às vezes quero crescer
e captar uma frase celestial
ou divinal
ou universal
e às vezes quero agigantar-me
e gerar uma obra abissal
ou um soneto infinito
ou uma poesia bendita
ou um poema abençoado mas
tudo passa a voar à minha frente
e resigo-me à minha insignificância
e às favas os meus intentos
e às minhas tentações
e fluem-se por entre meus dedos
como anéis largos as letras
e as palavras largadas
que o vento em redemoinho
embaralha tudo
e o que era doce azeda-se
e o sonho torna-se pesadelo
e no papel fica-se o desmazelo
dum que tentou se passar por trovador
e é só o que o faz lembrar
que não se tira leite de pedra
e nem sempre o querer é poder
ainda mais quando
se perdeu de nascença a inspiração
e durante a vida a meditação
e com o tempo o discernimento
e a percepção tornou-se aflição
e a intuição uma obscuração
e o lirismo diluiu-se
pois as musas esvaneceram-se
com as tempestades
e os vendavais de vernáculos
nos cenáculos das expressões idiomáticas
nos mosaicos dos desassossegos
dos desassossegados que não cantam
canções aos pássaros que
não declamam cantigas às flores
e que não trovam aos trovões
e nem tecem loas
aos lobos solitários das estepes
e dos cerrados abandonados
crestados pelo sol inclemente
do dia que não serve para ponte
e mata a poesia na fonte
BH, 0140102022; Publicado: BH, 0701102022.
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