito racial sexual social parei de olhar para a
População de rua para os que vivem debaixo das marquises
Sem tetos sem um lar sem casa para morar sem terra parei de
Olhar também para os que não têm trabalho para cultivar vida
Melhor só quero olhar agora é para os latifundiários os
Madeireiros os que de motosserra em punho põem abaixo
Milhares de milhares de hectares de mata virgem expulsam os
Índios das aldeias de reservas tomam as terras dos agricultores
Pobres plantam maconha com o apoio do governo que nunca
Tivemos que sempre nos enganou que nunca olhou para nós
Já parei de olhar agora só vou olhar como se estivesse a olhar
Para uma poça de vômito um monte de fezes um cadáver em
Decomposição não olho mais para os problemas os desequilíbrios
Sociais olho agora para os causadores dos efeitos colaterais olho
Agora para aqueles que concentram em suas mãos a renda o
Dinheiro distribuem ao povo os restos das sobras das mordomias
Dos banquetes das orgias lucram com a dor do povo lucram com
As lágrimas com o choro as lamentações lucram com a fome sede
Com a violência a miséria lucram com a desgraça a pobreza o
Abandono lucram com tudo com as mazelas as sequelas da seca
Das enchentes de toda a falta de estrutura que empurra o povo para
O abismo sem fim empurra o povo para longe do lazer da felicidade
Empurra o povo para a morte precoce ara a ignorância a falta de
Educação saúde cultura toda infraestrutura que poderia deixar por
Herança um pouco de ar puro nos pulmões estourados feridos
Manchados por toda poluição causada por aquele que só sabe ver
Lucro ganho não sabe doar nem ceder não sabe oferecer já parei de
Olhar não quero ficar com pena não quero ficar deprimido nem me
Indignar agora só vou olhar para quem não me olha olhou para mim
Não olho mais vou virar o rosto para o lado olhar lá doutro lado a
Virar a face ao avesso vice-versa se estiver na face direita viro para
A esquerda se estiver na face esquerda viro para a direita para mim
Já acabou esta angústia extrema acabou esta agonia terminal sem razão
Em pior situação estão os leõezinhos os filhotes que morrem de fome
Ou devorados os passarinhos que caem dos ninhos em pior situação estão
Os animais no meio das queimadas ambientais assassinas os peixes que
Estão encalhados nos rios que estão a secar os peixes presos nas lamas
Nas água poluídas sem o oxigênio para a sobrevivência mudei o meu
Olhar para outra direção para outra meta outro rumo de situação mudei
Meu olhar de mão de sentido não fico mais constrangido compungido
Abatido desesperado não fico mais renegado a querer a cobrar soluções
Resoluções a querer a cobrar respostas transformações revoluções é
Deixar tudo como está pois está bom demais não me preocupo por não
Ser capaz por ser incompetente inoperante impotente não me preocupo
Se não vou avante se não acredito nem tenho fé a casa já caiu o muro
Ruiu a lava a lama do vulcão frio invadiu a sala o quarto a cozinha o
Quintal não ficou nada para aproveitar a minha vontade era a de só
Tomar um banho para tirar a lama sair nu igual São Francisco ir
Para o campo conversar com as pedras os passarinhos nada mais temos
A falar com os vivos o que interessa agora são os mortos os cadáveres
Os defuntos se não encontramos respaldo amparo no meio dos vivos
Devemos procurar no meio dos mortos os mortos têm a fazer que os
Vivos não fazem pois os vivos estão mais mortos que os próprios mortos
Pretendo sair do meio dos vivos procurar uma oportunidade no meio dos
Mortos os mortos não ateiam fogo em pessoas a dormir debaixo de
Marquises ou bancos de praças os mortos não pleiteiam as aposentadorias
Dos aposentados não abandonam crianças recém-nascidas não fazem a
Guerra e nem fazem a intriga não mentem nem são falsos ilusórios já não
Quero mais estar no meio dos vivos vivo trai mente engana mata rouba
Vivo é a pior coisa que a humanidade deixou aqui na face da terra vivo
Não presta bom só quando está morto vivo bom é vivo morto mas não
Quero matar não vou matar mas com os chamados vivos não pretendo
Mais viver não pretendo mais ser vivo agir igual ao vivo fazer como um
Vivo cansei de levar porrada tapa na cara chute no saco cansei de levar
Botinadas bicudas na bunda cansei de perder o vigor o brio por temor
Por pensar que como um vivo poderia chegar lá no destino da evolução
Mas que nada agora estou mais morto do que nunca nem com o por favor
Volto a pertencer a respirar o mesmo ar dessas pessoas que não sabem amar
Nem viver a vida em paz em harmonia se depois que passar para o outro
Lado para o lado dos mortos não conseguir escrever mais nenhuma frase
De poema vou arranjar uma pessoa para psicografar para mim minhas
Poesias mensagens que não forem tão ruins piegas pobres chinfrins
Por isso que antes preciso enriquecer meu pobre vazio espírito irrequieto
Por isso antes preciso encher a minh'alma tirá-la do vácuo da solidão fazer
Com que doutro lado encontre o espaço dela o respeito a admiração que
Não recebeu em vida aqui no espaço de cá que lá ponha em prática pense
Tudo que não pensou aqui nem soube colocar em prática quando pensava que
Lá a inteligência dela seja louvada tanto quanto a sabedoria o conhecimento a
Mente que aqui nunca funcionou a memória que aqui só falhou a lembrança
Que aqui nunca existiu lá juntamente com a expressão da alma sejam
Sensacionais colossais maravilhosas a mandar frutos flores folhas galhos
Através das mensagens do além do além do além do mais distante confim do
Infinito onde não se tenha conhecimento nem do conhecido o desconhecido
Seja a incógnita a desvendar se falarem para mim que não adianta que na hora
Agá fico com medo que a coragem vai me abandonar que a covardia vai me
Entregar digo que podem falar já sou surdo não posso mais escutar podem
Gritar já não sou mais carne nervos ossos já não sou mais um ente vivo
Faço parte do mundo dos duendes do mundo dos fantasmas dos espíritos
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