é uma guerra entre pai e eu
e é uma guerra surda
e é uma guerra cega
e é uma guerra muda
e em suma
é uma guerra fria
e só não esquenta devido a intervenção de mãe eu e pai não nascemos um para o outro
e sempre quando posso
quero pegá-lo à unha
e quando não fica esperto
acaba por levar umas
e outras
e fico mais chato quando aperta a depressão
e fujo para o meu quarto escuro
e isolo-me
e não quero saber de nada
e quem chega perto
acaba por levar um safanão do nada
sem dó
e mãe é que é o elo
e é como se fosse uma escrava minha
e que me dá banhos
e limpa os meus pés
e corta minhas unhas resignada
como a mulher que lavou os pés de alguém
com as lágrimas
e enxugou com os cabelos
e achei até bonita essa colocação de submissão
e uma coisa que não sou
é submisso
e só se for com muita força
ou à base de sossega leão
e fora disso o meu mundo não cai
e sei que ninguém quer saber de mim
e das minhas coisas mas
é por culpa de mim mesmo
e é que não aceito presenças
e nem carinhos
e nem amor
e ninguém tem consciência da minha existência
e não conto nas estatísticas
e também mando todo mundo se foder
por qualquer motivo
ou sem motivo não importam a ocasião
e a motivação
e às vezes até conforto-me quando capto por
alto que um tal de bolsonaro
é presidente do país
e pelo que ouço falar do cara
parece que é pior do que sou
e isso é um alívio para mim
BH, 0220502019; Publicado: BH, 01801102022.
Puxa, um texto triste e chocante.
ResponderExcluirE não digo isso como crítica. Acho que essa era a intenção do texto.
Excluir